Este Da Vinci é meu, diz falsificador

Artista britânico garante ser ele o autor de um desenho que os especialistas atribuem a Leonardo.
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"La Bella Principessa" é atribuído a Leonardo da Viinci pelos especialistas e valerá qualquer coisa como 142 milhões de euros. Se não for afinal obra de um falsificador, já condenado em tribunal.

Shaun Greenhalgh, que cumpriu uma pena de quatro anos e oito meses de prisão depois do julgamento num tribunal do Reino Unido por falsificação de obras de arte, em 2007, garante que o quadro foi pintado por ele em 1978, e que não é um retrato da filha ilegítima do duque de Milão, Bianca Sforza (à época com 13 anos), mas sim de uma colega no supermercado em Bolton. É que o diz num novo livro, "A Forger's Tale" (A Fábula de um Falsificador", numa tradução livre do título).

Sally será afinal o nome da rapariga, uma das assistentes de caixa do estabelecimento comercial. "Apesar da posição humilde, era uma chata mandona e muito cheia de si", diz sobre a mulher que o terá inspirado.

Além de ter feito o seu próprio giz e tinta, a partir de barro e carvão de uma árvore centenária, o falsificador alega que usou um documento de 1500 como tela e a tampa de uma carteira de escola da época vitoriana na de trás do desenho.

Especialistas dividem-se

"La Bella Principessa" foi vendido sem autoria conhecida num leilão da Christie's, em Nova Iorque, em 1998, por cerca de 31 mil euros. Nove anos depois, em 2007, mudou de mãos pelo mesmo valor, aproximadamente. E tudo mudou em 2008, segundo o Quarz. Peter Silverman, um colecionador canadiano que afirmava ser amigo do novo dono, disse ter visto a pintura numa gaveta e achou que podia ter sido obra de Leonardo Da Vinci.

A história estava afinal mal contada como o próprio veio a admitir pouco tempo depois. Peter Silverman viu a pintura muito antes, em 1998, numa galeria de arte em Nova Iorque e comprou-a em nome de um colecionar suíço que pretende manter-se anónimo.

É que aqui que entram os especialistas, e as suas divergências. Martin Kemp e Pascal Cotte, um professor de Oxford e o fundador da Lumière Technology para a digitalização de arte, respetivamente, defendem que esta é uma obra de Da Vinci.

Por outro lado, Pietro C. Marani, o homem que liderou o restauro de "A Última Ceia", contesta que Da Vinci possa ser o autor da obra. "Não encontrei neste desenho nada que seja compatível com a técnica ou estilo de Leonardo. E Carmen Bambach, do Metropolitan Museum of Art, em Na Iorque também assegura que o quadro "não parece de Leonardo".

O debate está aberto e apesar de não haver uma conclusão, "La Bella Principessa" já foi apresentado em galerias de arte italianas como sendo obra de Leonardo Da Vinci (1452-1519).

Martin Kemp diz que há testes que provam que o quadro tem pelo menos 250 anos e escreveu um livro sobre o assunto, defendendo que a sua autoria deve ser atribuída a Da Vinci ("La Bella Principessa: The Profile Portrait of a Milanese Woman - The Story of the New Masterpiece de Leonardo Da Vinci"). E já veio dizer que Greenhalgh "não pode ser levado a sério".

O falsificador assegura que usou pigmentos de materiais velhos para fazer giz e tintas usados no desenho -- barro e carvão de árvores centenárias. Estes ingredientes podem enganar os testes, afiança o historiador de arte Waldemar Januszczak, autor do livro de Shaun Greenhalgh.

Peter Silverman, o autor da descoberta do desenho, lançou ontem um repto ao pintor-falsificador num frente a frente com Shau Greenhalgh: "Ofereço 10 mil libras ao falsificador para replicar a obra diante de um comitée de peritos".

Retrato de um falsificador

Greenhalgh, de 54 anos, transporta caixotes do lixo e é, segundo o jornal britânico "Daily Mail", um "falsificador brilhante" que mostrou as suas qualidades ainda na primária quando vendeu potes da época vitoriana por cinco libras (sete euros). Mais tarde, começou a trabalhar numa biblioteca. Abria os livros da secção de artes onde estavam descritas obras de arte perdidas e copiava-as, contou.

Foi condenado a prisão em 2007 por forjar, entre outras peças, uma escultura egípcia que foi comprada pela câmara de Bolton por 440 mil libras (625 mil euros). Tinha sido feita, afinal, no jardim da sua casa. Os pais, George e Olive, eram cúmplices. Calcula-se que as falsificações terão rendido qualquer coisa como 1,2 milhões de euros. Além desta peça, falsificou antiguidades romanas e uma obra de Paul Gauguin, com que enganou o historiador de arte Waldemar Januszczak, que agora co-assina a sua biografia.

A falsa estátua egípcia do Museu de Bolton chegou, no entanto, a um museu. Foi exibida em 2011 numa exposição de obras falsas no Victoria & Albert Museum. Pertence à Polícia de Londres

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