Hotel ameaça último correeiro da Rua dos Correeiros

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Lisboa. No prédio junto à extinta Lanalgo

Helena Roseta quer propor ao executivo classificação da loja

O último correeiro de Lisboa, a loja Vitorino de Sousa, Lda. a funcionar na Rua dos Correeiros há 88 anos, corre o risco de desaparecer do mapa e do imaginário lisboeta para dar lugar a um hotel . A abertura de um processo de classificação como imóvel de interesse municipal poderá ser a tábua de salvação desta loja, derradeiro exemplo do comércio tradicional.

Os vereadores do movimento Cidadãos por Lisboa deverão apresentar nas próximas semanas uma proposta nesse sentido uma vez que a Vitorino de Sousa "nem sequer faz parte da mais recente versão da carta de Inventário do Património Municipal", conforme referiu ao DN Helena Roseta, lembrando que o CPL manifestou a sua oposição à "aprovação condicionada" do projecto de arquitectura do pedido de licenciamento de obras de ampliação e alteração de interiores e exteriores do edifício localizado na Rua de Santa Justa, n.ºs 42 a 48 e Rua dos Correeiros, n.ºs 194 a 218.

A proposta do requerente, a Falabela, Sociedade de Investimentos Imobiliários, Lda pretende adaptar dois edifícios existentes, com vista à instalação de um hotel, foi aprovada em Dezembro de 2008 pelo executivo municipal, apesar dos votos contra dos representantes do CPL, PCP e Lisboa com Carmona.

Os dois imóveis - na sede da extinta Lanalgo (um grande armazém) - já se encontram ligados entre si. As paredes interiores de raiz pombalina foram eliminadas e os pisos originais já foram substituídos por lajes aligeiradas.

O projecto propõe manter as fachadas principais, repondo no piso térreo, o desenho dos vãos de origem. Interiormente, a compartimentação será alterada e a cobertura terá configuração diferente para permitir a utilização do desvão do telhado. Assim, e ainda de acordo com a proposta, o hotel desenvolver-se-á em oito pisos: na cave os serviços técnicos, no piso térreo as áreas públicas e serviços, nos pisos superiores (1 a 5) os quartos e no sótão quartos e áreas técnicas. A unidade, de quatro estrelas, com a denominação "Hotel Santa Justa" terá capacidade de 110 camas, distribuídas por 55 quartos, sendo 50 duplos (um dos quais adaptado a pessoas com mobilidade condicionada) e cinco suites.

Perante a iminência do desaparecimento da histórica loja do correeiro, Manuel Salgado,vereador com o pelouro do Urbanismo disse ao DN que a licença de construção "só será concedida quando o requerente apresentar uma declaração comprovando que chegou a um acordo com o inquilino". Ora, o poder negocial de José de Sousa, herdeiro do fundador da loja, não parece suficiente para influenciar o curso dos acontecimentos. "Sei que se o hotel for para a frente, não poderei ficar aqui. Mas ao menos que no futuro criem aqui um espaço onde o nosso trabalho fique exposto e seja divulgado, de modo a que os interessados o procurem e o encontrem", disse ao DN.

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