Tem de nome Mongibeddu em siciliano, ocupa uma área superior a 1190 km2, superando em quase três vezes a área do Vesúvio. O Etna, vulcão com o seu cume a 3357 metros de altitude, assume-se como um hercúleo dragão de fogo e lava de exuberante atividade, com erupções desde há 500 mil anos. A "montanha de fogo" dos árabes, com mais de 700 cones secundários, é há milénios casa de deuses e entes míticos. Éolo, rei dos ventos, teria enclausurado as tormentas nas cavernas do Etna. Vulcano ali labutou nas suas forjas. O gigante Tifão, preso sob o vulcão, libertou a sua fúria sob a forma das erupções frequentes. Também as lendas arturianas e o seu reino lendário de Avalon encontraram casa no interior do vulcão italiano. No período medieval, as sugestões para a localização da "Ilha dos Bem-Aventurados" incluíam os antípodas e diferentes territórios no Mediterrâneo, como a Sicília. No âmago da montanha supostamente vácua residia Avalon. Desde o século XII que o folclore e a literatura italiana associam o lugar à presença da mulher que veio do mar, a Fada Morgana, sacerdotisa, meia-irmã do Rei Artur, herói mítico de romances de cavalaria. Morgana não reside apenas nas entranhas da terra siciliana. No estreito de Messina, aquele que separa a ilha do território da Calábria, Morgana manifesta-se etérea sulcando as águas do mar. No lugar, há muito que é testemunhado um fenómeno ótico que chama pelo nome da filha de Igraine e Gorlois. Fada Morgana (em italiano "Fata Morgana") é um embuste urdido pela inversão térmica. Uma miragem de generosas proporções, mais comum em regiões polares e, nestas, sobre grandes extensões de gelo, que agiganta objetos que se encontram distantes, por vezes abaixo da linha do horizonte. Ilhas, falésias, montanhas, icebergues, também embarcações, assumem contornos celestiais, similares a castelos de contos de fadas. Ilusões que há séculos induzem a humanidade rumo a terras imaginadas, não raro em direção à perdição..No século XVIII, o clérigo austríaco Gabriel Gruber deteve-se cientificamente sobre o fenómeno denominado Fada Morgana. A miragem tem origem com o tempo calmo. Nessas condições, a separação regular entre o ar quente e o ar frio (este último mais denso) perto da superfície terrestre pode atuar como uma lente refratária, o que produz uma imagem invertida sobre a qual a imagem distante parece flutuar. O fenómeno resulta numa imagem superior muito complexa, com mais de três imagens distorcidas, eretas e invertidas. Uma "projeção" que se metamorfoseia em poucos segundos. Em 1654, o filósofo natural e escritor inglês Walter Charleton apresentou publicamente um tratado, o Physiologia Epicuro-Gassendo-Charltoniana, tomo que dedica várias páginas ao fenómeno registado no estreito de Messina. O mesmo Charleton, que teoriza sobre a miragem, defende que os círculos concêntricos de pedra que constituem Stonehenge são obra de dinamarqueses em devoção a reis e apresenta uma teoria atómica sintetizada na visão de um universo composto por uma quantidade incomensurável de átomos. Das viagens credíveis e imaginadas de Walter Charleton para o cortejo de terras ficcionadas em oceanos inexplorados, a Fada Morgana promoveu páginas de especulações geográficas e foi motor para dezenas de expedições..Em 1810 chegavam notícias de um território setentrional. O mercador e explorador Yakov Sannikov e o explorador e escritor Matvei Gedenschtrom anunciavam a descoberta de terra a norte da ilha Kotelny. O avistamento dos russos decorrera no decurso da expedição cartográfica de 1809-1810 às ilhas da Nova Sibéria. Em 1886, Edward Toll, explorador alemão do Báltico ao serviço da Rússia, afirmou ter avistado a ilha, entretanto batizada de Terra de Sannikov. Catorze anos volvidos, Toll encabeçou uma expedição à região, sem que a ilha mitificada surgisse no horizonte. O mesmo sucedeu nas décadas seguintes. A Terra de Sannikov não passava de uma artimanha ótica da Fada Morgana, que também a oeste urdia as suas fantasias marítimas. Em 1823, o capitão Benjamin Morrell, numa viagem de exploração do mar de Weddell, na Antártida, anunciava a descoberta da Nova Gronelândia do Sul, ou Terra de Morrell. A região inóspita, tomada de nevoeiros, gelos persistentes e meses de escuridão, tornava plausível o avistamento. No século XX, duas expedições, uma em 1912, outra em 1915, capitaneadas, respetivamente, pelo alemão Wilhelm Filchner e pelo britânico Ernest Shackleton, partiram rumo à suposta Terra de Morrell. Uma vez mais apenas o oceano inóspito respondeu à chamada pelo novo território insular..Em águas mais temperadas materializou-se durante séculos a crença da Ilha Brasil, ou Hy Brasil. O território não escapou à cartografia medieval europeia, a par da Ilha das Sete Cidades, das Ilhas Afortunadas e da Ilha de São Brandão. A partir do século XIV, a Ilha Brasil ganha uma localização no Atlântico Norte centro-ocidental e torna-se um lugar apetecível nas demandas marítimas europeias. A procura do território foi uma constante até ao século XVII, do oceano a oeste da Irlanda à região dos Açores e, mais tarde, às Caraíbas e litoral do Brasil. Terras arredias, tão efémeras na sua manifestação quanto o era a miragem. Contudo, lugares que permaneciam perenes no imaginário humano. Assim o foi também a presença por várias décadas da suposta Terra da Fada Morgana. O perfil do território foi observado pela primeira vez em 1907, na costa nordeste da Gronelândia pelos dinamarquês Johan Peter Koch e Aage Bertelsen. Nas décadas seguintes, instigados pelos avanços na tecnologia aérea, sucederam-se os voos de reconhecimento. O explorador ártico Lauge Koch procurou sem sucesso a ilha em 1933. Cinco anos volvidos, uma nova expedição em hidroavião não augurou detetar a ilha. Esta, sabe-se desde a década de 90, resulta de um efeito Fada Morgana, o reflexo de um território insular a 70 km de distância, a Ilha Tobias..Na obra de Henry Wadsworth Longfellow, poeta e educador dos Estados Unidos da centúria de oitocentos, "Fata Morgana" fez-se poema em 1873: "Belas cidades com torres altas/E telhados cintilantes de ouro/Tudo desaparece à medida que ele se aproxima/Como névoas enoveladas; E eu vagueio e vagueio/E para sempre diante de mim brilha/A cidade brilhante da música/Na bela terra dos sonhos.".Sob o efeito da miragem Fada Morgana, um navio projetado no horizonte pode assumir diferentes formas, agigantar-se em altura, criar a ilusão de flutuar, fantasmagórico, sobre as ondas. Um navio cargueiro do século XVII, o Holandês Voador, tornou-se um dos principais herdeiros das ficções engendradas pela Fada Morgana. O navio-fantasma, condenado a singrar eternamente nos sete mares, animou inúmeras lendas. Entre elas uma do século XVIII, protagonizada pelo capitão Bernard Fokke. Este terá insistido em atravessar o Estreito de Magalhães, tempestuoso extremo sul do continente americano. Face aos perigos da empresa, Fokke teceu um pacto com o diabo para salvaguarda do navio. Um acordo que valeu a condenação da nave. Nos últimos séculos sucederam-se os relatos de avistamentos. Em 1881, o futuro rei de Inglaterra Jorge V e a sua tripulação no navio HMS Inconstant, afirmaram ter avistado o navio-fantasma que singrava contra o vento junto ao litoral australiano. A primeira referência escrita ao navio surge no livro de 1790 Travels in various part of Europe, Asia and Africa, de John MacDonald.