Facebook desenvolve relógio inteligente baseado em Android

Gigante de Mark Zuckerberg prepara investida num mercado que deverá crescer 27% este ano, segundo a IDC
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O Facebook prepara-se para entrar no mercado dos relógios inteligentes, com um dispositivo que se focará nas funcionalidades de saúde e bem-estar e na comunicação por mensagens, alavancando as apps detidas pela rede social. Se tudo correr como previsto, e segundo avançou o meio especializado The Information, o smartwatch do Facebook chegará ao mercado no próximo ano, com uma segunda versão planeada para 2023. O dispositivo terá por base o sistema operativo Android, mas o Facebook está a desenvolver a sua própria versão para alimentar o relógio, em vez de utilizar o já existente Google Wear OS.

Um dos elementos distintivos do relógio será a conectividade celular embebida, o que significa que não será necessário emparelhá-lo com um smartphone para aceder à Internet. Mensagens, exercício físico e serviços relacionados com a saúde serão os pontos focais do wearable, seguindo uma receita que tem tido bons resultados com os players que dominam o mercado.

É isso que demonstram os mais recentes números da consultora IDC em relação ao segmento dos wearables, publicado em dezembro. Só no terceiro trimestre de 2020, as vendas globais cresceram 35,1% e atingiram 125 milhões de unidades, um desempenho robusto em ano de incerteza e pandemia. A Apple lidera no segmento específico dos relógios inteligentes com o Apple Watch, mas há outras marcas em destaque nesta área, como a Samsung, Huawei e Fitbit (agora detida pela Google), além de se manter a tendência de subida em pulseiras de fitness como a Mi Band da Xiaomi.

"Este ano, a IDC estima que sejam vendidos 96 milhões de smartwatches, um crescimento de 27% face a 2020 e o segmento vai continuar a crescer a uma média de 16% ao ano nos próximos quatro anos", disse ao DN Francisco Jerónimo, vice-presidente associado da divisão de dispositivos na IDC EMEA. O analista explicou que "há muito espaço para crescer" no segmento dos relógios inteligentes, uma vez que a taxa de adoção destes dispositivos é bastante reduzida em comparação com os smartphones, aos quais estão intrinsecamente ligados.

Para o Facebook, o investimento não só permitirá estender o alcance das suas aplicações para lá do smartphone como também se enquadra numa estratégia de expandir as suas capacidades de hardware, que neste momento incluem o dispositivo de videoconferência Portal, os óculos de realidade virtual Oculus e uns óculos inteligentes a lançar este ano.

A empresa tem cerca de seis mil funcionários a trabalhar nos vários projetos de hardware, segundo a Bloomberg, e os dados avançados pelo The Information indicam que o projeto de relógio inteligente já está bastante avançado.

Em termos de preços, o plano do Facebook será tornar o dispositivo muito competitivo em relação à concorrência, vendendo-o próximo do preço de custo. Isto apesar de a adoção de smartwatches ser maior no segmento mais premium, o que explica a dianteira do Apple Watch, cujo preço começa nos 229 euros para o já antigo Series 3 e 439 euros para o mais recente Series 6.

No entanto, Francisco Jerónimo chama a atenção para outro aspeto que poderá influenciar a receção do relógio da rede social no mercado.

"A questão principal neste caso não é se há espaço, porque claramente há, mas se um smartwatch da Facebook que faz o tracking dos utilizadores 24x7 e recolhe ainda mais dados desses utilizadores, incluindo os dados de saúde e fitness, terá aceitação por parte dos utilizadores."

A dúvida está relacionada com os problemas constantes que o Facebook tem tido com dados, privacidade e monitorização dos utilizadores, não apenas na rede principal mas também nas outras plataformas que detém, incluindo Instagram e WhatsApp.

Antes do relógio, o Facebook lançará este ano um par de óculos inteligentes em parceria com a Luxottica, casa-mãe da Ray-Ban. Na conferência Facebook Connect 2020, Mark Zuckerberg descreveu o wearable como "o próximo passo no caminho para os óculos de realidade aumentada." O CEO também anunciou o lançamento do Project Aria, um dispositivo para fins de investigação no segmento dos óculos inteligentes.

Segundo o The Information, o diretor de tecnologia Mike Schroepfer disse, numa reunião com funcionários, que a empresa planeia continuar a investir em hardware.

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