Há seis dias na Grécia e cada vez mais pró-grego

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Pode ser porque não cobram entrada nos museus a crianças e adolescentes; porque param nas ruas para explicar aos estrangeiros como se vai para a Acrópole; porque cobram 50 cêntimos por garrafa de água; porque oferecem lugar no metro a quem leva uma menina ao colo; ou porque são gente animada que até nos comícios na Syntagma, onde se discutia o tudo ou nada na relação com a Europa, faziam uma festa onde todos eram bem-vindos, jornalistas ou turistas. Mas a verdade é que gosto dos gregos, já antes gostava, e agora estou cada vez mais pró--grego.

Pode ser porque a Acrópole impressiona como talvez só as Pirâmides fazem; porque as estátuas no Museu Nacional de Arqueologia relembram que a Grécia já era uma civilização quando há 2500 anos o resto da Europa apenas sobrevivia; porque o Museu Benaki, com uma coleção que percorre a história da nação, mostra como a reconquista da independência no século XIX foi fonte de inspiração para povos oprimidos e entusiasmou os europeus, desde o poeta inglês Byron ao pintor francês Delacroix; ou porque de sinfonia a ética passando por átomo (pessoa na aceção original, como se descobre no elevador) até a falar lhes devemos tanto. Repito, mas a verdade é que gosto dos gregos, já antes gostava, e agora estou cada vez mais pró-grego.

Pode ser porque os vi calmos à espera da vez no multibanco; porque não vi ninguém fazer má cara a estrangeiros, mesmo os que chegam dos países que mais dureza defendem com a Grécia; ou porque evitam queixar-se das dificuldades, preferindo mostrar otimismo. E volto a repetir, mas a verdade é que gosto dos gregos, já antes gostava, e agora estou cada vez mais pró-grego.

É por gostar da Grécia, e cá vou continuar entre banhos de cultura e de Egeu, que estou preocupado com os gregos estarem divididos, apesar da vitória clara do oxi (não) no referendo. Entristeceu-me vários dias ver a propaganda do nai (sim) vandalizada, como não apreciei ver ontem de manhã cartazes do oxi atirados ao chão.

A situação é dramática de mais para haver grego contra grego, irmão contra irmão, vizinho contra vizinho.

E evitar que a divisão se consolide é obrigação tanto de quem governa a Grécia como de quem manda na Europa. Os dois lados esticaram demasiado a corda, a ponto de ambos terem perdido a razão. Hoje, a confiança tem de começar a ser reconstruída. Se perder a Grécia, a União Europeia falha a vocação; se deixar a União Europeia, a Grécia abandona aquela que é a sua casa.

Chamem-me utópico. E nisto de contas não há lugar para utopias (palavra grega). Mas estou a ser tão pragmático (outra palavra grega!) quanto me deixa o facto de estar num país onde digo chamar-me Leonídio e ninguém estranha.

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