Fabricação de papel: uma das quatro grandes invenções da China

A técnica de fabrico de papel nasceu em terras chinesas há cerca de 2000 anos, sendo uma das quatro grandes invenções da Antiga China. Durante a Dinastia Han Oriental (25-220 d.C.), Cai Lun aprimorou a fabricação de papel e, daí em diante, este passou a ser um material de escrita de baixo custo e de qualidade. Na Dinastia Tang (618-907 d.C.) esta técnica foi introduzida na Arábia e, posteriormente, na Europa.
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A técnica de fabrico do papel, inventada na China há cerca de 2000 anos, tem sido amplamente utilizada em todas as nações do mundo. Esta técnica, juntamente com a bússola, a pólvora e a impressão, são consideradas as quatro grandes invenções da Antiga China.

Antes da sua invenção, eram usados para a escrita materiais raros, como carapaça de tartaruga, ossos de animais ou bronze. No entanto, devido à sua escassez, estes eram exclusivamente reservados aos imperadores e aristocratas. Posteriormente, os antigos chineses começaram a escrever em pedaços de bambu tratado, conhecidos como "tabuinhas de bambu". Embora fosse mais fácil ter acesso ao bambu, o número de carateres que podiam ser escritos era limitado. Se se quiser transcrever integralmente a obra Os Anais (uma crónica da China Antiga), de Sima Qian, nessas tabuinhas, serão necessários mais de dez mil pedaços de bambu, que poderão pesar até 50 quilos e ocuparão uma sala inteira, o que é extremamente inconveniente.

Também a seda, por sua vez, leve e suave, era um bom material para a escrita, mas era muito dispendiosa.

A técnica de produzir papel nasceu na China. Durante a dinastia Han Ocidental (202 a.C.-25 d.C.), as pessoas já dominavam os métodos básicos do fabrico de papel, mas devido à qualidade inferior e à produtividade limitada, o papel não dava para substituir as tabuinhas de bambu e a seda. À chegada da Dinastia Han Oriental (25-220 d.C.), Cai Lun, um funcionário da corte imperial, havia feito um balanço das experiências do fabrico do papel do período Han Ocidental e, após inúmeras tentativas, conseguira produzir um papel de alta qualidade com baixo custo a partir de materiais como casca de amoreira, fibra de bambu, retalhos de tecido e redes de pesca velhas. No ano 105 d.C., o imperador He, da Dinastia Han, ordenou a divulgação do uso do papel em todo o país, fazendo com que o papel se tornasse o material mais comum para a escrita.

O aparecimento do papel promove a difusão e herança cultural chinesas. As propriedades físicas do papel, como a leveza e a resistência à decomposição, permitem a facilidade da conservação, reprodução e divulgação dos clássicos chineses, como os Analectos. Além disso, a natureza suave do papel é ideal para a escrita com o pincel, que é fundamental para a caligrafia e pintura tradicional chinesas.

Durante a Dinastia Tang (61-907 d.C.), surgiu o papel tingido, específico para escrever poemas. A poetisa Xue Tao extraiu corantes das flores e cascas da rosa-louca (Hibiscus mutabilis) para tingir o papel de vermelho, e recortou-o em formatos padronizados. Este tipo de papel, bonito e propício para a escrita dos poemas e cartas, tornou-se muito popular entre os literatos e aristocratas.

No período Song e Yuan (960- 1368 d.C.), o papel era usado até para as artes cénicas. Os artistas recortavam personagens de cartão e, com o auxílio da luz, as suas imagens eram projetadas em telas de papel. Este tipo de espetáculos ainda hoje é designado por Teatro de Sombras.

Após a inovação da técnica de fabricação de papel por Cai Lun, o papel chinês espalhou-se rapidamente para as regiões ocidentais. No entanto, foi durante a Dinastia Tang que a técnica se difundiu para o Ocidente. No ano 751 d.C., uns artesãos fabricantes de papel do Exército de Tang, capturados pelas forças do Império Árabe, começaram a transmitir aos árabes a técnica de fabrico do papel. Daí, a técnica foi divulgada para o mundo árabe, chegando a Samarcanda, Bagdad e Damasco os três principais centros da fabricação de papel. No século X, foi levada pelos árabes para Espanha através de Marrocos, e chegou a outros países europeus, como França, Itália, Alemanha e Portugal nos séculos XII e XV.

Com a chegada da técnica à Europa, o papel substituiu os pergaminhos feitos de pele de ovelha e bezerro, e passou a ser o principal material de escrita, facilitando a transcrição e disseminação de importantes textos religiosos, como a Bíblia. Em paralelo, graças à invenção do papel, circulou pela Europa o Livro das Maravilhas do Mundo, de Marco Polo, através do qual os europeus ficaram a conhecer o mundo oriental.

O avanço tecnológico do fabrico do papel, e a invenção da imprensa mais tarde, aceleraram a propagação da escrita e possibilitaram a produção massiva de livros. A sinergia desses fatores tem facilitado a disseminação do conhecimento e das culturas ao redor do mundo, promovendo os intercâmbios e aprendizagem mútua entre as diferentes civilizações.


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