Igreja Universal investigada por lavagem de dinheiro

Aviões privados, extorsão de dinheiro a fiéis, milhões de dólares para património "ilícito" e acusações de "mafia" religiosa. O grupo religioso de formação evangélica com maior expressão no país continua a ser fonte de polémica
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Não é a primeira vez que a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), o grupo religioso de formação evangélica com maior expressão no Brasil, está nas páginas da imprensa brasileira por lavagem de dinheiro e "ligações financeiras duvidosas". As "constantes denúncias, suspeitas e acusações" envolvendo negócios de milhões e "enriquecimento ilícito" que recaem sobre esta "empresa religiosa", conforme é apelidada - muitas vezes, em praça pública - a IURD, deixam escapar desabafos com acusações graves.

"Isto é uma mafia", diz ao DN o taxista Salustiano Silva, referindo-se à Igreja Universal, como é conhecida no Brasil, ao apontar para um edifício com o arco-íris pintado no telhado, no centro de São Paulo, e que num primeiro olhar parece um centro comercial. Reflectindo a opinião do cidadão comum.

A Igreja Universal constrói autênticos armazéns luxuosos. E ganha muito dinheiro com as contribuições dos fiéis, que se endividam. É a doutrina da polémica: uma verdadeira lavagem cerebral. Vejo pelos meus cunhados que são fanáticos", conta. A alegada "lavagem cerebral" que denuncia Silva, ele próprio com "familiares que frequentam a IURD", representa, no Brasil, cerca de oito milhões de fiéis e é proprietária de vários meios de comunicação social (ver caixa). E foi através deles que, esta semana, a IURD se defendeu, sobretudo, das acusações de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha pelo fundador do culto, Edir Macedo, e mais nove cúmplices."Vamos rezar, juntar as nossas forças, ajoelhar e procurar as promessas de Deus. Não nos vamos deixar abater. Todas essas acusações são para nosso bem", proclamaram os líderes da Universal, numa campanha amplamente difundida. Isso depois da justiça brasileira ter pedido acção criminal contra a IURD por uma série de delitos, como lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e ocultação de bens com ajuda de empresas-fantasma.

A investigação, de acordo com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, tutelado pelo Ministério da Fazenda, revela que o volume financeiro da soma das "transferências atípicas e depósitos bancários" feitos por pessoas ligadas" à IURD entre Março de 2001 e 2008 foi de oito mil milhões de reais, cerca de três mil milhões de euros. Apesar de ser dono de uma fortuna calculada em dois milhões de dólares, Edir Macedo não aparece como proprietário de nenhum negócio ligado à IURD, conforme consta das informações dos fiscais.

As referidas empresas-fantasma ficavam, supostamente, no centro de São Paulo com os nomes de "Unimetro" e "Cremo" e estariam a ser utilizadas, sobretudo, "para simular a compra e venda de empresas, imóveis e aviões do grupo". Um desses aviões seria de uso pessoal de Macedo, que mora nos Estados Unidos.

Em declarações à imprensa, o advogado da IURD, Arthur Lavigne, assegurou que as "tais empresas-fantasma" que serviriam para transferência de dinheiro pago por fiéis como dízimo já foram fiscalizadas pela Receita Federal e "aprovadas".

Segundo legitima a Constituição brasileira, o dinheiro recebido pelas igrejas, através de doações de fiéis não é sujeito a tributação: os recursos podem ser aplicados em benefício da própria igreja. Só que não foi o caso da IURD, revela a investigação: os indícios sugerem que "o dinheiro foi directamente aplicado em empresas particulares" ligadas a Macedo e cúmplices.

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