A teoria de gestão tem desde o início deste século um conceito novo, o das empresas metanacionais, que tem mão portuguesa. José Pinto dos Santos, professor do INSEAD e da Universidade Católica, foi um dos co-autores da teoria, que tem ainda a assinatura de Yvez Doz e Peter Williamson. Foi um dos convidados da Presidência da República para integrar o Conselho para a Globalização..Mas o que é para o professor a globalização? É um fenómeno sobre o qual há uma grande confusão, disse à margem da reunião em Sintra. "Pensa-se que globalizar significa fazer tudo da mesma maneira, tornar tudo igual, mas não foi isso que começou há 20 anos e que está a mudar o mundo." Globalização é interdependência. "Cada vez mais um cada país é dependente de outros países." Até os grandes. Mas para um país pequeno, diz José Santos, "é muito melhor ser interdependente do que ser dependente. É por isso que não consigo perceber como é que se é contra a globalização a partir de um pequeno país"..José Santos reconhece que há um período de confusão, mesmo para as multinacionais que não sabem o que vão fazer daqui a 20 ou 30 anos. Os processos de fusões, grande parte deles, são parte dessa confusão. A única vantagem de se ser muito grande é poder perder dinheiro e cometer-se erros. Mas a flexibilidade é maior em companhias mais pequenas. Os líderes reunidos em Sintra mostraram, segundo disse José Santos, optimismo no futuro, embora reconheçam dificuldades. "A globalização leva ao encerramento do que é menos eficiente, o que a prazo é bom para todos, só que, no entretanto, esses encerramentos causam desemprego, instabilidade em todo o mundo", descreve Pinto dos Santos. .O fenómeno metanacional.José Santos foi co-autor do conceito de empresa metanacional e garante que Portugal tem algumas companhias que se enquadram nessa teoria. Enumera algumas: YDreams, Enabler, Sonae Sierra, Aerosoles. A nível mundial, atribuiu o epíteto de metanacional a sociedades como a ST Microelectronics, Nokia, Airbus, a aliança Renault-Nissan, a Embraer, a Logitech, entre outras. Mas exclui a Ikea ou a Intel desta definição, já que embora sejam companhias com uma forte componente internacional o seu produto é nacional..Portugal não pode ficar de fora desta dinâmica e José Santos dá alguns conselhos para que sejam criadas empresas metanacionais. "É preciso muita energia, porque tem de se andar de um lado para o outro, por isso, é preciso ser feito por jovens, com domínio do inglês total", já que é "preciso compreender, falar, ter contactos, relacionamentos". É a grande diferença, diz, entre ser uma empresa exportadora (que faz o que o cliente pede) e uma metanacional (que vai descobrir o que os mercados internacionais não têm, mas que gostavam de ter). Essa é a falha portuguesa. "O problema é que não conhecemos os clientes lá fora", apesar da vantagem cultural dos portugueses de facilmente se relacionarem com outros povos e culturas. É esse o caminho a seguir. "Usar Portugal porque a mão-de- -obra é barata foi chão que deu uvas, e infelizmente deu uvas, porque se não tivesse dado já hoje estávamos um país diferente". .José Santos aconselha os jovens a passarem mais tempo no estrangeiro, "a fazerem amigos e a ficarem com contactos". São estes jovens que no futuro farão novas Ydreams, novas Enablers. Portugal terá sempre alguma dificuldade em ter multinacionais. "Temos poucas hipóteses de ter uma empresa nacional que possa ser global" a partir de Portugal, com excepção dos casos na cortiça, no vinho do Porto, pasta de papel e turismo. Portugal tem essa dificuldade, como tem a Finlândia ou a Dinamarca. Quanto mais pequeno for o país, menos especialidades consegue ter, explica Michael Porter, citado por José Santos.