Helmut Federle expõe pintura e cerâmica em diálogo com coleção Gulbenkian

O artista suíço Helmut Federle expõe um conjunto de pinturas abstratas e cerâmicas marroquinas e japonesas, em diálogo com a coleção de arte islâmica da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, numa mostra que abre ao público na sexta-feira.
Publicado a
Atualizado a

Numa visita guiada aos jornalistas realizada hoje, na sede da Gulbenkian, a diretora do Museu Gulbenkian, Penelope Curtis, sublinhou, em declarações à agência Lusa, a importância de criar "conversas" entre a arte contemporânea e a coleção do fundador, Calouste Gulbenkian.

"Helmut Federle. Matéria Abstrata" integra 14 pinturas selecionadas pelo artista, em estreita colaboração com a curadoria do museu, de Jorge Rodrigues, e cerca de 30 cerâmicas das duas coleções.

Helmut Federle disse à agência Lusa que não se considera um colecionador, mas alguém que se interessa por outras culturas e por cerâmica, e tem comprado o que gosta, ao longo das suas viagens: "Compro obras desde anos 1960, quando comecei a fazer viagens pela Tunísia, Japão, Marrocos, Estados Unidos".

"Aceitei expor estas peças de cerâmica no Museu Gulbenkian, porque gostei do conceito do diálogo com peças do fundador, e também de poder expor as minhas pinturas", disse à Lusa o artista de 72 anos, que expõe em Portugal pela primeira vez.

O foco desta mostra está não apenas no modo como as cerâmicas safávidas da Coleção do Fundador e as cerâmicas marroquinas e japonesas da coleção de Helmut Federle, maioritariamente do século XVII, dialogam entre si, mas igualmente na forma como se relacionam com a produção artística contemporânea, ligadas por um sentido geral de abstração.

Foi na Tunísia, onde viveu, que Helmut Federle - que está representado no Museu Coleção Berardo, em Lisboa - comprou as primeiras peças antigas de têxteis, que fazem parte da sua coleção privada.

Questionado pela Lusa se tenciona doá-las a um museu, um dia, Helmut Federle disse: "Por agora quero continuar com elas junto de mim, mas tenho pensado nisso. Há um museu em Zurique dedicado à arqueologia", sugeriu.

Federle é um dos poucos colecionadores ocidentais de taças de chá japonesas, peças vulgarmente assimétricas e monocromáticas, muito valorizadas num país onde a cerimónia do chá assenta numa rigorosa coreografia que convoca a estética, a literatura, os objetos, a arquitetura e as relações sociais.

A visita contemplou ainda uma passagem pela exposição "Emily Wardill. Matt Black and Rat", que se apresenta no Espaço Projeto, a segunda proposta deste novo ciclo de exposições, que reúne um conjunto inédito de obras da produção mais recente da artista.

A mostra inclui dois novos filmes, uma série de relevos escultóricos e um conjunto de fotogramas produzidos especificamente para o espaço.

A exposição, a primeira individual dedicada à artista em Lisboa - onde reside e trabalha desde 2014 -, acontece no contexto de uma parceria entre o Museu Calouste Gulbenkian e a Bergen Kunsthal, e envolve a coprodução de um filme, "No Trace of Accelerator", cuja apresentação se estende à sala polivalente.

Produzida em parceria com o Bergen Kunsthall da Noruega, esta exposição reúne dois novos filmes, uma série de relevos escultóricos e um conjunto inédito de fotogramas, nas quais a artista explora os limites da comunicação e da linguagem, criando narrativas onde convergem realidade, fantasia e sobrenatural, com referências, por vezes, aos filmes de terror.

O filme "I gave my love a cherry that had no stone" (2016), filmado no 'foyer' do Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, "explora a relação performativa do corpo e do espaço e a sua contaminação mútua, afirmadas quer na construção fílmica, quer nas condições de apresentação do filme, materializada numa instalação que desestabiliza a posição do espetador".

Em "No Trace of Accelerator", coproduzida expressamente para as exposições em Bergen e em Lisboa, a artista parte de um misterioso acontecimento ocorrido nos anos 1990, na pequena e isolada cidade francesa de Moirans-en-Montagne.

Na altura, registou-se uma série de incêndios, aparentemente espontâneos, e durante muito tempo sem explicação, o que levou a uma reação e construção coletivas envoltas no medo e na superstição, vindo a dar mais tarde um caso de estudo antropológico.

O fogo é entendido como ação e potência transformadora, um elemento central e catalisador, quer para este filme quer para todo o conjunto de obras reunido nesta exposição, acrescenta a Gulbenkian.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt