Enfim, um gatuno com cara de gente

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Ontem, Isabel Paulo, jornalista do Expresso, escreveu sobre a Quina. O cartão de vista desta deveria ser "Quina Carteirista, 85 anos", tudo dito. Entretanto, em cada Queima das Fitas do Porto, lá está ela nos noticiários: apanhada com a mão na massa dos outros. No ano passado, a vítima, de 92 anos, perdoou-lhe, já no Tribunal de Pequena Instância do Porto. É isto o que não se entende na justiça portuguesa: um crime envolvendo 186 anos é considerado menor... Este ano, na rua onde mora a Quina, já se faziam apostas: volta ela ou não à Queima da Fitas? "Ganharam os que porfiavam que sim", disse uma vizinha. Só por esse falar tão limpo já valia a reportagem. Então, lá voltou Quina ao cortejo dos estudantes (dos colegas, enfim: nos anos 50, havia uma "universidade da Areosa", onde os carteiristas faziam exame em manequins com guizos). Desta vez, a vítima podia ser sua filha: uma avó distraída pela formatura da neta. Quina nega: "Sou uma desgraçada com esta fama por causa do ladrão do meu marido, o Queiroga." Divorciou-se dele, apesar dos pedidos de quem os casou, "o padre Américo" - o dos rapazes (e pelos vistos, os maridos) nunca serem maus. A maioria dos comentadores do Expresso online, ontem, protestava contra a boa reportagem e exigia, isso sim, tudinho sobre os Papéis do Panamá! Sem ironia, há um problema com os leitores: dão-lhes gente, como a Quina, e querem que um jornal lhes cure a azia social, política e económica.

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