País de 1100 milhões, a Índia tem uma história que se cruza nos últimos cinco séculos várias vezes com Portugal. Goa é o ícone dessa relação.De maioria hindu, mas com uma gigantesca minoria islâmica, a Índia é uma nação multicultural e plurirreligiosa. Despertou na última década economicamente e em 2006 cresceu 7,9%. Orgulha-se da sua tradição democrática.Agra: Situada uns 200 quilómetros a sul de Nova Deli, Agra foi capital do Império Mogul nos séculos XVI e XVII. Cidade hoje com mais de um milhão de habitantes, deve a essa época de ouro os seus três monumentos classificados como Património da Humanidade, o mais famoso dos quais é o Taj Mahal. Construído entre 1631 e 1654, é um mausoléu em mármore branco edificado pelo imperador Shah Jahan em honra da sua mulher preferida, Mumtaz Mahal. Nascido por ordem de um soberano muçulmano, o Taj Mahal combina elementos da arquitectura indiana com a persa e a islâmica..Bollywood: Com uma produção anual na ordem dos mil filmes, a indústria cinematográfica indiana é a mais prolífica do mundo. Várias regiões do país possuem tradição na matéria -no Tamil Nadu é até habitual os actores de sucesso transformarem-se em políticos -, mas o grande símbolo do cinema indiano são os gigantescos estúdios dos arredores de Bombaim celebrizados como Bollywood. Muito marcado pela música e pelos saris molhados, o cinema indiano conta também tradicionalmente com realizadores de grande qualidade, no passado Satiajit Ray, hoje uma nova geração onde Mira Nair (de Casamento debaixo de Chuva) surge como o nome mais conhecido..Cristãos: Fernandes, Souza, Dias e Mascarenhas são apelidos comuns na Índia, onde mais de 30 milhões de pessoas professam o cristianismo. Por influência dos missionários às ordens da Coroa portuguesa, entre os quais São Francisco Xavier, os católicos indianos respondem na maioria das vezes por nomes que não causariam surpresa em Lisboa . Em Goa, é possível encontrar na rua um Eduardo Faleiro (que foi ministro dos Negócios Estrangeiros), em Madrasta não surpreende conversar com um Placid Rodrigues (em tempos director do Centro de Energia Atómica). E até é possível ler num jornal de Calcutá um artigo sobre os católicos indianos assinado por um Mario Rodrigues. Mas entre os cristãos indianos contam-se também protestantes e ortodoxos. Estes últimos estão na Índia desde o século I e têm influência no Kerala. O livro O Deus das Coisas Pequenas, que recebeu o Booker em 1997, conta a história de uma família de cristãos ortodoxos indianos. E a autora, Arundathy Roy, pertence à comunidade..Democracia: Influenciado pela cultura britânica, o pai da independência Jawaharlal Nehru não se importou de imitar o colonizador no que diz respeito ao modelo político. Nasceu assim "a maior democracia do mundo", título justo para um país que, nas legislativas de 2004, contou com 671 milhões de eleitores. Historicamente, o Partido do Congresso tem dominado a vida política e há três anos que governa depois de seis anos de domínio dos nacionalistas hindus. Entre os partidos de expressão nacional, destaque ainda para os comunistas. .Economia: Com 1100 milhões de habitantes, a Índia está condenada a ser um gigante económico e é já a décima potência mundial. As décadas pós-independência foram marcadas pelo intervencionismo do Estado e por políticas socializantes que ajudaram a distribuir a riqueza, mas estagnaram a produção. Só a partir das reformas lançadas em 1991 por Narasimha Rao a economia indiana começou a mostrar o seu potencial e em 2006 cresceu na ordem dos 7,9%. Para este ano, as previsões do FMI apontam uma taxa de 7,2%, o que significa que mais umas dezenas de milhões de indianos sairão do limiar da pobreza. Ao mesmo tempo, cresce uma classe média que se calcula entre cem e 200 milhões de pessoas e que explica a febre consumista que se apropriou de cidades como Nova Deli, Bombaim ou Bangalore. Esta última metrópole, com as suas empresas de informática, é já conhecida como a Silicon Valley da Índia, se bem que Bombaim, com a sua bolsa, mantenha o estatuto de capital económica. Sobre o tema, vale a pena ler A Índia do Século XXI, de Pavan K. Varma, etambém Made in Índia, de Ashutosh Sheshabalaya..Faquires: Quase nus, vagueiam pela Índia em busca de salvação. Não são hindus, mas sim muçulmanos, uma minoria que engloba 130 milhões de indianos. Ao contrário do mito no Ocidente, não se deitam sobre facas. São antes, como os iogues, uma componente da espiritualidade da Índia..Goa: As praias de Goa são uma das atracções turísticas da Índia, mas as igrejas de traça portuguesa contribuem também para o seu charme. Conquistada em 1510 por Afonso de Albuquerque, Goa foi durante os séculos XVI e XVII a capital do império asiático português. Integrou a Índia em 1961, por via de uma acção militar ordenada pelo primeiro-ministro Jawaharlal Nehru. Até então, Oliveira Salazar tinha-se recusado a entregar um território que, pela sua história de 450 anos, considerava português. Mas os britânicos tinham partido em 1947 e os franceses entregaram a última feitoria (Pondichery) em 1954. A maioria dos portugueses de origem indiana são goeses (existem também muitos gujaratis)..Hinduísmo: Religião seguida por quatro em cada cinco indianos, conta com milhões de deuses. Ganesh, com a sua cabeça de elefante, e Hanuman, com rosto de macaco, são os mais populares. A trindade Brahma, Shiva e Vishnu é a mais poderosa. E Benares, junto ao Ganges, é a cidade sagrada..Intocáveis: No topo do sistema de castas hindu estão os brâmanes. Em baixo, tão em baixo que nem sequer têm casta, ficam os intocáveis. Para apoiar a sua integração, o Maatma Gandhi chamou-lhes harijans, "Filhos de Deus". Mas os intocáveis preferem a designação de dalits e nos últimos anos têm usado o jogo democrático para melhorar o estatuto. Em 1997, Kocheril Raman Narayanan tornou-se o primeiro dalit a ser eleito Presidente da Índia..Jammu e Caxemira: Único estado indiano de maioria muçulmana, Jammu e Caxemira assiste desde 1989 a uma rebelião. Apoiados pelo Paquistão, os fundamen- talistas islâmicos têm feito tudo para pôr fim à tradicional convivência na região entre muçulmanos, hindus, cristãos e budistas, uma coexistência relembrada no último livro de Salman Rushdie, Shalimar o Palhaço. .Kozhikode: A chegada de Vasco da Gama transformou para sempre as relações entre Ocidente e o Oriente, dando início ao colonialismo na Índia. A Calicut, onde o navegador português desembarcou em 1498, chama-se hoje Kozhikode, cidade de 400 mil habitantes no estado do Kerala..Laicismo: Para manter a unidade de um país tão plural, o Estado indiano adoptou uma política de imparcialidade em relação à religião. E numa nação onde os hindus são mais de 80% da população, o actual Presidente da República é o cientista nuclear Abdul Kalam, um muçulmano, enquanto o primeiro-ministro é o economista Manmohan Singh, um sikh, grupo religioso a que pertencem apenas 2% dos indianos. Entre as minorias religiosas contam-se também os cristãos, os jainistas, os budistas, os parsis e ainda uma minúscula comunidade judaica..Maatma: Assassinado em 1948, Mohandas Karamchand Gandhi é a figura indiana mais respeitada a nível mundial, inspirador de líderes como o americano Luther King ou o sul-africano Nelson Mandela. Advogado formado em Inglaterra, usou o pacifismo para forçar os britânicos a darem a independência à Índia e até ao último minuto opôs-se à partição com base religiosa que originou o nascimento do Paquistão. O poeta bengali Rabidranath Tagore deu-lhe o título de Maatma, ou "Grande Alma"..Nuclear: Os ensaios de 1998 esclareceram aquilo que já se sabia desde um primeiro teste no deserto do Rajastão feito em 1974: a Índia é uma potência nuclear..Orissa: Com 36 milhões de habitantes e situado na costa oriental do país, Orissa é um dos 28 estados da Índia. A língua local, tal como a esmagadora maioria das línguas indianas (excepto no Sul), pertence à família indo-europeia, a mesma do português, inglês ou norueguês. .Paquistão: Nascido sob a liderança de Mohammed Ali Jinnah como uma pátria para os muçulmanos da Ásia do Sul, o Paquistão tornou-se independente, tal como a Índia, a 15 de Agosto de 1947. Desde então, travou já três guerras com a sua irmã--inimiga, duas das quais por causa da Caxemira. Uma terceira guerra, no início da década de 1970, levou à secessão do Paquistão Oriental, hoje Bangladesh. Ao contrário da Índia, o Paquistão tem sido incapaz de se afirmar como uma democracia sólida, tendo vários períodos de ditadura. O actual Presidente é o general Pervez Musharraf, que nasceu em Deli, mas cuja família emigrou para o Paquistão..Qawali: Género popular de canções de amor, escritas em urdu - a língua dos muçulmanos da Índia -, o qawali globalizou-se graças a intérpretes como Fateh Ali Khan. Célebre também, na música indiana, é o sitar, cujo expoente é Ravi Shankar..Raj: A presença britânica na Índia começou em meados do século XVII, com a oferta de Bombaim como dote de uma princesa portuguesa. Depois foi-se alargando, até que no século XIX, com a rainha Vitória, a Índia se tornou "a jóia da coroa" de um império onde "o Sol nunca se punha". Conhecida como Raj, o domínio colonial britânico foi possível graças a uma política de aliança com alguns marajás e rajás e à extrema disciplina e organização de um exército disposto a reprimir qualquer rebelião (e facilmente transportado num sistema ferroviário que ainda hoje fascina). Em 1947, o Raj chegou ao fim, mas os britânicos legaram à Índia um sistema político, um sistema judicial, uma tradição de funcionalismo público, uma imprensa independente e ainda uma língua capaz de, melhor que o próprio hindi, ser veículo de comunicação entre as diferentes comunidades. O mesmo inglês que hoje ajuda a explicar muito do sucesso económico do país. .Sonia: Italiana de nascimento, Sonia Gandhi é a figura máxima de uma dinastia política que se confunde tragicamente com a história contemporânea da Índia - os Nehru-Gandhi. Conduziu o Partido do Congresso à vitória nas eleições de 2004, mas, para evitar um choque com os nacionalistas hindus que a consideram uma estrangeira, preferiu não ser primeira-ministra, cargo que havia sido ocupado pelo seu marido, Rajiv Gandhi, assassinado em 1991. Antes, já Indira, mãe de Rajiv, tinha sido chefe do Governo durante quase duas décadas (até ser assassinada em 1984). E antes desta, o seu pai, Jawaharlal Nehru. Apesar da coincidência de apelidos, só uma amizade pessoal de Nehru liga esta dinastia ao Maatma Gandhi (o apelido entrou na família através de Firoz Gandhi, marido de Indira). O futuro político da dinastia parece assegurado pelos filhos de Sonia e Rajiv - tanto Rahul como a irmã Priyanka conhecem já o gosto das campanhas eleitorais..Tagore: Poeta bengali nascido em Calcutá, ganhou em 1913 o Nobel da Literatura. São suas as palavras tanto do hino indiano como do hino do Bangladesh. .Uttar Pradesh: Banhado pelo Ganges, o fértil Uttar Pradesh é o mais povoado estado da Índia. Com os seus 175 milhões de habitantes, se fosse independente, seria o sexto país mais populoso..Vindaloo: Foram os portugueses que levaram o tempero com vinha-d'alhos para Goa. A partir dessa antiga colónia portuguesa tornou-se nome de prato indiano, já com adaptação linguística e também gastronómica (a adição das tais especiarias que motivaram a viagem de Vasco da Gama). .Wavel Coube a Lord Mountbatten dar a independência à Índia em Agosto de 1947. Mas sete meses antes fora substituído como vice-rei Archibald Wavell, que, ao contrário do neto da rainha Vitória, tentou sempre convencer Londres a evitar a partição do Raj. Se Wavell tivesse sido ouvido, a história da Ásia do Sul poderia ter sido bem diferente. Talvez não morresse meio milhão de pessoas, entre hindus, muçulmanos e sikhs, na troca de populações que se seguiu à independência da Índia e do Paquistão..Xavier: Navarro de nascimento, São Francisco Xavier destacou-se na evagelização da Índia. Jesuíta ao serviço de Portugal, morreu em 1552 na China. O seu corpo encontra-se numa igreja de Goa, onde é objecto de veneração, inclusive por hindus..Yudishsthira: Personagem do Mahabharata, Yudishsthira é uma figura semidivina, um rei que não queria ser rei. Afirma Jean-Claude Carriére, no seu Dicionário Amoroso da Índia, queYudishsthira é o mais completo personagem desse grande poema clássico indiano, épico em sânscrito com mais de 90 mil versos que relata acontecimentos do século XII antes de Cristo..Zoroastristas: São conhecidos na Índia como parsis porque fugiram da Pérsia com a chegada dos invasores árabes no século VII. Cerca de cem mil, os zoroastristas vivem sobretudo em Bombaim e contam com algumas das famílias mais ricas do país, incluindo os Tata. Freddie Mercury, o ex-vocalista dos Queen, descendia de parsis (nasceu com o nome Faruk Bursala).