Guerrilheira Dilma venceu mas ainda não convence

Vinte dias após a vitória da sucessora de Lula, Dilma Rousseff ainda não conseguiu convencer muitos dos eleitores que não votaram em si de que poderá ser a presidente de todos os brasileiros. Todos concordam que, se não fosse a votação maciça do Nordeste do Brasil e o apoio incondicional do Presidente que se aproxima do fim do segundo mandato, a ex-guerrilheira contra a ditadura militar teria perdido as eleições. Até ao fim do ano, Dilma está a fazer um curso presidencial acelerado, mas já tem vários confrontos marcados.
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Em pleno coração do Brasil empresarial, a Avenida Paulista, a pulsação dos eleitores fica muito baixa quando se pede uma opinião sobre a primeira mulher presidente deste país. Ou seja, Dilma Rousseff venceu a disputa eleitoral do último dia 30 mas ainda não convence a maioria dos eleitores, nem muitos daqueles que votaram na sucessora de Lula.

A primeira desconfiança reside na capacidade de liderança e, embora esta questão seja sempre conotada com uma posição machista, ambos os sexos são renitentes quanto a prognósticos sobre um bom desempenho político da recém-eleita. O que mais temem é uma paragem na corrida do desenvolvimento gigantesco de que o Brasil beneficiou nos anos dos dois mandatos de Lula, que estão no fim.

A base privilegiada de apoio a Dilma foi no Nordeste brasileiro e, por isso, compreende-se que os paulistas, bem como os que para ali vieram trabalhar, não tenham votado nela.

É o caso de Ricardo, o porteiro de um hotel de cinco estrelas situado perto da Avenida Paulista, que prefere eleger a corrupção como o principal problema do país e que se escusou a votar na futura presidente: "Preferia a Marina Silva." Considera que os brasileiros estão mais esclarecidos e sabem melhor quais são os verdadeiros problemas. Deve ser por essa razão que desconfia também do sucesso de Lula ao dizer: "Beneficiou-se do Governo de Fernando Henrique Cardoso."

Aguinaldo também desconfia de Dilma, mesmo que na sua banca, em frente ao emblemático museu de São Paulo, o MASP, a fotografia da próxima presidente seja capa de quase todas as revistas e jornais. É directo na acusação: "Lula vai continuar a governar." Também preferia Marina Silva no próximo governo e quanto ao futuro arrisca, a medo, um "pode dar certo". Morador em São Paulo há muitos anos, conhece suficientemente bem a política estadual para alertar que o "PT nunca mais ganhará eleições" a nível nacional se falhar agora.

Também o taxista António Castro está descrente e não votou em Dilma. Desta vez não era Marina a preferida mas José Serra, que perdeu, segundo o seu entender, porque "o Lula mandou e o povão votou na Dilma". Do derrotado, acredita que José Serra não vai tentar ser eleito outra vez.

O bloco de eleitores que é contra a candidata do PT tem também origem na oposição ao próprio partido. Se para Aline, que está desempregada, Dilma tem a vantagem de protagonizar a primeira mulher à frente do governo, tem também a desvantagem de se "importar menos com o Brasil do que aconteceria se fosse José Serra".

O mesmo pensa o chef e proprietário do reservadíssimo restaurante From the Gallery, Ton Vasconcelos, do PT: "Sou contra o assistencialismo que o PT faz porque pune os ricos por o serem e criou uma política de esmola errada." Sobre a governação, não duvida: "Vai patinar, porque não tem experiência e é uma incógnita."

A crer nos depoimentos dos que vivem em São Paulo, Dilma até poderá surpreender, pois ninguém acredita na próxima presidente do Brasil!

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