Henrique Sotero: o B.I., a vida, os interesses, os crimes, as provas, a investigação e a pena

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O B.I. 

Henrique Sotero nasceu a 16 de Fevereiro de 1980, em Lisboa.

Tem 1,73 metros de altura, é magro, cabelo castanho frisado. Usava agora o cabelo rapado. E há cerca de dois meses deixou crescer a barba.

É filho de pais divorciados. O divórcio ocorreu quando tinha doze anos. O pai, de 63 anos, vive em Montes Claros, Mértola, Alentejo. A mãe, natural da mesma localidade, mora em Massamá.

Tem um irmão quatro anos mais novo, Hugo. A 'vergonha' levou-o a deixar o emprego de vendedor de imóveis numa imobiliária.

Frequentou a escola preparatória e o liceu Stuart Carvalhais em Massamá. Terá tido sempre boas notas e revelado um QI acima da média.

Frequenta há dez anos o curso de Engenharia Química no Instituto Superior Técnico, que ainda não concluiu. Finalizou várias cadeiras com 19 valores.

A VIDA

É trabalhador-estudante. Trabalha na Zon, como analista de dados, depois de ter estado na PT Multimédia e antes, durante dois anos, na Sotagus (gabinete técnico de coordenação de equipamentos portuários).

Namorava há nove anos com Ana Filipa. Viviam juntos há três, num T3 de 4.º andar em Massamá e usavam aliança de comprometidos. Iam casar.

Na carteira, a foto da namorada dominava. Ter-lhe-á contado há pouco tempo que era ele o 'violador de Telheiras'.

Ana Filipa, de 27 anos, é filha única e os seus pais estão também divorciados. É licenciada em Recursos Humanos pelo ISCTE. Terá trabalhado como socióloga na Câmara de Castelo de Vide e foi técnica do departamento de pesquisa do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa. Deixou o emprego em Janeiro e refugiou-se em casa da mãe.

OS INTERESSES

É benfiquista, mas sem ser um fanático de ir aos estádios. É descrito como tímido, não gosta de multidões, não fuma nem bebe.

Começou a interessar-se por coleccionismo por influência do irmão que coleccionava selos. Ele virou-se para as moedas antigas e frequentava fóruns de numismática. Na Net usava o 'nickname' Tostão.

Participou no concurso 1,2,3 da RTP, apresentado na altura por Teresa Guilherme, onde ganhou 4 mil euros

OS CRIMES

É acusado de 12 violações: sete casos em Telheiras, três em Alfragide e um em Oeiras. Mas terá confessado mais de 40, desde o início da faculdade. Só 5 das vítimas se queixaram à PJ.

As violações ocorriam ao fim do dia, quase sempre às terças-feiras, dia em que dizia em casa que ia ao ginásio (em Massamá).

Interceptava as vítimas à saída das escolas. A maioria era raparigas entre os 13 e 17 anos. Só se conhece o caso de uma de 21.

Violava-as, sob ameaça de uma faca, nas caves, terraços ou casas das máquinas dos prédios de Telheiras.

Obrigava-as a praticar sexo oral ou a masturbá-lo. Uma vez tentou sexo anal. Não demorava mais de um minuto.

Retirava-lhes os telemóveis ou as baterias para que não fizessem contactos após os crimes.

A PJ terá comparado a sua impressão digital com uma deixada num local de violação, um corrimão em Telheiras. Coincidiram.

Foi-lhe também retirado ADN para comparar com a recolha de vestígios das vítimas examinadas. Os resultados devem demorar duas semanas.

Não usava preservativo e não tinha quaisquer cuidados, atacando de cara destapada. Foi por isso identificado por várias vítimas. E existem imensos vestígios para comparação.

A INVESTIGAÇÃO

O caso está entregue à 2.ª Secção dos Crimes Sexuais da PJ que ocupa três salas (uma do coordenador, as outras para os três inspectores).

A polícia procurava-o há dois anos. Nos últimos tempos foram instaladas câmaras nos locais das violações. As fotos mostram repetidamente a sua figura.

É com base nessas fotos e na descrição de algumas vítimas que a PJ traça e divulga o retrato-robô a 26 de Fevereiro.

Chegou a ser interrogado como suspeito. Foi depois desse interrogatório que deixou crescer a barba.

Passou igualmente a ser seguido por um psicólogo. Alegadamente por temer sofrer do mesmo mal da mãe, esquizofrenia.

Terá sido uma chamada anónima de uma colega que levou à sua detenção. Foi interrogado e tornou-se violento, tentando agredir o inspector.

Acabaria por confessar os crimes, mas começando por dispensar ter um advogado oficioso. Acabou por aceitar e será defendido por José António Pereira da Silva, ligado ao Benfica.

A PENA

Quem, por meio de violência ou ameaça grave, cometer crimes sexuais, definidos na lei como o acto de constranger outra pessoa a sofrer ou a praticar, consigo ou com outrem, cópula, coito anal ou coito oral; ou a sofrer introdução vaginal ou anal de partes do corpo ou objectos, é punido com pena de prisão de três a dez anos. É o que pode acontecer a Henrique Sotero.

Mas o número de anos de prisão a que o suspeito for condenado vai depender também do número de crimes provados em tribunal. O surgimento de mais testemunhos de violação, ainda que já não constem para o rol de queixas, por estas terem já prescrito, podem sempre agravar a medida da pena decretada pelo juiz.

No caso de Henrique, os relatórios médicos poderão contribuir para a atenuação da pena, caso seja provado que o indivíduo sofria de uma disfunção psicótica que o fazia agir por compulsão, sem conseguir controlar o impulso sexual.

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