São da Península Itálica, mas vêm cantar a península que lhes fica a Ocidente. Chamam-se Micrologus, dedicam-se à música (muito) antiga e este fim de tarde (19.00), no Grande Auditório da Gulbenkian, irão desfiar um "rosário" de catorze Cantigas de Santa Maria, essa histórica colecção de 419 canções de devoção à Virgem escritas em galego-português (considerada à época a língua aristocrática por excelência e a mais apta à poesia) e compilada - e várias delas mesmo escritas - por Afonso X, o Sábio, rei de Leão e Castela (1221-1284, rei a partir de 1252). Os códices onde estão conservadas guardam-se na Biblioteca do Escorial..Os Micrologus remontam já a 1984 e, se partilham o prestígio de muitos agrupamentos e orquestras de música antiga italianas, diferem destes pelo repertório que praticam a música barroca, estes, a medieval, eles. E fazem-na usando de todas as estratégias para poderem conhecer o melhor possível o repertório que abordam. Desta forma, os seus concertos são propostas muito verosímeis, talvez mesmo muito aproximadas do que era a performance desta música no tempo em que foi composta..Hoje, os dez elementos dos Micrologus surgirão em palco com uma panóplia de instrumentos de época, alguns deles (re)construídos (réplicas) a partir de descrições ou fontes iconográficas. Serão, ao todo, 23 instrumentos, aos quais se junta a voz humana, o que permitirá obter uma imagem aural bastante aproximada do que era a música da corte tolerante e multicultural de Afonso X, onde conviviam eruditos e artistas cristãos (castelhanos, portugueses, provençais), judeus e muçulmanos. Todos aqui unidos em prol do culto mariano.