O chefe da diplomacia israelita, Eli Cohen, disse ontem que "Israel vai continuar a sua guerra contra o Hamas com ou sem o apoio internacional", depois de na véspera a Assembleia-Geral das Nações Unidas ter votado uma resolução a pedir um cessar-fogo humanitário imediato e dos alertas do presidente dos EUA, Joe Biden. Uma mensagem repetida mais tarde pelo próprio primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu: "Nada nos vai parar.".O líder israelita visitou ontem um centro de detenção no sul de Israel, onde militantes do Hamas se encontram detidos e estão a ser interrogados. Segundo o gabinete de Netanyahu, este disse aos soldados no local: "Vamos continuar até ao fim, até à vitória, até à eliminação do Hamas", mesmo diante da pressão internacional. Mais cedo, o chefe da diplomacia tinha reiterado que "um cessar-fogo nesta fase é um presente para a organização terrorista Hamas e só vai permitir que regresse e ameace os residentes de Israel"..A resolução não-vinculativa a pedir um cessar-fogo humanitário imediato foi aprovada na Assembleia-Geral com 153 votos a favor (incluindo Portugal) e apenas dez votos contra, entre os quais o de Israel e dos EUA - que na sexta-feira já tinha usado o seu poder de veto no Conselho de Segurança para travar outra resolução, mas vinculativa. Houve ainda 23 países que se abstiveram..Apesar de os EUA terem votado contra a resolução, houve uma mudança no discurso de Biden. O presidente disse, num evento de campanha na terça-feira, que "a maior parte do mundo" apoiou Israel imediatamente após os ataques terroristas de 7 de outubro. Mas avisou que os israelitas "estão a começar a perder esse apoio pelos bombardeamentos indiscriminados" na Faixa de Gaza..Biden reuniu ontem, pela primeira vez, com as famílias dos oito reféns norte-americanos que estão nas mãos do Hamas. Os familiares têm insistido para que pressione Israel para novas pausas humanitárias, de forma a permitir a libertação de mais reféns. Ainda há 135 em Gaza..O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, estará hoje e amanhã em Israel para encontros com o primeiro-ministro e o presidente Isaac Herzog. Os EUA, tal como o Reino Unido, aprovaram ontem sanções contra pessoas que "representam os interesses do Hamas e gerem as suas finanças no estrangeiro"..Apesar do pedido de cessar-fogo da ONU, Israel prossegue a sua operação na Faixa Gaza, tendo em 24 horas atingido cerca de 250 alvos. Os combates e os bombardeamentos decorrem tanto no norte, na cidade de Gaza, como no sul, em Khan Yunis ou Rafah. Mais de 18 mil pessoas já terão morrido desde o início da guerra, segundo as autoridades de Gaza (controladas pelo Hamas). Entretanto, a chegada das chuvas e do frio tornam a vida dos quase dois milhões de palestinianos deslocados ainda mais complicada..Aziza al-Shabrawi disse à AFP, em Rafah, que tentou, em vão, tirar a água da tenda da família, apontando para os filhos no meio das condições precárias. "O meu filho está doente por causa do frio e a minha filha está descalça. É como se fôssemos mendigos", referiu esta mãe. "Ninguém se importa e ninguém ajuda", acrescentou, explicando que primeiro foi obrigada a deixar a sua casa no campo de refugiados de Jabalia, no norte de Gaza, esteve em Khan Yunis e foi obrigada de novo a fugir para sul, para Rafah, não havendo mais lugar para onde ir..Netanyahu deu conta de que terça-feira foi "um dia duro e doloroso". Em causa não está a votação na ONU ou as palavras de Biden, mas a morte de dez militares israelitas - nove deles numa emboscada na cidade de Gaza. Foi o dia mais mortífero para as forças israelitas desde o início da incursão terrestre, a 27 de outubro. Ao todo, já morreram 115 militares..Segundo as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), os militares estavam a fazer buscas nuns edifícios no Bairro de Shijaiyah quando se perdeu o contacto com quatro soldados, que tinham ficado debaixo de fogo. Quando outros soldados lançaram uma operação de resgate, caíram na emboscada, sendo recebidos com tiros e explosivos. Entre os mortos está o coronel Itzhak Ben Basat, de 44 anos, o oficial de mais alta patente a morrer na operação terrestre..Netanyahu insiste que a guerra irá continuar até à destruição do Hamas, mas o apoio ao grupo terrorista está a crescer na Cisjordânia ocupada - onde também se têm multiplicado as operações militares israelitas. Desde os atentados de 7 de outubro, 271 palestinianos - 69 deles crianças - foram mortos neste território, quase todos pelas forças israelitas..Uma sondagem feita por um centro de pesquisas palestiniano entre 22 de novembro e 2 de dezembro a 1231 pessoas na Cisjordânia e em Gaza (durante a trégua de uma semana) concluiu que 44% dos inquiridos na Cisjordânia apoiam o Hamas, quando em setembro eram apenas 12%. Já em Gaza, o apoio subiu de 38% para 42%. A maioria dos inquiridos (57% em Gaza e 82% na Cisjordânia) acreditam que o Hamas esteve bem em lançar o seu ataque terrorista a 7 de outubro e só 10% dizem que cometeu crimes de guerra..A sondagem revela ainda que 88% defendem que o líder da Autoridade Palestiniana (AP), Mahmud Abbas, deve demitir-se, mais dez pontos do que há três meses, e quase 60% que a própria AP deve ser desmantelada..susana.f.salvador@dn.pt