Impacto da obesidade e excesso de peso na fertilidade e gravidez

Publicado a
Atualizado a

A obesidade e excesso de peso são um crescente problema de Saúde Pública. A Organização Mundial de Saúde define obesidade e excesso de peso segundo um Índice de Massa Corporal (IMC). Um indivíduo com IMC de 25-29.9 apresenta excesso de peso e, acima de 30, uma obesidade. Em Portugal, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, em 2020, 53% da população adulta apresentava obesidade ou excesso de peso. A obesidade é uma patologia crónica, que para além de constituir um gatilho para muitas doenças cardiovasculares e morte súbita, afeta a fertilidade de homens e mulheres.

O risco de infertilidade é três vezes mais alto na mulher obesa comparativamente a uma mulher de IMC normal. O principal impacto da obesidade na fertilidade deve-se a uma alteração de funções neuro-endócrinas que promovem a anovulação. Contudo, mesmo na ausência de distúrbios ovulatórios, a taxa de fecundidade da mulher obesa mostra-se reduzida como consequência da alteração de vias metabólicas e inflamatórias.

No que concerne a Fertilização in Vitro, a obesidade associa-se a uma diminuição da taxa de sucesso, secundária a uma diminuição da qualidade e maturação oocitária e menor taxa de implantação por igual prejuízo da recetividade uterina.

A obesidade relaciona-se também, a um aumento de aborto espontâneo, quer em gestações espontâneas ou com recurso a técnicas de procriação medicamente assistida. Estima-se um risco de aborto espontâneo de 40% comparativamente aos 15% em mulheres com IMC normal.

O impacto é igualmente negativo na espermatogénese masculina, com diminuição na concentração e número de espermatozoides móveis, por aumento da temperatura testicular e produção de estrogénios.

Na gravidez a obesidade tem consequências adversas materno-fetais a curto e longo prazo. Ao longo da gestação verifica-se um aumento da incidência de mal formações congénitas, hipertensão materna, alterações do crescimento fetal intrauterino, parto pré-termo e morte fetal. No intraparto, o risco de paragem de progressão de trabalho de parto, cesariana e distocia de ombros é superior comparativamente a mulheres com IMC normal. No pós-parto é de salientar o aumento de risco de trombo-embolismo materno.

O ambiente materno onde se desenvolve o feto condiciona a vida do futuro adulto. Os filhos de mães com excesso de peso têm 40% mais probabilidade de vir a sofrer de obesidade e doenças associadas, das quais se destaca a diabetes e problemas cardiovasculares.

Mostra-se assim imperativo, na melhoria do prognóstico reprodutivo e diminuição do risco materno-fetal na gestação, a otimização do peso na preconceção. A literatura evidencia que a otimização do peso em 5%, apresenta já um benefício metabólico positivo para a mãe e futuro bebé.

Assim sendo, as futuras mães devem iniciar um plano de redução de peso e modificação de hábitos alimentares prejudiciais. Além do acompanhamento por um obstetra, é fundamental o apoio junto de um especialista em nutrição bem como a realização de exercício físico aeróbico diário.

O plano de redução de peso e a alteração de hábitos nutricionais deve ser iniciado, preferencialmente, seis meses antes da conceção. Recomenda-se uma dieta diversificada com grãos, legumes, proteínas animais e/ou vegetais e produtos ricos em fibras. Os alimentos mais amigos da fertilidade são os que contêm ácido fólico, ácido docosa-hexaenóico, vitaminas B, C, D e E, selénio e cálcio.

Perder peso acresce benefícios cardiovasculares, metabólicos, endócrinos e neurológicos diminuindo o risco de diabetes, hipertensão arterial, colesterol elevado e até alguns tipos de cancro. Ajuda na redução da ansiedade e melhoria da qualidade do sono.

Assim, um estilo de vida saudável, além do impacto direto positivo no bem-estar individual, potencia a fertilidade do casal.

Ginecologista e especialista em Medicina da Reprodução

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt