"As compras de obrigações portuguesas pelo Banco Central Europeu não vão durar para sempre." A frase é de uma fonte de um grande investidor institucional mundial e serve de aviso futuro, quando os maiores credores do Novo Banco enfrentam mais uma leva de perdas depois de no final de 2015 terem visto serem "confiscados" 2,2 mil milhões de euros em obrigações sénior do banco, que acabaram transferidas para o BES mau, que agrega os ativos tóxicos do antigo Banco Espírito Santo. O anúncio e a decisão do Banco de Portugal apanhou então os investidores de surpresa. Foi um choque..Agora, o Banco de Portugal é de novo visto por investidores estrangeiros como um dos principais responsáveis pela oferta em curso de recompra de dívida do Novo Banco e que acarreta perdas entre 11% e 90% ao longo da maturidade dos títulos, entre entre 2019 e 2052..Fonte de um destes investidores mundiais diz mesmo que aqueles que forem mais penalizados pelas decisões do Banco de Portugal e do Novo Banco, admitem "não voltar a investir em ativos portugueses". "Portugal é que vai pagar no futuro todas estas decisões"..Falando com estes investidores, há quem refira que "as decisões têm sido de algum amadorismo, com falhas técnicas, e com atitudes erráticas e imprevisíveis". Outra fonte refere ainda que, em Portugal, "nota--se uma descoordenação entre as várias entidades. Isto é assustador, porque foram compradas obrigações seniores e nunca se sabe o que vai acontecer"..Os grandes credores uniram-se num comité de obrigacionistas que enviou uma carta ao supervisor por estar contra a proposta do Novo Banco: consideram que a proposta não tem base legal e que, dizem, servirá apenas para facilitar a venda à Lone Star. Estes investidores podem travar a venda do banco já que detêm mais de 30% do valor nominal das obrigações do Novo Banco e a operação exige um nível mínimo de aceitação de 75%..Mas os grandes credores, incluindo nomes como a Pimco, o maior gestor de obrigações a nível mundial e que tem um investimento de 228,6 milhões no banco, enfrentam a ausência de vontade em negociar do lado português. O Banco de Portugal remete as responsabilidades pela oferta para o Novo Banco e este diz que a oferta é transparente e para todos os credores..Certo é que mais uma vez o Banco de Portugal e o Novo Banco enfrentam os maiores investidores do mundo. E estes não estão nada satisfeitos ao terem de enfrentar novos prejuízos. "O Banco de Portugal e o Novo Banco não mostram vontade em negociar de forma construtiva. Isto é simplesmente chantagem", disse fonte de um dos investidores estrangeiros. "Não me parece uma boa forma de atrair investimento estrangeiro no futuro." E pode mesmo afastar investidores da dívida soberana portuguesa, quando deixar de haver a rede de compras do Banco Central Europeu. A expansão do balanço dos três principais bancos centrais - Reserva Federal, Banco Central Europeu e Banco do Japão - deverá abrandar para próximo de zero em 2019..De costas voltadas.Para já, sabe-se que não há negociações entre o Novo Banco e os seus maiores obrigacionistas, que detêm mais de 30% do montante nominal das obrigações do banco. A operação, denominada LME-Liability Management Exercise -, envolve 36 linhas de obrigações e é uma das condições para a venda do Novo Banco ao fundo norte-americano Lone Star. O objetivo do Novo Banco é poupar 500 milhões de euros e reforçar o seu capital. No total, as obrigações abrangem um valor de 8,3 mil milhões de euros..O Novo Banco já respondeu à carta enviada pelo comité de obrigacionistas, mas não divulgou qual foi a resposta. Estes grandes investidores têm mostrado disponibilidade para negociar uma solução mais vantajosa, quando a oferta que está na mesa envolve perdas para os investidores entre 11% e cerca de 90%. Mas para o Novo Banco as condições da oferta são as que estão na mesa, já anunciadas formalmente e são válidas para todos os obrigacionistas, sem exceções. "O Novo Banco respondeu sempre a todos os obrigacionistas ou seus representantes", afirmou fonte do Novo Banco ao DN/Dinheiro Vivo..O braço-de-ferro vai continuar entre o Novo Banco e o comité de obrigacionistas que ainda não decidiu se aceita a oferta. Segundo o DN/Dinheiro Vivo apurou junto do comité de obrigacionistas, "não há negociações em curso". E lamentam que nem o Novo Banco nem as autoridades portuguesas, incluindo o Fundo de Resolução e o Banco de Portugal, têm ponderado propostas construtivas para responder a algumas questões sobre a oferta..Os depósitos foram uma solução anunciada pelo Novo Banco como forma de minimizar perdas para os obrigacionistas e incentivá-los a aceitar a oferta. Oferecem juros entre 1% e 6,84% e o presidente executivo do Novo Banco, António Ramalho, afirmou à Reuters que estes depósitos vão permitir aos investidores recuperar a totalidade do valor investido..Mas alguns fundos de investimento e outras instituições alegam que não podem ter depósitos. Ou seja, não podem beneficiar do"incentivo". Os depósitos, ao contrário de ações e obrigações, não podem ser transacionados no mercado e não podem estar na carteira de alguns dos fundos, apontou uma fonte de um investidor institucional. "Existem questões técnicas, legais, importantes, que não foram tidas em conta na montagem da operação", apontou uma fonte de um dos principais grandes obrigacionistas..Analistas e grandes investidores têm outra opinião e falam em oferta coerciva e que obriga os investidores a aceitar a oferta ou a correr o risco de ver falhar a venda do Novo Banco à Lone Star ou que haja uma liquidação ou nova resolução. No mercado, há ainda quem acredite que o Novo Banco poderá baixar o patamar de aceitação da oferta, para abaixo dos 75%, e ficar com os restantes obrigacionistas que não aceitem a oferta. Questionado sobre esta possibilidade, o Novo Banco não comenta..A oferta decorre até 2 de outubro mas os obrigacionistas terão de dar o seu aval ou rejeitar a operação já no dia 8 de setembro em assembleia geral. Parte destes grandes investidores recorreram para os tribunais devido à transferência de 2,2 mil milhões de euros em obrigações sénior do Novo Banco para o BES mau.