Aposta. Às quartas-feiras, durante uma hora, num pavilhão do Estádio Universitário (Lisboa) os deficientes visuais já podem praticar judo. Por enquanto, ainda são poucos e estão a experimentar a modalidade, mas a tendência é para crescer a procura. De preferência até aos Jogos Paralímpicos de Londres 2012.É assim desde o início do mês. Às 18.30 no pavilhão 3 do Estádio Universitário, em Lisboa, os quimonos brancos são o primeiro indício de uma aula de judo. Não fosse o facto de as primeiras corridas do treino serem feitas com a ajuda de um acompanhante, não diríamos que esta era uma aula de judo para deficientes visuais. "Encontrei praticamente uma família nova que se respeita e inter-ajuda", revela ao DN sport António Pessoa, de 49 anos, idade que o torna o elemento mais velho dos quatro judocas cegos (ou amblíopes) que por cá treinam todas as quartas-feiras. .O Judo Clube de Sintra - Judokai criou a possibilidade de deficientes visuais praticarem a modalidade, inexistente até então em Portugal. O protocolo da Acapo - Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal transportou-a para Lisboa e aumentou a sua abrangência. Ulisses Silva, que começou em Sintra, teve o primeiro contacto com a modalidade quando participou num campo de treino e foi incentivado por um mestre alemão. "Ele [o treinador] disse- -me: Para quem teve três dias de treino estás muito bom. Deu-me força para continuar." Para além do judo, Ulisses é bicampeão nacional de goalball (modalidade paralímpica) e está a estagiar na Federação Portuguesa de Desporto para Deficientes. As aulas em Lisboa já trouxeram dois novatos para o judo. Elisabete Nunes, amblíope, e Luís David, cego, vieram para "experimentar" e, agora a fazer o 2.º treino, parece que é para ficar. Apesar dos 21 anos, Elisabete já praticou atletismo durante oito anos. Agora divide-se entre o judo e a contabilidade. "As aulas são bastante dinâmicas", refere, como quem procura outra razão: "O judo pode servir mesmo como defesa." Apesar da modalidade estar a dar os primeiros passos em Portugal, os objectivos já estão traçados pelo mestre Fernando Seabra. "Quero que se divirtam, que evoluam e que gostem de fazer judo. Depois, espero prepará-los para integrarem qualquer aula. O último objectivo é ter um atleta nos jogos." Seabra reconhece que este objectivo está mais longe, mas Ulisses Silva é mais optimista. O judoca revelou-nos os desejos para a modalidade: "Implementar a prática de judo para cegos e a participação nos Jogos de Londres 2012." |