Fortuna, fãs e um cocktail: o legado do rei Arnold Palmer

Morreu, aos 87 anos, o homem que abriu os <em>greens </em>às massas. Para a história fica a forma como tornou popular um desporto de elites
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Chamaram-lhe rei, como a Pelé e a Elvis Presley. E ele teve um impacto semelhante ao do futebolista e do cantor (seus contemporâneos) no desporto e na cultura popular. Arnold Palmer colecionou milhões de dólares, conquistou um exército de fãs e inspirou um cocktail: em suma, transformou o golfe num espetáculo desportivo de massas (enquanto brilhava como a sua maior estrela, nas décadas de 1950 e 1960). É esse o legado que se recorda agora, no momento da morte do antigo golfista norte-americano, aos 87 anos.

O anúncio do falecimento de Palmer - domingo à noite, num hospital de Pittsburgh (Pensilvânia, EUA), quanto aguardava uma cirurgia cardíaca e o estado de saúde se agravou - serviu de pretexto para o mundo do golfe recordar como o desporto mudou no último meio século e isso se deveu, em grande parte, ao rei Arnold, o homem que abriu as portas dos greens às massas.

O legado da velha lenda do golfe é, acima de tudo, uma questão de números. Foi o primeiro a ganhar mais de cem mil dólares de prémios numa temporada do PGA Tour e a ultrapassar a barreira de um milhão de prize money durante a carreira; acumulou sete milhões enquanto jogador e a sua fortuna atual era estimada em cem vezes mais, como fruto de uma marca - de bebidas, comida, roupa ou design de campos de golfe - de dimensão global.

Essas contas de somar foram resultado da ascensão de Arnold Palmer como a primeira grande estrela do golfe nos EUA e a nível mundial - uma das peças dos Big Three (Jack Nicklaus e Gary Player são as outras) que marcaram a modalidade da década de 1960. Pelo seu perfil original (ar de galã, origens humildes, empatia com os fãs e estilo de jogo demolidor), o jogador foi cativando admiradores que não eram o típico adepto de golfe, então um desporto ligado às elites.

O início das transmissões televisivas e a intensidade dos confrontos de Palmer com Nicklaus e Player fizeram o resto: o golfe tornou-se um desporto com cada vez mais popularidade e valor comercial. E Arnold nem precisou de ter tanto sucesso como os rivais - ganhou quatro vezes o Masters de Augusta, uma o US Open e duas o British Open mas não conseguiu completar o Grand Slam (faltou-lhe o PGA Championship) - para ser coroado rei. Bastou-lhe a aclamação popular: em todos os torneios, era seguido por um séquito de fãs, intitulado Arnie"s Army (Exército de Arnie), aos quais - diz a lenda - nunca negava um autógrafo ou dois dedos de conversa.

Para a afirmação de Palmer como figura lendária muito contribuiu a ajuda de Mark McCormack, advogado que passou a representá-lo em 1960, estando na génese da IMG, uma das maiores agências de talentos de desporto e moda a nível mundial. Arnold Palmer inspirou um cocktail homónimo, baseado na sua bebida preferida (metade chá frio, metade limonada) e tornou-se uma marca. Os negócios (da comida à roupa desportiva) renderam ao antigo golfista 40 milhões de dólares só no ano passado.

O resto do legado de Arnold nota-se na disseminação do golfe para lá das fronteiras dos EUA: no início dos 60"s, ajudou o British Open a escapar do ostracismo a que tinha sido votado pelos jogadores norte-americanos (participou no torneio britânico a partir de 1960 e venceu-o em 1961 e 1962); três décadas e meia depois (1995), foi um dos fundadores da estação televisiva Golf Channel. E, pelo meio, deixou assinatura no desenho de centenas de greens.

De certa forma, aí ficou completo o percurso de massificação do desporto que Palmer começara a praticar com 4 anos, no clube onde o pai era greenkeeper. Para os amantes de golfe, "o seu legado é o maior que alguma estrela do desporto deixou no último século": palavra do norte-irlandês Rory McIlroy, uma das figuras atuais da modalidade.

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