Herdeiros da Aldi em guerra pelo controlo dos supermercados

Liderança da cadeia de "hard discount" está a ser disputada no seio da família de Theo Albrecht. A Aldi está em Portugal desde 2006, tendo 48 lojas. E há planos para crescer mais
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A família Albrecht chegou a ser considerada como "mais arredia do que o Abominável Homem das Neves", mas os herdeiros da fortuna do cofundador Theo Albrecht estão a abandonar a habitual discrição na luta pela liderança dos supermercados Aldi Nord, nos quais se incluem as 48 lojas em Portugal. O prémio em cima da mesa é apetecível. No ano passado, só na Alemanha, a cadeia gerou 12,3 mil milhões de euros de receitas líquidas.

"Aldi é a Alemanha e a Alemanha é a Aldi", escrevia há seis anos o Der Spielgel. Era a empresa que melhor exemplificava o "sentido de ordem" e "devoção à eficiência" do país do Norte da Europa. Mas se a luta familiar ganhar maior escala pode ter impacto na estratégia da maior cadeia de desconto do mundo, podendo perder terreno para concorrentes como o Lidl.

No centro da disputa está o controlo dos fundo Jakobus e Markus - que controlam a Aldi Nord, presente em nove países europeus, incluindo Portugal - e ganhou fôlego depois da morte em 2013 de Berthold Albrecht, filho mais novo de Theo Albrecht, cofundador da cadeia. Os seus herdeiros, a mulher Babette e os cinco filhos, quiseram afastar o advogado da Aldi da administração do fundo Jakobus, argumentando que estava a alinhar posições com o outro herdeiro, o filho mais velho Theo. Contestavam ainda a reorganização do fundo feita em 2010, que os afastava da direção. As mudanças tinham tido a concordância do pai, mas a família contesta agora sua capacidade de decisão, pois já se encontrava bastante doente. "Nessa época, o meu marido só dormia por causa da sua doença", disse Babbette Albretch.

Os gastos excessivos de Babette estarão na origem do desconforto familiar. O cunhado Theo Jr. acusa-a de "estar a sobrecarregar a companhia" por se recusar a "subordinar o seu estilo de vida ao interesse do grupo", noticiou a Bloomberg. Nessa carta, Theo Jr. e a sua mãe, Caecilie, também consideraram excessivo os 25 milhões que Babette e os filhos recebem anualmente do fundo. Resposta: "Os meus gastos são um assunto privado." Theo tentou comprar a posição de Babette e, quando viu a sua oferta rejeitada, propôs pagar-lhe 25 milhões por ano se concordassem em seguir a sua votação sobre temas da Aldi. Babette não aceitou.

No início do ano, Theo Jr. fez o impensável numa família que tanto defendeu a sua privacidade ao longo dos anos: falou à imprensa. Ao jornal de negócios Handelsblatt criticou os gastos de Babbette, bem como a prisão de um negociante de arte a quem o casal comprou peças, considerando que isso estava a denegrir a imagem da empresa. "O nome Albretch requer um estilo de vida modesto", disse à Stern.

Apreciador de bons vinhos e boa comida, golfe e carros clássicos - segundo os media alemães -, Berthold terá gasto mais de cem milhões de euros em arte e em carros clássicos, como um Mercedes de 1939 ou um Ferrari de 1960 - o estilo de vida do casal contrasta com a austeridade que desde cedo caracterizou a família e a cadeia de hard discount. Até há seis anos, os caixas inseriam os preços dos produtos à mão, para evitar o custo de ter scanners de leitura de códigos de barras. E é conhecida a luta levada a cabo pelo dono da Aldi Nord, Theo, para poder registar nas contas da companhia o valor pago pelo seu resgate, depois de ser raptado no início dos anos 1970.

A frugalidade ainda é uma característica da cadeia que surgiu depois da II Guerra Mundial, quando Theo Jr. e o seu irmão Karl assumiram a direção da mercearia dos pais. Com uma lógica de baixo preço e poucos produtos - ainda hoje apresenta nas prateleiras menos 10% dos produtos que podem ser encontrados nas prateleiras de um supermercado -, os irmãos construíram um gigante da distribuição. Disputas internas levaram os dois irmãos a separar o negócio em 1961: Karl ficou com a Aldi Sud e Theo com a Audi Nord. Esta última presente em nove países: Portugal, Alemanha, Espanha, França, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Luxemburgo e Polónia.

A Aldi Sud tem a reputação de lojas com mais produtos frescos e com ofertas de marcas de grande consumo, mas a Aldi Nord tem-se mantido mais próxima das origens austeras. Mas com cada vez maior concorrência no retalho e com o consumidor a mudar a sua procura, a cadeia Aldi tem de se renovar. E as mudanças têm vindo a ser feitas. Em 2012, começaram a renovar as lojas: corredores mais largos e maior oferta de produtos de marcas populares como a Coca-Cola.

Em Portugal, a Aldi opera 48 lojas e um sortido de 1500 artigos por loja. "Iremos expandir a nossa presença nos próximos anos, com especial enfoque nas cidades onde ainda não estamos presentes", garantiu Elke Muranyi, responsável de Corporate Responsibility da Aldi Portugal, em entrevista ao jornal Hipersuper. E com os frescos a impulsionar as vendas em Portugal, a cadeia tem vindo a "a apostar cada vez mais na compra de perecíveis, privilegiando a origem nacional".

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