Fundador da IKEA foi recrutador do partido nazi sueco

Ingvar Kamprad, fundador da IKEA e um dos homens mais ricos do mundo, foi um membro activo do partido nazi sueco, como recrutador de novos membros, revela um livro da jornalista Elisabeth Åsbrink, lançado na quarta-feira, e que volta a alimentar a já antiga polémica à volta das simpatias do empresário de 85 anos relativamente a movimentos de extrema direita.
Publicado a
Atualizado a

Segundo o Daily Telegraph, o novo livro revela a existência de um ficheiro da polícia secreta da Suécia (país que manteve a neutralidade durante a II Guerra Mundial) sobre Kamprad, datado de 1943. "Prova pela primeira vez que Kamprad foi um membro activo do Svensk Socialistisk Samling - o sucessor do Partido Nacional Socialista Sueco dos Trabalhadores -, inclusive detalhando o seu número de membro: 4013", escreve o jornal britânico.

O livro cita também cartas escritas por Kamprad, quando tinha apenas 17 anos, nas quais ele mostra o seu entusiasmo no recrutamento de novos membros e diz que não perde "qualquer oportunidade de trabalhar para o movimento". As missivas foram interceptadas pela polícia secreta, que na altura considerava que Kamprad devia ter "algum tipo de cargo oficial" no partido nazi, pois recebia o jornal da juventude partidária.

"Ele disse em 1998 que iria colocar tudo em cima da mesa e que não iria esconder nada. Mas porque é que ele não nos disse que foi membro do pior partido nazi e que a polícia considerou esse facto suficientemente sério para criar um ficheiro sobre ele?", questionou Elisabeth Åsbrink. Um porta-voz do empresário desvalorizou o livro, considerando que se trata de "notícias velhas": "Ingvar Kamprad prestou contas detalhadamente em 1994 daquilo que ele descreve como 'pecados de juventude' e o maior erro da sua vida, pedindo desculpas e perdão a todas as partes envolvidas. A IKEA que ele criou baseia-se em princípios democráticos e abraça a sociedade multi-cultural."

O jornal britânico relembra algumas das polémicas que têm envolvido o milionário, que começaram em 1994, quando foram publicadas cartas do líder do partido de extrema-direita New Swedish Movement, Per Engdahl. Esses documentos revelavam que Kamprad deu dinheiro e recrutou membros para o movimento extremista e que Engdahl foi um dos poucos convidados para o casamento do empresário. Ainda no ano passado, numa entrevista a Åsbrink, o milionário mostrou mostrou ter sentimentos mistos sobre Engdhal, considerando que este "foi um grande homem".

Reagindo a novas revelações sobre o seu passado, em 1998, Kamprad disse que não se lembrava se tinha sido membro da Juventude Nórdica, equivalente sueco à Juventude Hitleriana. Mas o empresário nunca admitiu ter pertencido ao Svensk Socialistisk Samling, o partido sueco mais próximo dos nazis alemães e que deixou de usar a cruz suástica como símbolo apenas alguns anos antes de Kamprad se ter inscrito no movimento, diz o Daily Telegraph.

Curiosamente, o livro da jornalista descreve a longa amizade entre Kamprad e um jovem refugiado judeu, que trabalhou para a família do empresário e que desempenhou um papel fundamental na criação da IKEA. "Ele vinha de um meio em que era normal falar mal dos judeus, mas quando conheceu Otto ficaram amigos", conta Åsbrink.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt