Os pinguins são bípedes, gregários, inofensivos e cómicos nas suas falsas "casacas". São imediata e ancestralmente simpáticos aos humanos e dão excelentes personagens de documentários televisivos e especialmente de desenhos animados. E tornaram-se agora uma inesperada e fabulosa fonte de lucro no cinema, graças ao sucesso mundial do documentário A Marcha dos Pinguins, do biólogo e realizador francês Luc Jacquet. . Fascinado desde os anos 90 pelo pinguim-imperador (ver caixa na página ao lado), Jacquet familiarizou-se com estes animais quando esteve a trabalhar na base francesa Dumont d'Urville, na Antárctida, nos anos 90, e decidiu fazer um documentário sobre eles..Regressado a França, Jacquet rodou vários documentários para a televisão e foi adiando sucessivamente o trabalho sobre o pinguim-imperador. Em 2000, escreveu o argumento e começou a tentar arranjar financiadores, embora a princípio ninguém quisesse investir num filme sobre pinguins. Finalmente, e graças à participação de entidades tão diversas como a produtora especializada Bonne Pioche, a Buena Vista francesa, o Canal + ou o Instituto Polar Francês Paul Emile Victor, Luc Jacquet partiu para a Antárctida com uma equipa de três pessoas, e lá passou 14 duros meses de rodagem. .Estreado em França no início do ano, A Marcha dos Pinguins transformou-se num enorme sucesso. Os espectadores deixaram um total de dois milhões de euros nas bilheteiras para verem os pinguins-imperadores andar quase 100 quilómetros pelos gelos inóspitos na sua ordeira migração anual de reprodução, desafiar a natureza mais inclemente do mundo e arriscar as próprias vidas para manter vivas as crias..Comprado para exibição nos EUA por 1 milhão de dólares, A Marcha dos Pinguins começou por se estrear num número reduzido de salas, numa versão diferente da original (banda sonora nova e narração de Morgan Freeman). O triunfo foi tal que um mês depois o documentário estava já em quase 700 salas, batendo nas bilheteiras vários dos blockbusters americanos de Verão. Continua em cartaz e quase a chegar aos 80 milhões de dólares de receitas. É o filme francês mais lucrativo de sempre nos EUA, e também já um vencedor no Japão ou em Taiwan..O impacto de A Marcha dos Pinguins nos EUA foi tal que houve mesmo um aproveitamento do documentário por parte de políticos e organizações pró-vida e de defesa da família. Estas apontaram a monogamia, a tenacidade na preservação da espécie, a dedicação abnegada às crias e o espírito de união "familiar" dos pinguins-imperadores como exemplo para a sociedade dos humanos. Quanto a Luc Jacquet, disse à AFP que quis apenas "mostrar a extrema fragilidade da vida" do pinguim-imperador, um animal "belo e surpreendente", e fê-lo "mais com o sentimento do que como cientista"..Do cientista interessado, A Marcha dos Pinguins tem o lado de documentário de natureza tradicional, com imagens magníficas do cruel habitat do pinguim-imperador e da sua odisseia para preservação da espécie, sem omitir os aspectos mais chocantes os animais que se desgarram do grupo e morrem, os casais que perdem os ovos, as crias mortas de frio, fome ou por predadores, o desespero das fêmeas sem cria. Do cineasta apaixonado, o documentário tem a sentimentalização e o pitoresco, pela aproximação dos animais ao espectador usando um simples efeito de antropomorfização. Três actores dão "voz" à família de pinguins central ao filme, e logo, expressão dramática à narração e ressonância emocional aos acontecimentos, ajudados pela eficaz banda sonora. .Esta união do factual e do descritivo com o sentimental e o "humanizador", do National Geographic e da Disney, faz toda a diferença - e o imenso sucesso - de A Marcha dos Pinguins. .76 milhões A Marcha dos Pinguins já lucrou, nos EUA, 76 milhões de dólares, tendo sido comprado por apenas um milhão. Em França, este documentário acumulou 2 milhões de euros nas bilheteiras. .90 quilómetros A distância que o pinguim-imperador percorre para procriar..14 meses O tempo que o filme demorou a rodar nos gelos da Antárctida. .do.gelo