A demissão do chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Hong Kong, Tung Chee-hwa, era ontem à noite (hora local) um dado praticamente adquirido, com a Agência Reuters, citando fonte do Governo da ex-colónia britânica, a dar como certa a aceitação do pedido por Pequim no passado sábado. Tung terá pedido a demissão do seu cargo na semana passada..Tung Chee-hwa sai mas a renúncia apenas deverá ser anunciada oficialmente quando também for certificada a sua nomeação para o importante cargo de vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC) - o que deverá acontecer entre hoje e amanhã -, posição que lhe dará o estatuto de dirigente nacional da China. .Isso permite-lhe abandonar um cargo onde vinha a ser fortemente contestado pela população local nos últimos dois anos e meio. Para Pequim, esta é também uma saída que permite ao Governo central resolver uma situação complicada sem perder a face. Os líderes máximos do país não estavam satisfeitos com o trabalho de Tung, sobretudo devido ao mediatismo que assumiram em todo o mundo várias manifestações pró-democracia e anti-Governo. .Duas delas chegaram a levar meio milhão de pessoas para a rua, exigindo a adopção do sufrágio universal directo já nas eleições de 2007, de onde sairia o próprio sucessor de Tung Chee-hwa. Em Hong Kong - e Macau -, o chefe do Executivo é eleito por um colégio eleitoral representativo dos vários sectores da sociedade, sendo que a Lei Básica - constituinte da Região Administrativa Especial - prevê a democratização do sistema político mas sem avançar datas. .Em Outubro, num gesto visto pela ala democrática de Hong Kong como mais uma ingerência da China continental nos assuntos internos da região, Pequim afastou a hipótese de adopção do sufrágio universal dentro de dois anos..A demissão de Tung Chee-hwa não é completamente inesperada e o mais provável é resultar da vontade do próprio e de Pequim. A falta de popularidade e inabilidade para lidar com a contestação popular do primeiro chefe do Executivo da primeira Região Administrativa Especial da China - a segunda é Macau e a terceira, acredita Pequim, será Taiwan - levou o Presidente Hu Jintao, no 5.º aniversário da transição para a China do antigo território sob administração portuguesa (em Dezembro), a fazer duras críticas públicas a Tung. Os analistas crêem que o seu destino foi traçado nesse dia..Ontem, os jornais da ex-colónia britânica davam como certo para o seu lugar o actual número dois do Governo, Donald Tsang. A confirmar-se, é uma grande condicionante perante a população, por ser tido como uma escolha directa de Pequim (que ainda não comentou, oficialmente, as notícias)..Em Macau reina a confiança.A instabilidade política em Hong Kong não está a afectar a outra região administrativa especial da China. Macau continua a gozar de estabilidade social e desenvolvimento económico de fazer inveja à ex-colónia britânica, e o chefe do Executivo local, Edmund Ho, continua a receber elogios de Pequim. Com 440 mil habitantes - Hong Kong terá perto de sete milhões -, a hoje RAEM não vive, nem viveu, qualquer contestação ao governo de Ho, embora as questões políticas com que se debatem o Executivo e a população de Hong Kong também se coloquem no território outrora administrado por Portugal. Nomeadamente a questão do sufrágio universal nas eleições para chefe de Governo e legislativas, mas só a partir de 2009, e a legislação obrigatória de uma lei anti-subversão, cuja versão em Hong Kong suscitou graves protestos. Em Setembro será eleita a próxima legislatura, mas o processo eleitoral está a decorrer com bastante calma.. J. C. V.