Finanças

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José Sócrates recorreu ao prestígio europeu de António Vitorino e Santana Lopes utilizou a imagem de eficácia tecnocrática de António Mexia para credibilizarem os respectivos programas de governo. Mas isso não parece ser suficiente para tranquilizar os agentes económicos e, concretamente, o patronato. Daí que se fale tanto na necessidade prioritária de os dois candidatos a primeiro-ministro apresentarem, mais do que programas de governação, figuras credíveis para o cargo de ministro das Finanças.

Sabe-se que não há economia saudável sem finanças sãs. A escolha criteriosa de um ministro das Finanças será, pois, crucial na arquitectura de qualquer governo. Mas o seu papel não deve assumir uma dimensão politicamente desproporcionada no conjunto das funções governativas, ultrapassando eventualmente as competências do próprio primeiro- -ministro.

Essa distorção não seria apenas anormal, é perigosa. Portugal regista, aliás, um precedente histórico nada invejável à escala mundial, quando um ministro das Finanças passou desse estatuto a ditador da pátria durante quase meio século. Salazar regularizou as contas do Estado, mas deixou um país isolado do mundo, arcaico e retrógrado, onde as liberdades públicas eram reprimidas e a economia vivia dependente do proteccionismo estatal. Não nos libertámos ainda hoje do peso dessa herança e há até quem persista em incensar os seus supostos aspectos virtuosos (como o equilíbrio das contas públicas), menosprezando os resultados funestos em todos os outros domínios.

A fixação exclusiva nas Finanças inibe a reflexão e a procura de respostas para o conjunto dos factores de crise do País. Se as Finanças forem uma obsessão cega da governação, resta- -nos regressar ao passado - e assistirmos ao agravamento de todos os problemas que não fomos (e não seremos) capazes de resolver. Não foi, aliás, o que aconteceu com Manuela Ferreira Leite?

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