Crise financeira. Dos seus 320 mil habitantes, 30% querem emigrar.A taxa de inflação atingiu no final de Novembro 17,1% .No porto de contentores de Reiquejavique há uma ilha de automóveis abandonados. O frio, a humidade, o sal do mar ainda não os marcou porque o seu desamparo é recente, embora se adivinhe que ali continuarão no futuro. Muitas centenas de reluzentes SUV Range Rover foram apanhadas pela súbita ruína financeira islandesa e perderam os compradores no pequeno país que no final do Verão ainda era exemplo de bem-estar financeiro..O colapso da coroa islandesa depois da nacionalização dos três principais bancos do país em Outubro devolveu os islandeses à sua sina de sofredores da qual se tinham parcialmente esquecido com a recente bonança capitalista.."Nestes últimos anos, o dinheiro tem sido rei na Islândia. As pessoas de sucesso eram aquelas que estavam a ganhar muito dinheiro", contava recentemente o sociólogo Thorbjorn Broddason num artigo publicado pelo site da Forbes. .Os islandeses tinham uma das maiores taxas de detentores de SUV Range Roverper capita do mundo e preparavam-se para construir um edifício faraónico em Reiquejavique, uma sala de ópera para disputar em beleza e simbologia o lugar da Ópera de Sydney aos olhos do mundo. O estaleiro está hoje tão abandonado, como os Range Rover no porto..O país que nos anos 80 teve uma taxa de inflação de 85%, que durante a maior parte da sua existência, desde que se tornou independente da Dinamarca em 1944, dependeu da pesca do bacalhau, de repente transformara-se num exportador de bens financeiros: em 2007, o Kaupthing, o Landsbanki e o Glitnir, os três maiores bancos islandeses, emprestaram o equivalente a nove vezes o tamanho da economia..O colapso financeiro arrastou a sociedade islandesa encosta abaixo. A taxa de desemprego aumenta a passos largos e ninguém sabe onde irá parar. De Outubro para Novembro, saltou da estável média de 1,9 % dos últimos três anos para 3,3% e vai em crescendo - as previsões oficiais são de que atingirá 7% no final de Janeiro. O Departamento de Trabalho islandês divulgou este mês que a economia está a perder 260 empregos por semana. .Dos seus 320 mil habitantes, 30% sonham agora com abandonar o país e procurar emprego noutro lado. Segundo uma sondagem, cerca de metade da população entre os 18 e 24 anos está desencantada com as perspectivas e também quer partir. No mês em que comemora 90 anos da sua autonomia depois de ter sido colónia durante quase sete séculos, primeiro da Noruega (1262-1380) e a seguir da Dinamarca, os islandeses parecem enfrentar em breve o maior êxodo de população desde que voltaram a ficar independentes..Quem pensa em ficar tem tempos difíceis à sua frente. A inflação atingiu em Novembro 17,1%, o valor mais alto dos últimos 18 anos. No terceiro trimestre, a economia sofreu uma contracção de 0,8% em relação a igual período de 2007 - uma contracção de 3,4% em relação ao segundo trimestre. O consumo interno decresceu 9,7% em comparação com o mesmo período do ano passado. E estas ainda não são as piores notícias, essas estão reservadas para o quarto trimestre e para 2009, dizem os analistas..O Governo islandês já chegou a acordo com o Fundo Monetário Internacional para um programa de empréstimo de 2,1 mil milhões de dólares (1,5 mil milhões de euros) a dois anos, o que implicará muitas restrições em termos de gastos públicos. Somado à contribuição dos países nórdicos, da Polónia, Reino Unido, Alemanha e Holanda, esse pacote poderá ascender a 10,2 mil milhões de dólares (7,5 mil milhões de euros). O colapso da sua economia deverá precipitar a Islândia para o berço da União Europeia, onde no tempo das vacas gordas se mostrava muito renitente a entrar. O comissário europeu para o Alargamento, Olli Rehn, já afirmou publicamente que a "Comissão Europeia está a preparar--se mentalmente para a possibilidade de uma candidatura da Islândia (...) no princípio do próximo ano, (...) claramente há movimentos nesse sentido." O primeiro-ministro islandês, Geir Haarde, também já admitiu que o seu país pode começar a falar com a UE em breve.