A revista Nature publica hoje a descoberta de uma nova técnica que permitiu pela primeira vez a descodificação de todo o mapa genético do vírus HIV, que dá origem à sida, permitindo que os cientistas tenham uma "visão geral" desse genoma e abrindo caminho a novos tratamentos.."É uma mais valia, mas é um pequeno passo. É mais uma pecinha do puzzle, não é uma descoberta fundamental", disse à Lusa o virologista do Instituto Ricardo Jorge..Quanto à possibilidade de a descoberta contribuir para nova medicação, o virologista português mostou-se mais céptico, considerando que esta só deverá aparecer dentro de 12 a 15 anos..Jaime Nina adiantou ainda que a descoberta tem "alguma importância na medida em que vai ajudar a visualizar a distribuição de receptores de superfície do vírus". ."Sabendo que neste momento já existe em Portugal uma classe de medicamentos que actuam como inibidores de entrada do vírus, poder ver isso em tempo real é uma coisa importante", referiu o virulogista..De acordo com a Nature, a técnica pode conduzir a tratamentos, não só para a sida, mas também contra outros vírus, como os das gripes, disseram os investigadores.."Estamos esperançados de que a técnica abrirá muitas novas oportunidades para a descoberta de medicamentos", disse Kevin Weeks, o investigador da Universidade da Carolina do Norte (Estados Unidos) que comandou a pesquisa.."Há muitas coisas que podemos tentar", acrescentou..O vírus HIV/sida integra os chamados RNA-vírus, tal como os vírus da influenza (gripe), da poliomielite e da constipação comum. Isso significa que o seu genoma se compõe de RNA, e não de DNA..O DNA depende de blocos chamados nucleotídeos, que transmitem a informação sobre duas tiras. Essas unidades básicas são identificadas pelas letras A, C, T e G. Já o RNA tem apenas uma tira e depende, não só dos nucleotídeos, mas também de um complexo padrão de dobras para transmitir a informação..A equipa de Weeks desenvolveu um novo método químico chamado Shape ("forma"), que forma cria imagem, não só dos nucleotídeos do RNA, mas também das formas e dobras da tira de RNA..Os métodos de imagens usados até agora, como a cristalografia por raios-X, capturam a posição precisa de cada átomo, mas só numa pequena área de cada vez. O Shape obtém uma visão mais geral, mas não a nível atómico, explicou Weeks.."A técnica é parecida com a acção de reduzir o zoom de um mapa e obter uma visão mais ampla da paisagem, se bem que à custa dos detalhes", escreveu Hashim Al Hashimi, da Universidade de Michigan, num comentário sobre a descoberta, que foi publicada na revista Nature..Os RNA-vírus são especialmente difíceis de aniquilar e a nova técnica pode permitir novas abordagens. "A curto prazo, a descoberta quase de certeza que vai tornar mais fácil desenvolver medicamentos para lidar com os RNA".