Entre missangas e metralhadoras

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Mítico reino da rainha do Sabá, que André Malraux tentou encontrar numa viagem de avião e registou em livro; pátria do prestes João, da qual se esperavam notícias na Lisboa de Quatrocentos; país de Hailé Selassié, espécie de deus para os rastafari que a música reggae mundializou; a Etiópia é um dos mais antigos estados independentes e soberanos do mundo. Mosaico de quase 70 milhões de habitantes, com 45 etnias e 80 línguas, cristãos coptas e muçulmanos, animistas e judeus falachas, o país está dividido em sete regiões, uma das quais é a das Nações, Nacionalidades e Povos do Sul. E foi por aqui que se entusiasmou a câmara do fotógrafo Pavel Wolberg. Registou as caras pintadas dos karo, as mulheres mursi com uma espécie de prato de madeira a esticar-lhes o lábio inferior, as palhotas e as casas de adobe, os colares dos elbore e as peles dos geleb, os panos coloridos e as pulseiras de metal. E, no entanto, o que mais impressiona nas imagens é que, se as missangas de ancestral orgulho e identidade não disfarçam a pobreza, a modernidade das metralhadoras espelha bem a hipocrisia dos que lhas distribuem. Só falta dizer que aquele é - dizem - o povo do rei Salomão. |- F. M. e PAVEL WOLBERG-EPA (imagem)

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