Filigrana tradicional começa a tecer os novos fios do 'design'

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Traçam de novo os caminhos de uma arte milenar. Trabalham o fio de ouro e prata com mestria, pondo uma experiência de anos ao serviço dos novos desafios do design. Os artesãos de Póvoa de Lanhoso, mestres na arte da filigrana, procuram agora um novo fôlego e as primeiras parcerias com o design estão a dar frutos no reavivar de uma tradição local que tem vindo a perder dimensão.

Curiosa é a justificação da adesão dos designers: apesar de milenar e vinculada à joalharia tradicional, é uma arte ainda capaz de suscitar paixão. Uma descoberta que está em crescimento ainda e que, neste fim-de-semana, é motivo para o congresso internacional "Terra do Ouro", em Póvoa do Lanhoso.

Fruto das ligações estabelecidas, o trabalho das oficinas está a converter-se à linguagem moderna, por influência dos designers, que encomendam peças inovadoras, mas também porque os próprios artesãos desenvolvem novas formas de criatividade. Os clientes gostam: "Procuram sempre uma peça personalizada e como são manuais, algumas são mesmo únicas." É que, quando não há espírito mecanizado, "depende da disposição do artesão", sorri Custódio Gomes, ourives há 40 anos.

Há cinco anos, um levantamento na freguesia de Travassos assinalou a existência de 40 oficinas de ouro. Hoje, serão apenas 25, a que se juntam mais 15 da vizinha de Sobradelo da Goma. A nível local, crescem os esforços para promover esta arte. Em 2003, o projecto "Leveza", da Associação de Ourives de Póvoa do Lanhoso (AOPL) e da Escola Superior de Arte e Design (ESAD), foi a sementeira para as primeiras parcerias. "O objectivo foi retirar a carga barroca pela qual se orientou a filigrana desde o princípio do século XX", dando-lhe formas leves e contemporâneas do ponto de vista visual, explica a professora Ana Campos, da ESAD. É nas ligações entre quem tem a mestria dada pela experiência e quem domina a linguagem do design que está o futuro, defende José Carlos Marques, um dos intervenientes da ESAD no congresso. O diálogo, reconhece, nem sempre será fácil, "mas é preciso adequar a linguagem e tem que haver cedências".

A pouca procura da joalharia ditou o declínio da actividade, criando o ambiente favorável para que alguns representantes começassem a procurar uma "nova dinâmica". A AOPL está na senda, explica Manuel de Sousa, um dos comissários do congresso, "de uma perspectiva de reanimação, com o apoio da inovação, através da ligação a escolas de design". A ideia tem quatro anos e hoje os artesãos estão convencidos: "Agora fazemos mais peças novas e são as que se vendem melhor", explica Custódio Gomes. A transformação responde às metas traçadas: inovação, promoção e internacionalização. Actualmente, decorre ainda o projecto "Nuances", com o Instituto Politécnico de Viana do Castelo.|

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