Grupo Wagner fica em Bakhmut mas Rússia retira civis de Zaporíjia

Moscovo terá prometido as munições e o armamento pedido pelos paramilitares, que tinham ameaçado deixar a cidade. AIEA preocupada com a situação próximo da central nuclear.
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A ameaça do líder do Grupo Wagner de deixar Bakhmut, cujo controlo é disputado há meses rua a rua, terá sortido efeito. Num vídeo no Telegram, Yevgeny Prigozhin anunciou este domingo ter recebido a promessa das forças russas de "dar-nos as munições e armamento que precisamos para continuar as operações". Isto depois de ter acusado a liderança militar de Moscovo de "falta de profissionalismo" e de ser responsável por "dezenas de milhares" de baixas russas. No sábado, tinha pedido à Rússia para que lhe deixasse entregar as suas posições na cidade às forças do líder checheno Ramzan Kadirov.

Prigozhin acusa há vários meses o Estado-Maior russo de não fornecer munições suficientes para os seus paramilitares, impedindo a sua vitória em Bakhmut. Esta, alega o responsável pelo Grupo Wagner, ofuscaria o exército russo. "O inimigo não vai mudar os seus planos e está a fazer tudo o possível para conquistar o controlo de Bakhmut, disse o comandante das forças ucranianas, Oleksandr Syrsky, que visitou a frente leste.

A batalha pelo controlo de Bakhmut, no leste da Ucrânia, tornou-se central do conflito, apesar de a cidade não ter uma verdadeira importância estratégica. Os combates, que têm decorrido rua a rua - este domingo Moscovo alegava ter capturado mais dois quarteirões e Prigozhin dizia que só restam 2,42 quilómetros quadrados por ocupar -, serviram contudo para fixar na região as forças russas que, caso contrário, podiam ter sido destacadas para outras zonas.

Os combates em Bakhmut deram tempo a Kiev para preparar uma contraofensiva, que ainda não se concretizou no terreno. Contudo, têm-se multiplicado os ataques com drones. Este domingo, o exército russo disse ter travado um ataque com 22 drones sobre o Mar Negro (que alegadamente teriam como destino a Crimeia).

Na região de Zaporíjia, os russos estão a proceder desde sexta-feira à retirada dos civis. Mais de 1500 pessoas, incluindo 632 menores, já terão sido deslocados, segundo o governador nomeado por Moscovo, Yevgeny Balitsky. A decisão de retirar de cerca de 18 cidades junto à linha da frente é a resposta à alegada intensificação dos bombardeamentos da parte dos ucranianas. Mas isso terá causado o pânico na região, que está 70% sob o controlo dos russos. Segundo o presidente da câmara ucraniano de Melitopol, Ivan Fedorov, havia filas de cinco horas nas estradas.

A situação está a preocupar a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), devido à proximidade da central de Zaporíjia. "A situação na área perto da central nuclear de Zaporíjia está a tornar-se cada vez mais imprevisível e potencialmente perigosa", disse o diretor-geral AIEA, Rafael Grossi. "Estou extremamente preocupado com a segurança nuclear e os riscos reais enfrentados pela central. Devemos agir agora para prevenir a ameaça de um grave acidente nuclear e as suas consequências para a população e o meio ambiente", acrescentou num comunicado.

O escritor nacionalista Zakhar Prilepin, que ficou ferido na explosão do seu carro num ataque que Moscovo atribuiu aos ucranianos, disse este domingo que não se deixará "intimidar" na primeira mensagem do hospital. "Eu digo aos demónios, vocês não vão intimidar ninguém. Deus existe. Vamos ganhar", afirmou, prestando também homenagem ao amigo e assistente, Alexander Shubin, que morreu no ataque.

Prilepin agradeceu o apoio de todos, confirmou que era ele que ia a conduzir e explicou que havia duas bombas no caminho, mas só uma terá sido detonada. "Obrigado a todos os que rezaram, porque devia ter sido impossível sobreviver a tal explosão", referiu na mensagem. O ex-presidente russo, Dmitri Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança, garantiu que o atentado não ficará impune.

Os ensaios para o desfile militar de amanhã, que assinala o Dia da Vitória soviética sobre os nazis em 1945, prosseguiam este domingo na Praça Vermelha, em Moscovo. O desfile nacionalista ocorre este ano com a segurança redobrada, após uma série de ataques com drones - incluindo contra o próprio Kremlin - e de explosões que causaram descarrilamentos de comboios de mercadorias. Várias regiões junto à fronteira com a Ucrânia optaram por cancelar os seus desfiles, temendo tornar-se num alvo.

No ano passado, o presidente russo, Vladimir Putin, disse no discurso que o exército estava a combater na Ucrânia "para que não haja lugar no mundo para assassinos e nazis", prometendo que "a vitória será nossa, como em 1945". A parada deste ano deverá ser ainda mais reduzida do que a de 2022. E não haverá Marcha do Regimento Imortal, na qual as pessoas usavam fotos dos antepassados mortos na II Guerra, por alegado receio que pudessem usar fotos dos soldados mortos na Ucrânia.

susana.f.salvador@dn.pt

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