Na antiguidade, o movimento dos planetas era tido como perfeito, regular e eterno, pois tudo o que se encontrava na esfera celeste era divino, sendo a Terra o centro do universo. Gerações de astrónomos e matemáticos procuraram compreender estes movimentos, mas só a partir do século XVII, quando Galileu apontou uma luneta para estes corpos, foi possível demonstrar que os planetas se moviam em torno do Sol. Quase simultaneamente, Kepler mostrou que as órbitas tinham a forma de elipses (e não círculos) e que estes movimentos eram periódicos e previsíveis..A questão da evolução, e sobretudo da estabilidade do sistema solar, foi colocada um pouco mais tarde, com a descoberta da lei da gravitação universal de Newton, publicada em 1687. Os vários planetas interagem gravitacionalmente uns com os outros, tendo como principal consequência a alteração e evolução das suas órbitas ao longo do tempo. Embora as órbitas actuais sejam regulares e impeçam a colisão entre os diferentes planetas, impunha saber-se se tal não poderia acontecer no futuro. Este problema fascinou os cientistas até aos dias de hoje..Durante o século XVIII, Laplace e Lagrange demonstraram que as órbitas eram estáveis, quando se tinham em conta apenas as perturbações mais importantes (ditas de primeira ordem). Apesar de as órbitas variarem ao longo do tempo, estas variações aparentavam ser cíclicas. Já no século XIX, Poisson e Poincaré demonstraram que este resultado era ainda válido para perturbações de segunda ordem. A estabilidade do sistema solar parecia assim estar assegurada. .Porém, Poincaré notou que as perturbações de ordem superior, apesar de extremamente pequenas, poderiam crescer com o tempo e dar origem a comportamentos caóticos e imprevisíveis. Só na segunda metade do século XX, com o surgimento dos supercomputadores foi possível simular a evolução do sistema solar de uma forma completa. A natureza caótica do sistema foi confirmada, o que complicou ainda mais a questão da estabilidade: o sistema actual pode evoluir em direcções diferentes, algumas estáveis, mas outras possivelmente instáveis. .A resposta final chegou apenas em 2009, ano em que se comemora o Ano Internacional da Astronomia, em homenagem às descobertas de Galileu há exactamente 400 anos. Jacques Laskar (Observatório de Paris) efectuou em computador 2500 simulações diferentes da evolução futura do sistema solar. Concluiu que 99% das simulações eram estáveis, mas que existe a probabilidade de 1% da órbita de Mercúrio aumentar de tamanho. Este acontecimento altera bastante as órbitas de Vénus, da Terra e de Marte, podendo observar-se colisões entre todos estes planetas. Podemos então dizer hoje que o sistema solar não é estável, embora a probabilidade de este poder vir a ser desestabilizado seja extremamente baixa.