Hospitais premiados por cuidados em AVC e enfarte

Pagamento de mais 10% do valor do internamento visa incentivar as boas práticas  <br />
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A rapidez na resposta e a qualidade no tratamento do AVC e enfarte podem ser premiadas em 2011. O coordenador nacional para as doenças cardiovasculares, Rui Ferreira, quer dar início ao pagamento de incentivos aos hospitais que admitirem e tratarem com mais rapidez os seus doentes. A medida, que chegou a estar prevista para 2010, já foi discutida com o gabinete da ministra Ana Jorge, aguardando-se uma decisão final.

O objectivo central é simples: reduzir a mortalidade e incapacidade das duas doenças que mataram 33 mil pessoas em Portugal em 2008. A proposta prevê "o pagamento adicional de 10% em relação aos valores pagos pelo internamento por enfarte com realização de angioplastia (técnica de desobstrução das artérias) e AVC", refere. A unidade pode até distribuir parte da verba pela equipa. A primeira técnica custa cinco a seis mil euros e a segunda 3000. A ser aprovada, a verba entra nos contratos-programa de 2011 entre as unidades e as regiões de saúde.

"A despesa nunca será muito elevada, não chegará ao milhão de euros por ano. E as poupanças geradas com a prevenção de complicações mais graves serão enormes", calcula. A proposta já tinha sido feita no ano passado. "Vamos propor estas verbas a pagamento, embora estejamos conscientes de que estamos em período de crise."

Actualmente, quase um quarto (23%) dos casos de enfarte que mais beneficiam da angioplastia primária chega aos hospitais pela via verde. E há casos como o da região de Lisboa que é de apenas 7%. No entanto, no Algarve, essa percentagem sobe a 71%. "Queremos incentivar as boas práticas e promover a qualidade. Para já, podemos generalizar os bons exemplos como o do Algarve."

Há vários obstáculos que não permitem acelerar o tratamento. "Os hospitais têm de se organizar em rede e com o INEM. Perde-se muito tempo quando os doentes não são enviados para os hospitais com os tratamentos específicos. Depois há o caso dos doentes que não são colocados na unidade coronária ou AVC do hospital, mas na urgência", exemplifica. Aí têm de fazer triagem, o electrocardiograma, avaliação da situação e só depois o tratamento, como a angioplastia ou a fibrinólise", refere.

Em Braga, por exemplo, a equipa contactou os hospitais da região para que encaminhassem logo os doentes para lá. A articulação com o INEM também foi trabalhada, para trazer os doentes para o sítio certo. "O ideal é que as viaturas do INEM consigam sempre fazer o electrocardiograma antes da entrada no hospital, porque também poupa tempo."

Também as vagas nas unidades, como as de cuidados intensivos têm de ser devidamente planeadas "e não apenas quando o doente já vai a a caminho. Essa gestão tem de ser constante. Só aí já se conseguem ganhos nos resultados", garante Rui Ferreira.

A activação das vias verdes é muitas vezes condicionada pelo próprio doente, que tem de estar atento aos sintomas (ver caixa) e não esperar que passem.

Para já, as pessoas devem procurar logo contactar o INEM, permitindo desde logo o encaminhamento para o local indicado. "Um dos erros frequentes é irem a um SAP ou a um centro de saúde só porque estão perto. Enquanto esperam, passa o tempo em que beneficiariam mais do tratamento", diz o médico. Outro erro é procurarem o seu médico no hospital. "Nestes casos, o importante é fazerem logo os exames necessários, seja qual for o médico disponível", conclui.

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