Já há mais cremações que enterros em Lisboa

Os rituais estão a mudar: lançar as cinzas no mar  ou colocá-las em urnas biodegradáveis com sementes já é comum. Procura de serviço de 'catering' para funerais está a crescer.<br />
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Pela primeira vez, nos primeiros três meses deste ano, foram mais os funerais em que se optou pela cremação do que aqueles em que houve enterro nos cemitérios de Lisboa. Um sinal de que os rituais estão a mudar. Há cada vez mais funerárias a oferecer novos serviços e cada vez mais portugueses a optar por eles: do catering no velório à música, passando pela reportagem fotográfica.

No ano passado, as cremações já tinham sido 49,9% do total em Lisboa e no último trimestre foram 52,9% dos cerca de 2500 funerais, segundo dados da autarquia. A crescente procura tem levado à abertura de crematórios por todo o País - o número duplicou nos últimos dois anos, com a construção de unidades em Elvas, Sintra, Figueira da Foz e S. João da Madeira.

"A tendência tem sido o aumento da cremação. E as famílias já chegam com ideias bem definidas sobre o que querem", diz Luís Baptista, da Funerária Central do Prior Velho. Além disso, esta escolha arrasta uma série de outras opções, explica Nélson Santos, do Grupo AFA: "Cerca de 50% escolhem lançar as cinzas no mar."

A Servilusa organiza uma média de 50 cerimónias no mar todos os meses. "Algumas pessoas lançam também pétalas de flores... é intimista", diz Paulo Carreira.

Outra ideia que tem tido "grande aceitação", acrescenta o director comercial da empresa, é a deposição das cinzas numa urna biodegradável com terra e sementes de pinheiro. Nas suas 55 lojas vendem cerca de 100 por mês. "O simbolismo toca as pessoas", diz.

Outro serviço que há alguns anos era raro e agora é comum é o catering. "Antigamente era impensável servir água, café e chá num funeral e hoje já é uma oferta comum", diz Luís Baptista. Aliás, é a oferta mais básica, porque começa a ser habitual incluir "bolachas ou bolos".

Nos centros funerários da Servilusa já existem cafetarias. "Desde o ano passado servimos também sopa. Em casos pontuais - meia dúzia por mês - pedem-nos um serviço mais completo", diz Paulo Carreira. "Não se trata de fazer uma festa mas de dar conforto", justifica.

A antropóloga Clara Saraiva desmonta a ideia de que a este hábito foi importado dos EUA: "Em várias regiões de Portugal havia a tradição de fazer refeições depois do funeral. No Barroso [no Norte] faziam-se verdadeiros banquetes." A tradição está a ser recuperada, mas em moldes diferentes - recorrendo ao catering, por exemplo, já que sobretudo nos meios urbanos a morte é entregue aos profissionais, conclui (ver caixa).

Por outro lado, há a tendência de "personalizar o ritual". E as funerárias dão aos clientes o que estes pedem. "Se o cliente pede uma cantora lírica para o velório, como já aconteceu, nós procuramos uma", diz Luís Baptista.

Na hora da despedida, o violino e a harpa são muito apreciados e a Ave Maria uma das músicas mais pedidas, segundo Paulo Carreira. E se a família pretender, a Servilusa oferece ainda uma "reportagem fotográfica ou vídeo". Afinal, "é uma cerimónia de homenagem".

"A morte, tal como o casamento, é um rito de passagem e é normal que haja momento sumptuosos", conclui Clara Saraiva.

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