Ele já foi o mais jovem milionário do mundo

A empresa que dirige nasceu no quarto do dormitório da universidade, e nove anos depois a companhia era uma das 500 maiores do mundo. Saiu, mas decidiu voltar para retomar os lucros.<br />
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Nos primeiros anos do século XXI, Michael Dell envolveu-se nu-ma discussão pública com Steve Jobs sobre o tema favorito de ambos: computadores. O dono da Apple dizia que a empresa de Dell só fazia caixas beges, o milionário e filantropo que acaba de comprar o catálogo impresso da agência Magnum (ver caixa) respondeu que, se fosse dono da empresa rival, fechava-a e distribuía o que sobrasse pelos accionistas. Pensar que o primeiro computador em que tocou foi precisamente um Apple é quase inimaginável. Mas aconteceu.

Michael Dell tinha 15 anos, estávamos nos anos 80, e o estudante desmontou-o e reconstruiu-o. Era o princípio de um negócio avaliado hoje em 12,3 mil milhões de dólares.

O número é da lista dos mais ricos elaborada anualmente pela revista norte-americana Forbes. Michael Dell, que fará 45 anos no dia 23, ocupa o 25.º lugar. É dono do fabricante de computadores com o seu apelido e tem um percurso que contraria a sociologia. Aban-donou os estudos universitários aos 19 anos para iniciar o seu negócio, contra a vontade dos pais, um dentista e uma corretora da bolsa que ambicionavam ter um filho mé-dico.

A empresa começou no quarto do dormitório da universidade com mil dólares e seis meses depois facturava 80 mil dólares, dizem as suas biografias.

A ascensão é de tal forma fulgurante que ele próprio ensaiou escrever um livro sobre a sua vida. Publicou uma obra parcialmente autobiográfica, Direct From Dell: Strategies That Revolutionized an Industry, em que explica como multiplicou os mil dólares em cem milhões.

A primeira empresa, PC's Limited, surpreendeu o mercado por ser muito inovadora. Michael Dell construía e vendia computadores pessoais, sem intermediários e directamente aos clientes. Máquinas totalmente personalizadas à medida do cliente.

Sem lojas nem intermediários, os preços eram muito mais baixos do que os da concorrência. As vendas eram feitas directamente, pelo telefone e, actualmente, pela Internet. "O nosso negócio é de tecnologia, sim, mas é também sobre operações e relações com os clientes", resumiu numa entrevista.

A empresa que lidera sofreu sucessivas transformações. Em traços gerais, de PC's Limited para Dell Computer Corporation. Em 1992, a companhia fazia parte da lista das 500 maiores empresas do mundo, segundo a revista Fortune. E Michael Dell era então o mais jovem presidente do conselho de administração de empresas desta reduzido grupo.

Hoje a companhia chama-se Dell Inc. e estendeu o negócio ao entretenimento em casa e outros aparelhos. Dell continua a ser um dos mais jovens milionários da lista.

E se bem que o percurso académico não é brilhante - no liceu não foi mais do que um aluno mediano - o seu faro para os negócios foi desde logo notado. Aos 12 anos amealhou uma significativa quantia a vender e trocar selos pelo correio. Anos mais tarde, já na escola secundária comprou um carro e três computadores com o dinheiro que ganhou a vender assinaturas do jornal Houston Post, a cidade do estado do Texas onde nasceu e cresceu, filho de um dentista e de uma corretora da bolsa.

Michael Saul Dell continua a viver no Texas, mas na cidade de Austin, com a mulher, Susan, e os quatro filhos, duas raparigas e um casal de gémeos. Chamam a atenção pela casa em vivem, uma das maiores da cidade e considerada uma das 15 maiores do mundo.

O casal é conhecido pelas obras filantrópicas, através da sua fundanção, a Michael and Susan Dell Foundation, cujo objectivo é melhorar a vida de crianças nos Estados Unidos e fora de portas. "Educação de qualidade e saúde para as crianças. Reconhecemos que estas questões estão intimamente ligadas. Se as crianças tiverem ferramentas para tomar conta dos seus corpos, o seu potencial para o sucesso aumenta imensamente", referiu o casal milionário numa carta que define os princípios da instituição.

Como filantropos, doaram 50 milhões de dólares à universidade da cidade para a saúde e educação, em 2006. O dinheiro serviu para construir novas alas no hospital de Austin. Michael Dell acumula funções como presidente do Council of Advisors on Science and Technology, enquanto a mulher preside o Council on Physical Fitness and Sports.

Dell e a mulher são também reconhecidos republicanos. Na segun-da candidatura de George W. Bush à presidência dos Estados Unidos foram uma das 53 entidades que doaram o máximo permitido pela lei americana: 250 mil dólares.

No percurso de Michael Dell há também uma saída de cena e um regresso. Para se concentrar no seu trabalho benemérito, renunciou ao cargo de presidente do conselho de administração da Dell Inc. em 2004, ficando apenas com assento de chairman of the board, mas enquanto se dedicava ao seu trabalho de filantropia, os resultados da empresa caíram para segundo lugar - 2006 foi o ano em que a Apple ultrapassou pela primeira vez a Dell.

O gestor voltou em 2007 para retomar a liderança (à semelhança do que tinha acontecido anos antes com o presidente do conselho de administração da Apple, Steve Jobs). No fim desse ano anunciou uma novo e potente notebook, o Ispiron 8000. E as mudanças não se ficaram por aqui.

Contrariando uma estratégia de anos, a Dell começou a vender os seus computadores em grandes superfícies como as cadeias norte- -americanas Wal-Mart e o Sam's Club, ao mesmo tempo que se lançava no mercado chinês, e abriu as portas a software que não tinha a marca da Microsoft. Resultados no final de 2008: 60 mil milhões de dólares. Um novo recorde para a companhia.

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