Protagonizar o I Love It marca o seu regresso à televisão e à representação em Portugal. Como surgiu esta oportunidade?.Desde que voltei de Madrid, em 2011, que fui estabelecendo alguns contactos com pessoas que estão no meio. Fui sondando, mostrando disponibilidade. E depois foi uma coisa natural, fiz o casting e aconteceu..Mas ainda demorou algum tempo para conseguir. Porquê?.Para quem está de fora pode parecer. Mas as coisas levam o seu tempo, e a minha disponibilidade e a minha maneira de lidar com as coisas é muito própria. Não cheguei e não me pus logo a fazer telefonemas. Fiz o processo inverso do que fiz em Madrid. Em 2011 lancei o meu livro, Verdades e Mentiras de Uma vida Quotidiana, um livro de histórias, de contos, e por isso fiquei muito concentrado no livro. E depois surgiu a oportunidade de abrir um restaurante, o Cascas, em Cascais..O I Love It, inevitavelmente, é comparado aos Morangos com Açúcar....Assisti aos Morangos e acho normal as pessoas associaram uma coisa à outra. Temos tendência para associar o que é novo ao que temos na cabeça, neste caso, a novela juvenil que existiu foi os Morangos. Se não fosse com esta seria com a brasileira, Malhação..Mas elas acabam por ter alguma semelhança, até porque as duas são novelas juvenis e passam às 19.00....Não tem nada que ver com os Morangos. Não é uma novela infanto-juvenil e isso pode fazer toda a diferença. Há um cuidado porque passa às 19.00, mas não temos 16 anos nem fazemos as mesmas coisas. Há vários elementos que mudam, a nossa linguagem, a rutura com a linguagem em televisão, as câmaras entram no quarto, vão à sala, voltam ao quarto, porque não há boca de cena, a história tem um elenco mais velho porque toda a gente já trabalha, tem uma casa para pagar, é diferente. Acho que pode haver alguns pontos em comum, mas tudo é diferente. .A novela aborda temas como drogas, sexo, criminalidade... Isso não é mostrar como se faz?.É preciso ter em conta que nós atores não temos responsabilidade sobre isso. Ou seja, há uma equipa de criação que trabalha muito a fazer episódios para a Plural e TVI, duas empresas privadas. Claro que temos o cuidado com o target para o qual falamos, não vale a pena mostrar tudo, mas não temos a função de ensinar, vamos informando e mostrando que existe... não ensinamos ninguém a roubar, há assaltos, delinquentes, mas tudo de uma forma muito natural. Tenho alguma pena que as pessoas se atirem logo e digam que não estamos a ensinar nada, mas também não temos de o fazer, estamos a entreter. Se falássemos de uma RTP1 ou 2 já era diferente..O que andou a fazer por Madrid?.Andei a viver [risos]. Fui em 2008 e fiquei três anos. Peguei em tudo o que eram as minhas coisas, pus dentro do carro e arranquei..Mas porque decidiu ir para Madrid?.Eu tenho dupla nacionalidade, porque o meu pai é espanhol. Sempre estudei num instituto espanhol, fazia parte da nossa educação, e seria normal aos 18 ir fazer um curso a Madrid. Os meus dois irmãos fizeram isso, mas eu aos 18 anos estava com um projeto em televisão, o Disney Kids, que estava para continuar, não fazia sentido ir. Depois foi o fim do programa e eu estava com um negócio no Algarve..Que negócio era esse?.Um negócio de autocarros. Em que levava as pessoas, naquele caso, de um ponto específico até à discoteca, era o Trigobus. Há uma vertente do Francisco que está mais ligada aos negócios, para me dar estabilidade financeira. A ideia surgiu porque sabia que era uma preocupação o consumo de álcool nas saídas à noite. Apostei, e correu muito bem, fiz o autocarro durante três anos. No primeiro estive mesmo lá, porque o investimento era muito grande, era eu que picava os bilhetes, começava às 23.00, fazia as viagens com eles, e depois vinha gravar de manhã..Não dormia?.Pouco [risos]. No segundo ano já não foi assim, comecei a ter patrocínios, passavam no autocarro cerca de dez mil miúdos..Tinha uma vida estável, tinha trabalho... Quis mudar tudo porquê?.Houve o fecho de um ciclo. Fui também para redescobrir a genuinidade das pessoas: se nos dão o sorriso porque gostam de nós, se é por aparecermos na televisão, por sermos filhos deste ou daquele. Precisava saber se era tão humilde como me considerava, e queria ter uma experiência diferente. Fui à procura de mais uma chapada, de mais um desafio..E não lhe faltaram desafios. Começou logo a trabalhar?.Não esperava começar logo a trabalhar em televisão, porque o mercado é mesmo muito grande. Depois de três-quatro meses lá, fui procurar um agente, mas tinha de ser o melhor. Fui lá, entreguei o currículo, e dois dias a seguir estava a fazer o casting. As coisas começaram a desenrolar-se e ao mesmo tempo estava a estudar Economia. .O que fez em televisão quando esteve em Madrid?.Estive a trabalhar com a Sony, era o responsável pelo Animax em Portugal, desde lá. Fiz Disney e fiquei como repórter para as estrelas internacionais, entrevistei Jonas Brothers, Selena Gomez, Demi Lovato. Como ator fiz uma participação numa série para a Telecinco e fiz ainda uma participação para uma série norte-americana. Correu bem, não tenho um trabalho continuado, vou a Madrid frequentemente fazer castings. Houve trabalho e experiências. A porta está aberta, mas a minha agente sabe que eu estou a gravar agora..Há muitas diferenças na forma de trabalhar?.Ao início achava que sim, que lá era mais profissionalizado. O que é normal, porque o mercado espanhol é muito maior. E hierarquicamente é muito bem feito, lá toda a gente tem valor, cá há muitos anos havia um certo desprezo e desrespeito. Se um ator estava a almoçar com os técnicos era logo olhado de esguelha. Hoje já não é assim, a verdade é que estamos ao mesmo nível de Espanha. .Se tudo corria bem lá, porque voltou?.Da mesma maneira que fui, vim. .Há outros mercados que quer explorar?.Sim, se queremos especializar-nos, temos de ter o menor tempo de espera entre castings. Nem sempre o que entra na conta é o fundamental. Já fiz trabalhos porque era dirigido por Nicolau Breyner, ou por Felipe La Féria. Para já o que está pensado é o mercado da América Latina.Nos próximos dois anos deve acontecer. .Com 25 anos, já fez um bocadinho de tudo. O que se segue?.Nunca parei de trabalhar, nem consigo estar sem o fazer. Nunca pensei em estar só a estudar, era uma coisa que me atrapalhava. Já fui diretor de produto de uma marca de bebidas, responsável de vendas e comercial da Lego para Portugal e Espanha. Mas neste momento estou concentrado no I Love It e no Cascas..A ideia do restaurante foi sua?.Eu pensava ir para o Brasil uns meses, ver como era o mercado, porque é preciso ver que caminho tomar, conhecer as pessoas certas. Falaram-me de dois espaços cá para abrir um restaurante e disse OK, vamos lá montar uma coisa e avancei para o Cascas. As coisas não acontecem do nada, reuni uma equipa de sócios, porque o dinheiro não aparece assim. .Como é que um rapaz com 25 anos já teve tantos negócios? Como consegue esse dinheiro para investir?.É preciso ter em conta que trabalho desde os 5 anos. A televisão esteve sempre presente. Há casos em que tive de me chegar à frente com o que tinha, houve outros em que arrisquei e há casos em que são precisos sócios. As coisas conseguem-se fazer, tem de se querer, correr atrás, ser humilde. Tenho ideias e penso em negócios desde os 14 anos..As pessoas ainda o abordam pela personagem da série Médico de Família, que fez há 15 anos?.Há de tudo. Depende do target. Quanto mais velhos forem, mais próximos ficam de Médico de Família, que foi a série mais vista em Portugal. Quanto mais novos forem, reconhecem-me da Disney. É engraçado que, em ambos os casos, me reconhecem como Francisco. Agora com a novela há mais pessoas a falarem de mim, também criei o meu Facebook oficial, e é bom.