Ex-director da CIA acusa Cheney e Wolfowitz pela guerra do Iraque

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O 'slam dunk' de Tenet não se referia às armas de destruição maciça

"Slam dunk - cesto poderoso e muitas vezes dramático, em basquetebol", segundo o dicionário americano Webster, "afundanço" segundo a gíria basquetebolista portuguesa. E agora, a expressão que levou à guerra no Iraque. O ex-director da CIA George Tenet não está contente com o aproveitamento feito da expressão que admite ter proferido, mas com outro sentido. A língua é traiçoeira...

No seu livro No centro da tempestade, que será lançado em breve, George Tenet lembra ter visto uma intervenção do vice-presidente Dick Cheney no programa televisivo Meet the press, em que por duas vezes disse que o seu slam dunk foi uma das bases da decisão para ir para a guerra. No livro, Tenet escreveu: "Lembro-me de ter visto e pensado: 'Como se tu precisasses que eu dissesse slam dunk para te convencer a ir para a guerra contra o Iraque'."

Na entrevista que deu ao 60 minutos da CBS, Tenet diz que o slam dunk não se referia às armas de destruição maciça que teria Saddam Hussein, mas à informação que poderia ser usada para defender a opinião junto do público: "Queria dizer 'Nós podemos construir um caso melhor argumentado para uma apresentação pública'."

O ex-director da CIA considera que foi Dick Cheney e alguns dos então chefes do Pentágono, como Paul Wolfowitz, que mais defenderam o ataque ao Iraque quando ele queria concentrar-se só na al-Qaeda. E que as dificuldades no combate à rede terorrista começaram muito antes.

Na década de 1990 conseguiu um acesso privilegiado ao então líder republicano da Câmara dos Representantes, Newt Gingrich, a quem explicou que estava a tentar infiltrar a organização de Ussama ben Laden e que precisava de mais fundos. No entanto, a Administração Clinton cortou em 25% o orçamento da CIA, que Tenet dizia já não chegar para o trabalho. Foram-lhe dados suplementos, mas apenas por um ano.

Apesar de todas estas revelações, as declarações mais controversas de Tenet referem-se às "técnicas aperfeiçoadas de interrogatório" utilizadas pela CIA no programa "detidos de alto valor" - quadros superiores da al-Qaeda. Ao 60 minutos, Tenet afirmou: "Isto é o que eu lhe posso dizer a si, ao Congresso, ao povo americano, ao Presidente dos EUA: eu sei que este programa salvou vidas. Eu sei que desfez conspirações. Eu sei que este programa, sozinho, vale mais do que o FBI, a CIA e a Agência Nacional de Segurança juntos foram capazes de nos informar."

Tenet apressou-se a dizer que não torturou ninguém. "Toda a gente se esquece do contexto central em que vivemos: o medo palpável que sentíamos com base no facto de haver tanto que não sabíamos", afirma, recordando o pós-11 de Setembro.

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