Herman José: As mil e uma faces de uma carreira ímpar

José Esteves, Maximiana, Serafim Saudade, Nelo,Tony Silva, Diácono Remédios e tantos outros. Em 40 anos de carreira, são muitos os bonecos de Herman, prestes a soprar 60 velas, que se mantêm na memória coletiva. Amigos e colegas elegem o mais marcante. E não é pera doce.
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José Esteves, Sr. Contente, Melga, Nelo, José Severino, Diácono Remédios, Serafim Saudade, Maximiana, Tony Silva, Marilu, Filipa Vasconcelos, Felizberto Lalande, Chica Pardoca, Nelito, Katyzinha, Fabricius, Oliveira Casca, Doutor Pinóquio, Lauro Dérmio, David Vaitembora, Viriato Coelho, Ruth Remédios, José Cortes, Engenheiro Passos de Ferreira, Carlos Santos, Super Tia. A lista é quase infindável. Afinal, são muitas as vidas que cabem em quatro décadas de carreira.

Na semana em que Herman José celebra 60 anos, já na próxima quarta-feira [dia em que estará a dar mais um espetáculo, desta vez no Teatro Villaret], olhamos para alguns dos bonecos mais marcantes criados por aquele que é considerado o "rei" do humor português e que se mantém, décadas depois, na memória coletiva. Mesmo sabendo que seria uma resposta difícil, a NTV perguntou aos colegas e amigos que acompanharam o percurso televisivo de Herman qual é a personagem mais emblemática do autor de êxitos como Herman Enciclopédia, O Tal Canal ou Hermanias.

Maria Rueff, que conhece e trabalha com o maior humorista português há 20 anos, tem um carinho especial por José Severino, que celebrizou a frase "Eu é mais bolos". "É impossível eleger a melhor. Mas posso dizer que, como a miúda que era e que estava em casa a ver os programas dele, o meu preferido continua a ser o Severino dos bolos. Porque tenho uma ternura profunda por aquele sketch, eu era uma miúda que ficou presa e doida a olhar para aquilo", explica à Notícias TV. A atriz acrescenta: "Mais tarde, tive o privilégio de o ver criar, ao meu lado, bonecos tão fortes como o Diácono Remédios. E o Nelo, que continua a ser o meu marido! [risos]. São muitas personagens, muitas imitações. É muito complicado, são 20 anos de bonecos juntos. Ainda no outro dia dizia ao Herman que provavelmente já estaríamos no Guinness, se calhar já fizemos duas mil e tal personagens juntos", adianta a atriz.

Eduardo Madeira partilha do mesmo carinho por José Severino: "Tem de ser o do "Eu é mais bolos". Dei muitas voltas para chegar a esta conclusão, mas acho que essa personagem é fenomenal, a posição dele, o boneco em si, o texto, é tudo perfeito! Mas isto é muito complicado, preferia fazer um top 10 [risos]. Há momentos absolutamente incríveis na carreira do Herman, tudo aquilo que ele fez e os bonecos que criou. É uma obra incrível", atira o comediante.

Já Júlio Isidro, que ficou fascinado com o talento de Herman José e o convidou, por isso, para ser ator residente em O Passeio dos Alegres, em 1980 na RTP1, tem outro preferido: Tony Silva, o cantor romântico que deu nas vistas com a sua brilhantina, lantejoulas e canções românticas. "O Tony Silva foi uma das personagens que ele criou ali no programa, teve a projeção que teve por alguma razão, era um excelente boneco, e depois transformou-se em Serafim Saudade, mas todos os bonecos que ele faz normalmente são grandes criações. É isso que distingue o Herman, ele é um criador de personagens como ninguém, tem um timing extraordinário, imita vozes com grande facilidade, basta ver e ouvir", explica o comunicador.

E por falar em Serafim Saudade, ou "O Verdadeiro Artista" como era o seu cognome, que nasceu no programa Hermanias, Manuel Marques recorda bem esses tempos. "Desde criança que sou um admirador do Herman, em pequeno até costumava imitá-lo na escola! Ainda me lembro de estar na quarta classe, com 9 anos, e a escola organizar um espetáculo de final de ano. E eu fui imitar o Serafim Saudade [risos]! Mas é difícil escolher uma preferida, são todas", diz o ator que tem acompanhado Herman nos seus últimos programas na RTP.

E como esquecer José Esteves (ou, se quiser, Estebes), o comentador desportivo que se estreou em televisão n"O Tal Canal que já não vive sem o seu copo de vinho, o seu FC Porto e algumas asneiras na ponta da língua? "Sou suspeito, ia dizer o Esteves mas não é só por ter ajudado a escrever os textos. Foi realmente uma das suas personagens mais bem conseguidas, aquele sotaque nortenho feito de uma maneira única e ao mesmo tempo sem denegrir a imagem das pessoas do Norte. Pelo contrário, acho que saíram valorizadas com o Esteves. Mas tenho de ser honesto, o Nelo para mim é o melhor de todos, o meu preferido", conta Tozé Brito, amigo de Herman, com quem escreveu O Tal Canal.

João David Nunes, o fundador da Rádio Comercial que levou Herman para aquela emissora no início da década de 1980, também tem um apreço especial pelo comentador desportivo. "O José Esteves foi um dos primeiros bonecos que ele criou na rádio e mais tarde desenvolveu na TV. Agora é fácil pensarmos porque é que ele foi por aquele caminho com a personagem, mas ele exercitou muito tudo aquilo. É incrível a quantidade de personagens diferentes que ele consegue fazer só com a sua voz", frisa o ex-radialista.

Victor de Sousa, amigo e colega de Herman de longa data, recorda os "anos muito trabalhosos mas igualmente divertidos" que passaram a fazer humor na TV. E explica que tem uma admiração especial por Maximiana, aquela que é talvez a personagem mais marcante surgida em Humor de Perdição, a série que a RTP exibiu em 1987. "Eu acho-a particularmente extraordinária, é um boneco excelente, muito divertida. Mas há outras também. O Serafim Saudade e o Tony Silva são muito bons. São bonecos que marcam e divertem os espectadores", conta o ator. Victor de Sousa realça ainda que Herman vivia os seus momentos de criação de personagens muito à flor da pele. "Nós temos uma afeição grande com estes bonecos, porque ele partilhava muito connosco esse estado de gravidez e nascimento das personagens. Ligava-nos muitas vezes muito contente a dizer: "Olha, inventei uma coisa", "e repara nisto" e "olha aquilo". Era muito engraçado", recorda o ator.

Ana Bola, que começou a trabalhar com o "rei" do humor português há quase 35 anos, n"O Passeio dos Alegres, e que desde então tem feito parte da sua equipa de colegas na maioria dos programas de Herman, também menciona a eterna Maximiana. "Eu relacionei-me muito, e durante muito tempo, com a Maximiana, porque interpretava a filha dela, mas é impossível escolher a minha personagem preferida do Herman, são muitas. O Diácono, o José Severino. Há centenas. Ultimamente, o Nelo foi uma caricatura maravilhosa", diz a atriz. Ana Bola acrescenta: "Quando me perguntam porque é que o Herman se distingue dos outros humoristas, eu digo: é porque ele é genial e os outros não [risos]! Simples como isso", remata a comediante. Palavras para quê?

*Com Filomena Araújo

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