Já foram gastos mais de 250 mil euros em estudos para reformar o Sistema de Segurança Interna desde 2006, mas até agora pouco do sugerido passou à prática. Três estudos, resoluções do Conselho de Ministros, uma portaria e várias teses académicas depois só se avançou com a criação de um secretário-geral de Segurança Interna, com dificuldades em articular forças e serviços dispersos por várias tutelas e sem um sistema de informações comum. Permanece a discussão sobre qual o modelo ideal. .A reforma do Sistema de Segurança Interna (SSI) começou a desenhar-se ainda no primeiro Governo de Sócrates, com o Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado (PRACE), que visava reorganizar e aliviar as estruturas da administração central. Ainda em 2005, o Ministério da Administração Interna (MAI), pela voz de António Costa, encomendou à empresa Accenture um estudo sobre a racionalização de estruturas da GNR e da PSP. Pagou 174 240 euros mais IVA. O estudo acabou por merecer críticas por ter uma visão demasiado economicista da reforma..Simultaneamente, encomendou um outro, para a reforma do modelo de segurança interna, ao Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), então dirigido por Severiano Teixeira, que veio depois a ser ministro da Defesa. Pagou 72 500 euros acrescidos de IVA. E o estudo, tal como explica o seu enunciado, apenas indica cenários a seguir, não fazendo conta aos custos da reforma. Paralelamente, o Gabinete Coordenador de Segurança estudava a forma de reestruturar as áreas de responsabilidade da PSP e da GNR..Os resultados foram conhecidos no final de 2006 e vertidos em duas resoluções do Conselho de Ministros meses depois. O SSI "é fruto de uma conjuntura internacional e interna ultrapassada [...] gerando omissões, sobreposições e zonas de indefinição", refere uma das resoluções. Com o estudo da Accenture a pedir cortes nas estruturas e o do IPRI a sugerir três modelos policiais distintos (ver caixas acima), o Governo acabou por rever as leis de Organização Criminal e de Segurança Interna - da qual nasceu, em 2008, o secretário-geral de Segurança Interna (o primeiro foi Mário Mendes) para "velar pela boa coordenação, cooperação e partilha de informações entre os órgãos de polícia criminal". Mas sem um sistema de informações comum e com as polícias dispersas por várias tutelas, a missão revelou-se quase impossível. Até Mário Mendes o admitiu numa entrevista em 2010.."A verdade é que por força da Constituição, da Lei da Defesa Nacional e da Lei de Segurança Interna continua-se a ter uma visão compartimentada da segurança, entre defesa nacional e segurança interna, não tendo havido ainda a coragem para a implementação de um sistema global integrado de Segurança Nacional", opina o coronel Carlos Branco no livro Guarda Nacional Republicana - Contradições e Ambiguidades..À mesma conclusão chegaram elementos das forças de segurança que recentemente fizeram trabalhos académicos - que não custaram dinheiro ao MAI - já assentes no estudo do IPRI. .No caso do estudo do atual diretor nacional adjunto da PSP, Ferreira de Oliveira critica o facto de as mudanças legislativas a nível territorial deixarem a PSP e a GNR com a mesma autonomia e posição no sistema. "Este processo de reforma foi mais uma vez enformado por uma falta de visão de conjunto, um desfasamento entre a lei e o real funcionamento" do SSI..Já o major Pedro Moleirinho considera que "as vulnerabilidades podem ser minimizadas através de um enquadramento jurídico que considere globalmente este fim do Estado". No trabalho académico por si assinado propõe a criação de uma Unidade de Missão para a Coordenação do SSI, composta também por elementos da Defesa Nacional e da Proteção Civil, que começasse por identificar a coordenação no sistema. "Esta unidade ficaria na direta dependência do primeiro-ministro e poderia evoluir para uma secretaria de Estado com dependência a definir", diz. .Todos estes estudos serviram de base à equipa do PSD, que optou pela criação da Polícia Nacional, à semelhança de um dos três cenários propostos pelo IPRI e que chegou a constar no programa eleitoral.