Jair Bolsonaro: "As leis atuais no Brasil estão do lado dos marginais"

Segundo classificado para a presidencial de 2018 nas sondagens espontâneas, aquelas em que o nome dos candidatos não é apresentado, atrás apenas de Lula da Silva, Jair Bolsonaro mostra ao DN porque ganhou a fama de deputado mais à direita do Brasil.
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Adepto de Trump, não se arrepende de ter dedicado voto pelo impeachment a torturador de Dilma nem de ter dito a uma deputada que só não a violava porque ela não merecia.

Já se pode assumir como candidato à presidência em 2018?
Não, não posso, tenho de me definir como pré-candidato, se não levo um processo. É frescura da justiça, enfim. Mas você pode chamar-me de candidato...


Em traços gerais como seria o Brasil com Jair Bolsonaro presidente?
O principal problema do Brasil é económico. Depois de 13 anos de um governo ideológico do PT, ligado a Fidel Castro e outros que tais, devemos abrir o comércio ao bilateralismo. Em traços muito gerais é o que defendo. Durante o governo do populista Lula, e da Dilma também, em vez de nos aproximarmos das economias do primeiro mundo, preferimos investir nas relações com o Mercosul. Como Lula ainda beneficiou do preço das commodities que o Brasil produz, fez uns programas sociais e conseguiu passar-se por santo aos olhos dos pobres. Os pobres, defendo eu, do que precisam é de conhecimento, não de programas sociais.


É do ponto de vista social que as suas ideias se costumam distinguir dos demais. Por exemplo, é contra ou a favor dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo?
Essa pergunta fazem-me sempre quando não querem discutir comigo: se você quiser casar com um Antonio, não tenho nada contra, um governante deve estar sempre do lado da felicidade do seu povo, seja o cidadão hetero, homo, bi ou trissexual, a vida privada dos adultos é com cada um. O que eu não posso admitir é que se distribua, como se distribuiu, o "kit gay" [material escolar distribuído nas escolas em 2011, durante o consulado do então ministro da Educação Fernando Haddad, hoje plano B do PT para as presidenciais em caso de impedimento de Lula]. Você acha bem que se dê material escolar a crianças de seis anos de idade com conteúdo pro-homoafetivo ou contra a homofobia? A homofobia não é um problema no Brasil. Problema é a insegurança, a violência generalizada.

O que defende nessa área?
Preciso do apoio do Congresso Nacional para mudar o Código Penal, daí que eu peça àqueles que me defendem para presidente para votarem também em deputados e senadores com ideias semelhantes às minhas. Hoje em dia um polícia dá dois tiros na via pública e é condenado. Um brasileiro dá dois tiros em casa num bandido e é condenado. O que eu defendo é o "excludente de licitude", um dispositivo para que quem defenda a sua vida não sofra punição porque as leis atuais estão do lado dos marginais. E a insegurança é um assunto que custa muito dinheiro ao Brasil... (...) ... Nomeadamente no turismo. Se vocês, nossos queridos patrícios, quiserem passar férias em Copacabana vão pensar duas vezes por causa da falta de segurança. Um país que tem pantanal, selva amazónica, praias maravilhosas, tudo o que um turista gostaria de visitar, acaba por repelir as pessoas por falta de segurança.

Apoiou publicamente o candidato Donald Trump nas presidenciais americanas. Está satisfeito com a vitória dele?
Eu torci muito pelo Trump, não é novidade para ninguém, e tudo o que ele tem feito não é diferente do que prometeu em campanha: está a defender o seu povo, o seu país.

Pode trazer benefícios sociais e económicos para o Brasil?
Para o Brasil e para o mundo. O mundo estará perdido no dia em que os Estados Unidos virarem à esquerda. E guinaram à esquerda com o [Barack] Obama e iriam guinar ainda mais com a Hillary [Clinton].

Envolve-se com frequência em controvérsias, como quando dedicou o voto a favor do impeachment a Carlos Brilhante Ustra, torturador de Dilma Rousseff, ou quando disse à deputada Maria do Rosário que só não a estuprava porque ela não merecia. Arrepende-se?
Sabe porque eu disse isso? Sabe o que ela me chamou antes? Me chamou de "estuprador". E tudo porque ela estava defendendo o Champinha, um estuprador de verdade de 17 anos que havia violado e morto uma menina de 16 e um menino de 19 [o Caso Champinha, de 2003, resultou na morte de um casal de namorados e na violação desta última numa floresta isolada perto de São Paulo]. Mas como não tinha a idade mínima para ser condenado - 18 anos, no Brasil - iria ficar apenas três anos numa espécie de reabilitação. Eu estava a discursar contra isso, quando ela me interrompeu e chamou de "estuprador", ao que eu respondi "eu não estupro você porque você não merece". Ela chamou-me de "estuprador" e eu, no fundo, chamei-a de "feia".


Mas pode ser punido pelo Supremo Tribunal Federal...
O Supremo Tribunal Federal acusa-me de estimular o estupro das mulheres bonitas, acredita? Se eu a tivesse chamado de "branquela", estaria a estimular o estupro das morenas? Ou se a tivesse chamado de "baixa" estaria a estimular o estupro das altas? Nunca nenhum deputado foi tornado réu pelo que diz em plenário, é para isso que existe a imunidade parlamentar. O Supremo quer fazer isso porque tem elementos lá dentro com um viés de esquerda que me querem impedir de concorrer e de ser presidente em 2018, mais ou menos aquilo que sofre também a [Marine] Le Pen em França.

E quanto a dedicar o voto a Brilhante Ustra, figura ligada à tortura na ditadura militar.
Vamos por partes: falam em golpe e ditadura militares em 1964 mas como é golpe se todo o Brasil queria depor o presidente João Goulart? E como é que existe ditadura com o Congresso Nacional funcionando, dois partidos e não partido único, com o povo tendo liberdade de entrar ou sair do país? Os "esquerdalhas" fugiram do país e só voltaram dois anos depois, após treino em Cuba e na Coreia do Norte, financiados pela União Soviética, e desviaram aviões, lançaram bombas, iniciaram uma luta armada. Felizmente aniquilamos alguns desses elementos, nomeadamente os do Araguaia [grupo guerrilheiro criado pelo Partido Comunista do Brasil entre 1967 e 1974], caso contrário teríamos hoje umas FARC no Brasil. Aos poucos, porém, essa gente começou a galgar posições, como é o caso da Dilma, a vitimizar-se para ganhar votos e a chamar de torturadores heróis nacionais como Brilhante Ustra [falecido em 2015, foi chefe do DOI-CODI, órgão de inteligência e repressão durante o regime militar].

Herói nacional?
Sim. E eu apenas honrei a memória desse herói nacional no meu voto pelo impeachment. Se for eleito presidente, Ustra será elevado a herói nacional e a maioria dos meus ministros será militar, para as pessoas saberem ao que vem o Capitão Bolsonaro.

Em São Paulo

ENTREVISTA ORIGINALMENTE PUBLICADA NO DN A 18/3/2017

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