EUA e China preparam século XXI

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O Presidente da China, Hu Jintao, chegou ontem a Washington, para uma visita oficial de quatro dias aos EUA que incluirá dois jantares com o Presidente Barack Obama em vez de um, o que sublinha a importância diplomática da deslocação. A China precisa de tecnologia e os EUA querem resolver o conflito cambial com Pequim antes que este afecte a sua economia.

As duas superpotências tentam acomodar a relação difícil e a visita coincide com uma tensão cada vez mais evidente, não apenas devido a questões financeiras, mas sobretudo por causa das ambições chinesas no sul da Ásia, que os americanos observam com alarme e desconfiança.

Hoje realiza-se a oitava cimeira entre Obama e Hu, prevendo-se a assinatura de acordos de comércio nas áreas de ambiente e da energia, além da eventual venda de aviões civis. Mas em pano de fundo estarão os numerosos motivos de conflito, sobretudo Direitos Humanos, Taiwan, Tibete, Coreia do Norte, o controlo do Mar da China, acesso a mercados, ambições militares, entre outras. Estas questões ameaçam uma relação bilateral dominada por relações comerciais estreitas, aquilo a que alguns já chamaram "Chimerica".

Na realidade, os dois países estão profundamente ligados (ver gráfico) e a China continua a registar forte dinâmica económica: Pequim anunciou ontem que o investimento directo externo em 2010 aumentou 17,4% face ao ano anterior, ultrapassando 105 mil milhões de dólares. E muito deste dinheiro é americano. Os investimentos chineses no exterior cresceram a um ritmo de 15%.

Os EUA querem que a China valorize a sua moeda, o yuan, que aumentou 3,9% desde Junho. Pequim quer evitar uma valorização demasiado rápida, que afecte as suas exportações, mas os americanos acusam a China de manter o câmbio artificialmente baixo e ameaçam retaliar. A nova maioria republicana na Câmara dos Representantes estará pouco disposta a dar tempo à diplomacia. Em causa, está o défice comercial americano e, segundo os falcões, milhões de empregos nos EUA.

Para já, a rivalidade sino-americana tem expressão sobretudo económica. Os cálculos variam, mas há estimativas de que a China pode ter um PIB real superior ao americano já em 2020. Em paridade de poder de compra, a ultrapassagem ocorrerá em 2012. Isto significa que os chineses têm dinheiro para gastar e querem acesso a tecnologias, matérias-primas, empresas, além do fim das restrições à exportação de equipamentos estratégicos. Mas as aquisições chinesas são vistas como desenvolvimentos preocupantes.

A questão geoestratégica é ainda mais complexa. Ontem, Taiwan iniciou manobras militares para tranquilizar a população, mas o lançamento de 19 mísseis foi um fracasso, pois cinco falharam os alvos. Os EUA estão a vender armas sofisticadas a Taipé, sendo este um dos problemas centrais da relação sino-americana. Outra questão difícil é a Coreia do Norte, cada vez mais ameaçadora e protegida pelos chineses.

Em Outubro, Barack Obama esteve na Ásia, mas sem visitar a China, preferindo incluir Índia, Coreia do Sul ou Japão na viagem, países democráticos com os quais Pequim tem relações difíceis. A mensagem foi clara: estes são os nossos aliados na região. Obama e Hu tentarão nos próximos dias lançar um diálogo que permita resolver todos os problemas, criando uma forma de coabitação para o resto do século. Mas a tarefa parece difícil e, se falhar, então os dois países estão em rota de colisão.

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