Empresas não vão para a Holanda "por gostarem de tulipas"

As empresas portuguesas que abriram subsidiárias financeiras na Holanda têm essencialmente motivações fiscais, disse à Lusa o eurodeputado Rui Tavares, ironizando que não é "por gostarem de tulipas".
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Várias empresas têm negado que a abertura de sucursais na Holanda tenha por objetivo pagar menos impostos, preferindo falar na estabilidade do sistema fiscal ou no acesso a melhores condições de financiamento.

"E é também porque gostam de tulipas e de ir ao museu Van Gogh e de olhar para moinhos de vento e de ver os diques...", ironiza Tavares, eleito para o Parlamento Europeu nas listas do Bloco de Esquerda e atualmente integrado no grupo dos Verdes.

"As empresas que foram para a Holanda são parte interessada neste debate, não estou à espera que sejam mais honestas intelectualmente que fiscalmente", afirma Tavares.

O debate a que o eurodeputado se refere foi lançado no início deste mês pela venda de 56 por cento do capital da Jerónimo Martins pelo seu principal acionista a uma filial holandesa. Segundo um levantamento do jornal Público, 19 das 20 maiores empresas cotadas em Portugal têm subsidiárias na Holanda.

Em conjunto com o eurodeputado holandês Bas Eickhout, Tavares enviou duas perguntas à Comissão Europeia sobre os efeitos da "competição fiscal" de países como a Holanda, o Luxemburgo ou a Irlanda sobre outros estados-membros da União.

Tavares frisa a "relevância" de a iniciativa parlamentar ter sido feita em conjunto com um eurodeputado holandês.

"Fiz no Parlamento Europeu um trabalho pedagógico com os meus colegas, para lhes explicar que os nossos problemas também são causados por eles", diz Tavares.

"É possível falar com [líderes políticos] holandeses ou alemães, e explicar-lhes que, se deixarmos que a zona euro se converta numa espécie de carrossel de fuga fiscal, a situação não será sustentável a curto prazo para nós, mas a médio e longo prazo não será sustentável para eles também", acrescenta.

O eurodeputado português frisa que o propósito da sua iniciativa não é pôr em cheque a Holanda, mas antes criar alianças com "gente que possa explicar ao eleitor holandês o que se está a passar" na crise financeira europeia.

"O que os eleitores holandeses ou alemães têm ouvido dizer é que os portugueses foram irresponsáveis, e que eles nos estão a salvar. Temos de lhes explicar que não é assim, que [países como a Holanda ou o Luxemburgo] têm práticas fiscais que prejudicam a estabilidade da zona euro", conclui Tavares.

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