"Espero estar no MotoGP em breve. Penso muito em ser campeão do mundo"

Com um discurso muito ambicioso, o jovem piloto diz que tenciona chegar à categoria rainha do motociclismo e sagrar-se campeão. E sublinha que é a experiência a separá-lo de Rossi ou Lorenzo
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Começou em criança no distrito de Setúbal, onde ganhou a primeira corrida. E chegou muito novo ao Mundial de motociclismo. Como se lida com a pressão de competir e ganhar desde cedo?

Quando comecei, com 9 anos, nada se traduzia em pressão. Era apenas uma corrida e queria ganhar aos outros meninos. Acabava por ser na base da diversão.

Para muitos é uma esperança do desporto português. Vê-se como um potencial ídolo do país?

Na minha modalidade, já sou e tornei-me muito cedo a referência.

Mas imagina-se com o estatuto de Cristiano Ronaldo, Nelson Évora, Rui Costa ou Ricardinho?

No ano passado fui considerado o atleta do ano e estavam outros grandes atletas nomeados. Foi o público a decidir. E estive nomeado para os Globos de Ouro juntamente com Cristiano Ronaldo, Nelson Évora, Fernando Pimenta. Ponho--me forçosamente nesse patamar.

Após cinco anos no Moto3, que balanço faz?

Mais do que positivo. Por tudo. Pelas vitórias, por ter lutado pelo campeonato e por ter sido o culminar de anos de trabalho com uma moto boa e uma equipa de topo. Os resultados apareceram e era isso que esperava há algum tempo. Dificilmente vou esquecer.

Como é que está a ser esta adaptação ao Moto2? O que mudou?

Mudou bastante. A moto é mais potente, pesada, muito mais larga em termos de pneus, é difícil encontrar a tração - gerir o acelerador porque não temos controlo de tração, levantar a moto mais com o corpo -, e isso exige muito fisicamente. Alterei um pouco a preparação para ter mais força. E as corridas acabam por ser mais complicadas de gerir: um erro paga-se muito caro.

Como é que está a ser a convivência com Danny Kent?

Está a ser boa. Quando temos um companheiro que é rápido, influencia um pouco a nossa progressão e faz-nos andar mais rápido. Mas não é o único concorrente, tenho outros trinta com que me preocupar.

Sente-se espicaçado por ter um colega de equipa com quem disputou o título de Moto3?

Eu não, ele não sei [risos].

Li uma declaração sua em que dizia que preferia cair a procurar um bom resultado do que jogar à defesa. É esta a sua filosofia?

Sim, mas depende da altura. Quando vejo que é possível uma coisa boa, vou atrás dela. Logicamente, se estivesse a lutar por uma posição de topo no campeonato, acalmava-me um pouco mais.

Nem todos os pilotos pensam assim...

Em qualquer desporto é a ambição que nos faz andar para a frente. Naquela corrida [GP Espanha] não era altura de fazer isso, era de descobrir um pouco o limite.

Este ano é para descobrir limites e o próximo será o de afirmação?

Preferia que fosse ainda este ano o ano de afirmação.

Quer chegar ao MotoGP?

Sim. É possível, tem muito que ver com os resultados. Não conseguimos comprar com um patrocínio um lugar numa equipa de topo, de fábrica. Os resultados vão ditar a minha entrada no MotoGP e espero que esteja para breve.

Na próxima época?

É cedo para falar, mas o ano que vem, curiosamente, é um dos anos em que quase nenhum piloto tem contrato renovado e há muitas oportunidades de entrada, mas há outros pilotos que também ambicionam subir.

Já foi contactado para dar o salto para o MotoGP?

Sim. Inclusivamente, no ano passado, já houve a abordagem, mas não era aquilo que eu queria.

Só quer subir quando tiver condições para ser competitivo?

Exatamente.

É um sonho correr ao lado ou contra o seu ídolo, Valentino Rossi?

Sim, contra ele, sim. Acaba por ser um papel estranho que ao longo do tempo vamos aceitando: que ele acaba por ser um como os outros.

E ser campeão no MotoGP? Acredita que está ao seu alcance?

Penso muito nisso. Não todos os dias, mas é o objetivo máximo de qualquer piloto.

Além da experiência, o que é que o separa de pilotos como Rossi, Jorge Lorenzo ou Marc Márquez?

Acho que é só experiência. Logicamente, eles já têm muitos títulos no bolso, eu ainda não. Talvez me faltasse um título. Mas o título também não diz muita coisa, é mesmo experiência. Em 2015 não fui campeão, e sei tanto ou mais quanto o campeão.

A temporada passada terminou com polémica e cenas feias. Como analisa os incidentes e as picardias entre Rossi, Márquez e Lorenzo?

Houve algumas corridas em que se ficou na dúvida se o Márquez estaria ou não a dar os 100%. O Rossi quis começar a fazer um jogo mental e acho que se meteu num sítio onde não devia. O que ele quis dizer foi "se eu não ganhar o campeonato, não foi por minha culpa, foi por culpa de outros". Ninguém teve razão. Houve lutas em pista que não foram muito limpas.

Se estivesse no lugar de Rossi teria resistido àquela patada?

Nunca me imaginei nessa situação e é difícil para uma pessoa de fora pôr-se nela.

Fora das motos, como é que é o seu dia-a-dia? O que é que gosta de fazer?

Acabo por dedicar-me muito à minha preparação física e a tudo o que seja relacionado com andar de moto. Acaba por ser o escape fora das corridas, é a minha rotina. O motociclismo tem um nível tão elevado e profissional, que andamos sempre a treinar. O último classificado está muito bem preparado.

Consegue conciliar as motos com os estudos?

É muito complicado. O curso de Medicina Dentária exige muito tempo para irmos às aulas práticas. E sem a prática não podemos ir ao exame, não é um curso que possa estudar em casa ou no avião e ir lá na época de exames. Não dá para fazer as duas coisas a 100%.

Gostava de exercer depois de acabar a carreira?

Sempre pensei no curso como um plano B porque as motos não duram para sempre. Talvez no futuro possa acabar o curso e exercer.

Qual é o papel da família no meio disto tudo?

É muito importante, está muito presente na minha vida, principalmente a lidar com os maus resultados. Quando ganhamos temos sempre muitas pessoas com quem celebrar. Quando se perde, não há muita gente a ligar nem a mandar mensagens.

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