Ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé nega diferendo com o papa

O ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, gabinete do Vaticano que lida com casos de abuso sexual, negou hoje diferendos com o papa Francisco e disse não estar aborrecido com o afastamento de funções.
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No sábado, o papa dispensou o cardeal alemão Gerhard Müller, recusando-se a renovar o mandato de cinco anos do responsável pelo gabinete do Vaticano que processa e avalia todos os casos de padres acusados de violar ou abusar sexualmente de menores.

Numa entrevista hoje no jornal alemão Allegemeine Zeitung, citada pela agência Associated Press, Gerhard Müller disse que Francisco decidiu simplesmente não lhe renovar o contrato, querendo limitar termos como uma regra. "E o meu foi o primeiro onde ele decidiu por isso em prática", referiu.

"Não me deixa particularmente triste. Toda a gente tem que parar a dada altura", defendeu.

Gerhard Müller adiantou que irá permanecer no Vaticano para fazer investigação, desempenhar o seu papel de cardeal e fazer trabalho pastoral.

O papa Francisco nomeou Luis Francisco Ladaria Ferrer, arcebispo titular de Tibica e até agora secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, para suceder a Gerhard.

A notícia da não renovação do mandato de Gerhard Müller surgiu dias depois de o papa ter autorizado o ministro das Finanças do Vaticano, que pediu licença de funções, de se deslocar à Austrália para se defender em tribunal num caso de alegado abuso sexual.

Durante a vigência de cinco anos de Gerhard Mueller, o gabinete acumulou dois mil casos e sofreu fortes críticas por parte da irlandesa Marie Collins.

A 01 de março, Marie Collins, uma das vítimas de abuso sexual cometido por sacerdotes, renunciou ao cargo que ocupava na Pontifícia Comissão para a Tutela de Menores, criada em 2014 exatamente para investigar esses crimes.

Segundo Marie Collins, havia uma resistência "inaceitável" às propostas da comissão por alguns organismos da Santa Sé.

Em maio, o papa assegurou que nunca assinou um indulto a padres envolvidos em escândalos de abusos sexuais e reconheceu que os processos estão muito atrasados, com "dois mil casos amontoados".

Na altura, Francisco deu "alguma razão" à irlandesa, afirmando que "há muitos casos atrasados, porque se amontoavam ali", e referiu mesmo que "há dois mil processos amontoados".

A congregação assumiu a responsabilidade de processar os casos de abuso sexual de crianças em 2001, depois do então cardeal Joseph Ratzinger, que se tornou o papa Bento XVI, determinar que as dioceses não estavam a penalizar os religiosos envolvidos como requeria as leis eclesiais.

Na quinta-feira, o cardeal George Pell anunciou que pediu uma licença para se defender, já aceite pelo papa, das funções de ministro das Finanças do Vaticano, na sequência das acusações da polícia australiana sobre abusos sexuais.

A polícia do Estado australiano de Victoria acusou o cardeal de 76 anos de crimes de abusos sexuais de menores, tendo sido intimado a comparecer perante o tribunal de primeira instância de Melbourne no dia 18 de julho.

George Pell disse na quinta-feira aos jornalistas que vai comparecer e negou as acusações, que classificou de "assassinato de caráter".

Principal conselheiro financeiro do papa Francisco e representante da Igreja católica na Austrália, George Pell é o mais alto membro do Vaticano a ser formalmente indiciado por crimes relacionados com abuso sexual de menores.

Durante vários anos, Pell enfrentou alegações que o acusavam de encobrir abusos cometidos por membros da igreja católica na Austrália, quando era arcebispo de Melbourne e depois em Sidney.

Mais recentemente, Pell tornou-se alvo de investigações da polícia de Victoria, que o interrogou no Vaticano, em 2016.

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