A candidata presidencial americana Hillary Clinton fez anteontem um duro ataque à política da administração Bush na área da ciência, prometendo acabar com as "pressões políticas" no sector. Certos temas, como a investigação em células estaminais e o ensino da teoria da evolução estão a tornar-se controversos e não apenas nos EUA. Também na Europa, a biologia se mistura com religião..A senadora democrata, que se encontra entre os favoritos na corrida à Casa Branca, acusou os republicanos de estarem a fazer uma autêntica "guerra à ciência". Hillary prometeu acabar com os limites na investigação das células estaminais e referiu planos para um estudo profundo das mudanças climáticas. Se vencer as eleições, tenciona dar um impulso ao programa de exploração espacial tripulada, rumo a Marte..Tudo indica que serão importantes, na campanha das eleições de Novembro de 2008, as discussões sobre clima e biologia. A direita religiosa é forte no Partido Republicano e três candidatos dizem não acreditar na evolução. O líder nas sondagens, Mitt Romney, um mórmon, não esconde o embaraço. Romney não se opõe ao ensino do design inteligente, tese criacionista que atribui a uma inteligência superior alterações biológicas constatadas pelos evolucionistas..Os democratas prometem politizar a questão. "Acredito na evolução e estou chocada com algumas coisas que responsáveis políticos têm andado a dizer", afirmou Hillary Clinton, citada pelo New York Times, referindo-se aos opositores republicanos..A questão atinge entretanto outros países. No Reino Unido, o ensino da teoria da evolução é cada vez mais difícil em certas escolas, sobretudo frequentadas por muçulmanos. A afirmação é de Michael Reiss, do Instituto de Educação de Londres. Este responsável disse à BBC haver "uma proporção maior de famílias muçulmanas que não aceitam a teoria da evolução, em comparação com famílias cristãs". Segundo Reiss, 10% dos britânicos acreditam na interpretação literal das histórias criacionistas, com base na Bíblia ou Alcorão. E alguns professores receiam ensinar a evolução ignorando o criacionismo..A questão coloca-se em outros países com minorias religiosas muçulmanas (França, Bélgica ou Suíça, por exemplo), mas também em regiões de maioria cristã. Na Alemanha, houve uma controvérsia recente, quando a responsável pela educação no Estado de Hesse, Karin Wolff, disse que a versão bíblica da criação devia ser ensinada ao mesmo tempo que a teoria da evolução. Mais tarde, Wolff, uma luterana, retratou-se. O cientista Ulrich Kutschera comentou o caso para a Deutsche Welle, pedindo a Wolff que se actualizasse e lesse um livro de ciência: "De um lado estão os mitos criacionistas, do outro a biologia evolucionista"..Mas, com a contaminação política, a questão não parece ser assim tão simples. O ex-secretário de Estado da Educação polaco disse este ano que a teoria da evolução era "uma mentira". Miroslaw Orzechowski é membro da Liga das Famílias Polacas, partido de extrema-direita cuja saída do governo originou eleições antecipadas. O tema da evolução ainda não rebentou na campanha para as eleições de dia 21, o que talvez seja uma evolução. |