Grande lição 'showbiz' de Beyoncé fechou a noite

Um concerto musical e performativamente poderoso e uma cantora em pico de forma deram ao Rock In Rio brasileiro um fecho de primeira noite em tudo inesquecível.
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Um verdadeiro desfile de mestria shwowbiz, para gáudio de 85 mil admiradores fechou a primeira longa jornada da edição 2013 do Rock in Rio. Beyoncé era de facto a mais desejada da noite e a sua passagem pelo Palco Mundo deixou claro o estatuto de primeira linha que há muito ocupa. Recorrendo a um intenso (e magnífico) trabalho em vídeo que tem em Madonna uma referência, a atuação mostra contudo na cantora um fulgor em palco que parece mais herdeiro dos gestos e energia de uma Tina Turner. Mesmo assim as mais evidentes citações a grandes divas surgiram quando ora entoou um excerto de "Love To Love You Baby" de Donna Summer ou, apenas sob a ajuda da sua própria voz, passou por instantes pelo clássico "I Will Always Love You", de Whitney Houston.

O concerto integrou a digressão Mrs. Carter Show iniciada em Belgrado a 15 de abril e que chegara ao Brasil poucos dias antes em Fortaleza, seguindo amanhã para São Paulo. O alinhamento, apesar de passar seis vezes pelo mais recente álbum "4" (através de temas como "Run The World", "End of Time", "1+1" ou "Party"), alarga horizontes a todos os seus quatro álbuns de originais e junta mesmo "Why Don"t You Love Me", originalmente lançado como single independente. Se coreograficamente o espetáculo é intenso, exigindo tanto da cantora como dos seus bailarinos, o trabalho cénico em vídeo acaba por ser igualmente marcante, definindo os territórios pop onde o alinhamento das canções evolui. Os vídeos, alguns usados como interlúdio para permitir mais uma muda de roupa (e houve muitas!) refletem por um lado um trabalho cuidado de relação com a cor. Mas traduzem também uma certa presença de expressões de poder no feminino, nomeadamente sugerindo a dada altura uma noção de trono e realeza. Longe da iconografia religiosa que habitualmente habita os concertos de Madonna, aqui dominava uma certa iconografia... palaciana.

Mas por muito presente que fosse uma produção milimétrica e grandiosa, foi na música e na comunicabilidade que Beyoncé ganhou a noite. Apoiada por uma banda segura e muito capaz, não se limitou a desfilar uma montra de "êxitos", procurando construir acontecimentos num alinhavar de instantes, em muitos casos citando parte das canções, de umas caminhando para outras num registo fragmentário que já vimos em concertos de um Prince, por exemplo. Mesmo tendo destacado na reta final as presenças, algo inevitáveis, de "Single Ladies" e "Crazy in Love", o concerto não fez de nenhum tema um santo de altar em que se não possa tocar. E até mesmo o belíssimo "Countdown" não conheceu senão expressão, sob mistura diferente, num vídeo de interlúdio.

No final, e depois de muito ter falado com os presentes, caminhado entre a plateia e dirigido os contingentes masculino e feminino que assistiam ao concerto, despediu-se emocionada com a certeza de, tal e qual afirmou, ter feito daquela uma noite da qual nenhum dos presentes se esquecerá. E tem razão!

Bem diferente foi, poucas horas antes, o maçador set de um David Guetta que se repetiu à exustão em fórmulas e até canções perante uma multidão que facilmente se rendeu ao poderio do sucesso dos temas que desfilaram. Apresentando-se como DJ, pegando muitas vezes no microfone para interagir com a plateia, a atuação de Guetta, sempre de mãos ora no ar ora nos botões da mesa de mistura, aliou a uma sucessão dos seus temas mais populares breves visitas a canções de terceiros - como "Song 2" dos Blur ou "I Love it" das Icona Pop - mas reduziu todos os acontecimentos a ciclos repetitivos de crescendos e quebras, numa monótona sequência de sugestões para dançar. É certo que fez da Cidade do Rock uma gigantesca pista de dança. Mas levou dez a zero de Beyoncé logo depois.

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