Homens não ficam com bebés mais do que 6 dias

Estudo do INE indica que quadruplicou o número de homens com licença de parentalidade, mas só usam 2,8% dos dias das mães.<br />
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Os homens portugueses que beneficiaram da licença parental em 2008 não passaram mais do que seis dias com os filhos. É a conclusão do INE, que ontem publicou um estudo sobre a situação das mulheres do mundo 15 anos depois da Plataforma de Pequim, que tinha como um dos objectivos a igualdade entre sexos. Mas ainda é grande o fosso em Portugal no que diz respeito à conciliação entre trabalho e vida familiar.

Em 2008, 45 976 homens gozaram licença de paternidade, um número que quase quadruplicou neste século (eram 12 931 em 2000) e que representa 61% das mulheres que usufruíram da mesma licença. Mas uma análise ao pormenor dos números indica uma maior discrepância no tempo que os homens e as mulheres portuguesas dedicam às tarefas domésticas.

"Se, no entanto, compararmos o número de dias de ausência do posto de trabalho - o valor que afinal conta para as entidades empregadoras -, a percentagem de participação dos homens cai abruptamente", passa de 61% para 2,68%, salienta Maria do Céu Cunha Rego, a autora do artigo "Nos 15 anos de Plataforma de Pequim", publicado na Revista de Estudos Demográficos, do INE, ontem divulgada, e ex-presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego.

Os homens utilizaram 269 827 dias pagos, enquanto as mulheres beneficiaram de 9 644 380. O que significa que os pais dedicam uma média de 5,87 dias ao bebé e as mães 127,6 dias.

Estamos a falar em faltas ao trabalho, ausências sempre mais significativas quando o trabalhador é do sexo feminino. E, mesmo descontando os acidentes de trabalho, em que 75,5% dos casos envolvem um trabalhador do sexo masculino, mantém-se a assimetria. "Este é o nó do problema. Quase seis milhões de dias por ano (...) pesam duramente nos ombros de todas as mulheres e de cada uma delas em termos de acesso ao emprego e de progresso profissional", sublinha Cunha Rego.

Refira-se que o único levantamento sobre a partilha de tarefas domésticas nos lares portugueses data de 1999 (Inquérito à Ocupação do Tempo), sendo que este revela que as mulheres trabalham, em média, mais três horas por dia em casa. O que faz com que a jornada de trabalho das mulheres (12.49 horas) tenha mais duas horas do que a dos homens (10.56).

A Revista de Estudos Demográficos, do primeiro semestre do ano, é dedicada aos progressos alcançados na sequência da Plataforma de Acção de Pequim.

"Em Portugal, há cerca de três milhões de dias por ano - ou mais, se diminuírem, como é desejável, as ausências por acidente de trabalho - que têm de passar a ser gozados pelos homens em vez de o serem pelas mulheres", defende Maria do Céu Cunha Rego.

O que se passa a nível da maternidade tem repercussões a nível da educação dos filhos. O INE refere que, em 2008, 94% da assistência a menores foi prestada por mulheres, embora tenha duplicado a percentagem dos cuidados prestados por homens, de 3,1% (1999) para 6% (2008). As mulheres também estão em maior número no que diz respeito ao trabalho a tempo parcial, 16,4% das trabalhadoras, o que diminuiu 0,7% em 2009. É o dobro da proporção dos homens com horário incompleto.

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