Ex-espião crítico de Putin envenenado em Londres

Publicado a
Atualizado a

a Scotland Yard indicou ontem que está a investigar o alegado envenenamento, em Londres, de um ex-espião do FSB (antigo KGB). Alexander Litvinenko encontra-se em estado "grave" depois de ter ingerido tálio, um metal pesado tóxico usado para matar ratos, segundo fontes policiais e médicas citadas pelos media britânicos.

Muito crítico do regime de Vladimir Putin, dissidente dos serviços de informações russos, Litvinenko investigava, actualmente, a morte da jornalista Anna Politkovskaya. Esta foi assassinada a tiro por desconhecidos, em Moscovo, no mês passado.

Tudo começou no dia 1, horas depois de o ex-espião russo ter almoçado num restaurante japonês de Picadilly Circus com um "contacto" italiano que disse ter informações sobre a morte de Politkovskaya, nomeadamente nomes de agentes do FSB implicados no seu assassínio.

"Ele [identificado pelos media como Mario Scaramella] deu-me alguns papéis que continham nomes - possivelmente daqueles que estiveram envolvidos na morte de Anna Politkovskaya. E horas depois comecei a sentir-me mal", contou o ex-espião, à BBC, há duas semanas.

"A julgar por estes documentos, as pistas do assassínio de Politkvoskaya levam ao FSB russo", precisou numa outra entrevista citada pelo TheIndependent online, acrescentando que iria entregar os documentos ao bisemanário onde trabalhava a jornalista - o Nováya Gazeta.

Exilado no Reino Unido há seis anos, cidadão britânico há um mês, Litvinenko, de 44 anos, foi recentemente levado para o Universal College Hospital de Londres, depois de apresentar sintomas como perda de cabelo e ausência quase total de glóbulos brancos, vómitos e, mesmo, rins profundamente danificados.

Alex Goldfarb, um amigo que o visitou no hospital, onde tem segurança apertada, relatou ontem à Sky News: "Tem um aspecto terrível. Perdeu o cabelo. Fala com dificuldade e não come há 18 dias. Não sabe quem o envenenou. Mas não tem dúvidas de que isto foi instigado pelos serviços secretos russos."

O tálio, disse à BBC John Henry, toxicólogo do St. Mary Hospital, "é um pouco como o sal de mesa. E não tem sabor, cor, odor". Explicando que basta uma grama daquele metal para matar, o médico também envolvido no caso Viktor Iuchtchenko garantiu que, "sem dúvidas", Litvinenko foi "envenenado com tálio".

Este metal pesado foi usado ao longo dos anos por muitos serviços secretos, estando, por exemplo, relacionado com uma alegada tentativa de agentes sul-africanos para envenenar Nelson Mandela, quando estava preso em Robben Island.

O alegado envenenamento de Litvinenko, julgado à revelia por traição na Rússia, está a ser investigado pela Scotland Yard, mas até agora "não houve detenções", confirmou a polícia britânica.

O ex-espião do FSB tornou-se uma figura controversa na Rússia quando, em 1998, denunciou ter sido encarregue de assassinar o oligarca russo Boris Berezovsky. Mais tarde, já exilado no Reino Unido, escreveu um livro em que acusava agentes do FSB de estarem na origem dos atentados bombistas contra blocos de apartamentos, em 1999, nos quais morreram dezenas de pessoas.

Os separatistas chechenos foram culpados. O Kremlin - que não reagiu à notícia do envenenamento - ordenou depois o início de uma nova ofensiva militar na Chechénia.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt