ISIS perde terreno no Iraque e na Síria. Fallujah quase reconquistada

ONU estima que 90 mil civis estejam ainda presos dentro da cidade iraquiana. Funcionam como escudos humanos
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Pelo menos 25 pessoas morreram ontem, em Bagdad, na sequência de dois ataques suicidas. Os atentados, reclamados pelo Estado Islâmico, surgem depois de os extremistas sunitas terem perdido terreno quer no Iraque, quer na Síria.

Também ontem ficou a saber-se que as Forças Democráticas da Síria (FDS) - uma aliança de vários grupos armados, liderada pelos curdos das Unidades de Proteção do Povo e apoiada pelos Estados Unidos - estavam já prontas para entrar na cidade de Manbij. O objetivo da ofensiva é conquistar a última faixa de terreno na ligação entre a Síria e a Turquia que ainda permanece controlada pelo Estado Islâmico.

Esta fronteira tem sido determinante do ponto de vista estratégico e militar para o ISIS. É por aí que os extremistas têm feito entrar e sair armas e, recentemente, também tem servido como corredor para enviar de volta para a Europa os simpatizantes que estiveram na Síria a ser treinados para ações terroristas. Manbij fica na rota entre a Turquia e a cidade de Raqqa, um dos principais bastiões dos islamistas no interior da Síria. Perder essa ligação representa um significativo percalço para o ISIS. A esta derrota acresce ainda o facto de Raqqa estar também a ser atacada pelas forças governamentais que apoiam o presidente Bashar al-Assad.

Estima-se, segundo a Reuters, que mais de 130 militantes do Estado Islâmico e 20 combatentes das FDS tenham morrido desde o início da ofensiva por Manbij.

Também nos últimos dias, a batalha por Fallujah, no Iraque, tem corrido mal aos radicais sunitas.

O exército iraquiano, que conta com a ajuda dos EUA e de várias milícias xiitas apoiadas pelo Irão, conseguiu já conquistar a zona sul de Fallujah, depois de na semana passada ter completado o cerco.

A ofensiva para recapturar aquele que é um bastião dos insurgentes sunitas no Iraque, e que há dois anos está na mão do Estado Islâmico, começou a 23 de maio. Neste momento falta apenas avançar para o centro, algo que deverá demorar mais algum tempo.

Segundo uma televisão estatal, o primeiro-ministro Haider al-Abadi ter-se-á encontrado com os militares que neste momento fazem o cerco a Fallujah e ter-lhes-á dado ordens para que os civis, presos no interior da cidade, sejam protegidos.

De acordo com a ONU, são ainda 90 mil aqueles que se encontram no centro da cidade e que tentam desesperadamente fugir do cerco e dos combates. O Estado Islâmico não pretende facilitar-lhes a saída uma vez que a sua presença acaba por funcionar como uma espécie de escudo humanos.

A Organização das Nações Unidas veio também nesta semana revelar relatórios "extraordinariamente perturbadores, mas credíveis". De acordo com a ONU, muitos dos civis que conseguiram escapar de Fallujah foram depois abusados e violentados pelas forças iraquianas que combatem o Estado Islâmico.

A violência em Fallujah tem atingido proporções alarmantes. No final de maio, no auge dos combates por Fallujah, Melissa Fleming, a porta-voz da agência da ONU para os Refugiados (ACNUR), veio a público falar de um êxodo Iraque-Síria. Segundo a responsável, apenas no mês de maio cerca de 4600 iraquianos fugiram da cidade de Mossul e procuraram refúgio na Síria. "Eles sabem o que se está a passar em Fallujah e querem fugir antes que se vejam numa armadilha semelhante", afirmou Fleming à imprensa. Tudo indica que Mossul, ainda nas mãos do Estado Islâmico, será a batalha que se segue.

Para já, no entanto, o objetivo é que a conquista de Fallujah esteja concluída antes do regresso dos trabalhos parlamentares, o que acontecerá no fim do ramadão, em meados de julho. Essa é a expectativa do primeiro-ministro iraquiano, de forma a poder consolidar a sua liderança.

Tal como explica a Reuters, Abadi, político xiita, foi eleito há dois anos com a promessa de combater a corrupção e o Estado Islâmico e de estabelecer pontes com a minoria sunita do país. Mas desde então a sua popularidade tem vindo a cair. Uma vitória em Fallujah e depois outra em Mossul funcionariam como uma garrafa de oxigénio político.

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