Aqui, os homens do Planeta Terra colocaram pela terceira vez os pés na Lua, janeiro de 1971. Que o futuro guie os caminhos da Humanidade". Estas são palavras que repousam há mais de 51 anos a 384 mil Km de distância de casa, na região Fra Mauro, nas terras-altas do satélite natural da Terra. A placa deixada pelos astronautas norte-americanos Alan Shepard e Edgar Mitchell, respetivamente o quinto e sexto homens a caminharem na Lua, assinala o local da alunagem do módulo Antares. Às 9h18 de 5 de fevereiro o engenho espacial tocou no solo arenoso da cratera batizada em homenagem ao monge e cartógrafo veneziano do século XV que, entre outros trabalhos, cartografou, em 1459, o velho mundo para o rei Afonso V de Portugal. Mais de 300 anos volvidos, naquele ano de 1971, a missão Apollo 14 concretizava uma vez mais o sonho antigo da humanidade, o de visitar a Lua. A dupla de astronautas caminhou 3,3 Km e recolheu cerca de 43 Kg de material lunar. À parte todas as conquistas científicas atribuíveis à missão Apollo 14, concretizada entre 31 de janeiro e 9 de fevereiro de 1971, um episódio singular marcaria a narrativa futura daquela empresa. Pela primeira e única vez na história, um astronauta jogou golfe num campo lunar..Havia anos que Alan Shepard preparava a sua façanha sobre a poeira lunar. O astronauta adaptara um taco de golfe a uma ferramenta de recolha de amostras do solo. Shepard incluíra duas bolas de golfe nos artefactos pessoais que lhe eram permitidos carregar desde a Terra. Na Lua, o astronauta concluiu o seu projeto. As filmagens da época atestam as duas tacadas nas bolas. Esforço que mereceu de Shepard um comentário: "milhas e milhas e milhas", numa referência ao voo do par de objetos que progrediu sem encontrar resistência na baixa gravidade da Lua, perto de um sexto daquela encontrada na Terra. Em 2021, para comemorar o 50.º aniversário do feito da Apollo 14, o especialista em imagens Andy Saunders, calculou digitalmente a distância percorrida pelas duas bolas arremessadas por Shepard, para concluir que as "milhas e milhas" pecaram por excesso de otimismo: as duas tacadas lunares do astronauta alcançaram os 21 e 40 metros respetivamente..Um terceiro astronauta embarcou na missão Apollo 14. A pilotar o módulo de comando da missão estava Stuart Roosa que, por mais de 33 horas, avistou solitário a Lua, ao correr das 34 órbitas que fez ao satélite natural a bordo do Kitty Hawk. Apesar de não protagonizar um feito mediático como o do colega Shepard ao jogar golfe lunar, Roosa, mais discreto, zelava por matéria-prima frágil que incluíra nos haveres pessoais autorizados a bordo do engenho espacial. O astronauta, nascido em 1933, servira como engenheiro aeronáutico e piloto da força aérea, assim como experiência anterior nas funções de bombeiro florestal paraquedista. Na década de 1950, Stuart Roosa esteve entre os pioneiros na elite dos smokejumpers, bombeiros na primeira linha de combate aos grandes fogos nas florestas dos Estados Unidos. Um contexto que levou o futuro astronauta a estabelecer amizades nos serviços florestais e a perceber a importância de preservar os ecossistemas. Em 1971, ao embarcar para a missão Apollo 14, Roosa transportava na sua bolsa pessoal perto de 500 sementes de cinco espécies de árvores: pinheiro loblolly, sicómoro, sapota, pau-brasil e abeto-de-Douglas. Os espécimes, entregues por Ed Cliff, chefe dos Serviços Florestais dos Estados Unidos, iniciavam no espaço uma aventura de décadas que teria como nome de batismo "árvores da Lua"..Regressadas à terra, as sementes foram sujeitas ao protocolo de descontaminação e, mais tarde, remetidas para os serviços florestais do Mississippi e da Califórnia. Pendia a pergunta se as sementes entregues ao ambiente do espaço poderiam vingar na Terra. A cada semente enviada para a baixa gravidade do módulo lunar, correspondia uma congénere deixada na Terra que serviria como futuro exemplar de controlo. Das perto de 500 sementes espaciais, 420 viriam a germinar com sucesso. Em 1975, centenas de jovens árvores estavam prontas a embarcar para uma nova viagem, desta feita entregues a organismos florestais estaduais como forma de comemorar, em 1976, o bicentenário do nascimento dos Estados Unidos. Ainda na década de 1970, "árvores da Lua" foram enviadas para o Brasil, Suíça, Itália, Inglaterra, Alemanha e Espanha. Uma história que, contudo, o tempo apagaria das memórias..Eis que, em 1996, uma professora do estado do Indiana, numa saída de campo com os seus alunos, encontrou rente a uma árvore uma discreta placa comemorativa. Ali vingara e crescera uma "árvore da Lua". A curiosidade da professora materializou-se num e-mail endereçado à NASA, às mãos do cientista aerospacial Dave Williams. Intrigado, Williams consultou a imprensa da década de 1970 para rastrear os possíveis paradeiros das árvores herdeiras das sementes espaciais. O cientista juntou à sua demanda um pedido online: que todos os que encontrassem uma placa comemorativa de "árvore da Lua", indicassem o local. No início da década de 2000, Williams coletara 22 localizações. Centenas de árvores permaneciam esquecidas. Em 2011, os esforços do cientista mereceram a atenção da revista Wired, no artigo "The Mistery of the Missing Moon Trees" ("O Mistério das Árvores da Lua Desaparecidas"). Em breve, dezenas de relatos chegavam de diferentes pontos dos Estados Unidos. Perto de cem árvores - ou as respetivas placas - foram encontradas. Uma trintena de árvores sucumbira ao tempo ou fora abatida. Mais de 40 anos volvidos, as árvores sobreviventes não apresentavam diferenças face às congéneres que não conheceram o ambiente espacial..Atualmente, a Moon Tree Foundation, dirigida por Rosemary, filha de Stuart Roosa, empenha-se em plantar "árvores lunares" em todo o mundo, a partir de sementes herdeiras da geração que orbitou a Lua. Também a American Heritage Tree disponibiliza para venda online de sementes descendentes das pioneiras espaciais, assim como exemplares herdeiros de choupos e tulipas plantados por George Washington em 1795..Duas edições originais do Mapa Mundi saíram na década de 1450 do estúdio do monge e cartógrafo veneziano Fra Mauro. Uma destinou-se ao órgão que governava a República de Veneza. Mapa que ainda subsiste. Outra edição, concluída a 24 de abril de 1459, viajou até Portugal sob encomenda do monarca Afonso V. A peça esteve em exibição no Paço Real do Castelo de São Jorge, em Lisboa, até 1494. Após essa data, o mapa desapareceu. Com base no exemplar sobrevivente, sabe-se que o planisfério detalhava a Ásia, o Oceano Índico, a África, a Europa e o Atlântico, além de 3000 textos descritivos..dnot@dn.pt