Ciro Gomes podia ter escolhido uma data qualquer para anunciar a pré-candidatura à presidência da República. Mas o candidato do PDT, manchado ad aeternum por ter respondido "dormir comigo", quando lhe perguntaram em 2002 qual era a função na campanha da sua então mulher, a atriz Patrícia Pillar, e acusado de machismo, já neste ano, ao diminuir a capacidade da rival Marina Silva afirmando que "o Brasil precisa de testosterona", optou pelo simbólico 8 de março, o Dia Internacional da Mulher..Ele, como todos os outros candidatos ao Palácio do Planalto, diretores de institutos de sondagens e observadores em geral, não sabe quem vai ganhar as eleições mais imprevisíveis da história contemporânea do Brasil. Mas sabe, como todos, quem vai decidi-las: elas..Além de serem a maioria dos eleitores - 52%, ou seja, 7,5 milhões a mais do que os homens -, seis em cada dez mulheres responderam em pesquisa de junho do Instituto Ibope que se a eleição fosse naquele dia votariam em branco ou nulo. Acrescenta o Instituto Datafolha que, enquanto apenas 25% dos homens se dizem indecisos, entre elas o número sobe para 41%..Ciro Gomes, o tal das gafes, tem 11% da preferência geral dos brasileiros. Cai a meros 5%, contabilizado apenas o voto feminino..Jair Bolsonaro, que se declarou favorável à diferença salarial entre homens e mulheres por causa da gravidez, disse a uma deputada do PT que só não a estuprava porque ela não merecia e afirmou que, depois de quatro filhos homens, à quinta deu "uma fraquejadinha" e saiu uma mulher, sofre ainda mais do que Ciro. De líder do cenário sem Lula da Silva na equação, com 19%, somados os votos de homens e mulheres, cai para segundo lugar (12%), contabilizadas só as votantes..Por essas e por outras, o capitão do Exército fez das tripas coração para ter uma mulher, Janaína Paschoal, a impetuosa subscritora do impeachment que derrubou Dilma Rousseff, como vice-presidente. Não conseguiu..E, por essas e por outras, Ciro escolheu para vice a inquebrantável Kátia Abreu, célebre por apoiar, com unhas e dentes, a amiga Dilma naquele processo, por liderar o clube muito masculino dos latifundiários brasileiros e, porque não, por um dia ter jogado à cara do senador José Serra um copo de vinho por ele a ter chamado de namoradeira numa festa..Não são os únicos a fazer a corte às mulheres na eleição presidencial..A primeira escolha de Henrique Meirelles, o ministro das Finanças de Michel Temer, cujas tiradas machistas ao longo do seu curto consulado no Planalto fariam corar de vergonha até Ciro e Bolsonaro, era Marta Suplicy, a aristocrata paulistana que foi sexóloga, prefeita de São Paulo e apoiante de Lula até ao dia em que desertou do PT. Mas ela decidiu abandonar a política..Dos principais candidatos, sobra Geraldo Alckmin, que também escolheu uma senhora, a ultraconservadora Ana Amélia, que aplaudiu o povo que disparou tiros contra a caravana de Lula..Sobra também o próprio Lula, que por estar preso e inelegível deve dar lugar a Fernando Haddad e à jovem jornalista comunista Manuela D'Ávila nos boletins de voto - uma espécie de lista tríplex, como lhe chama o PT, fazendo piada com o célebre apartamento que o levou à cadeia..E sobra, claro, Marina Silva, a única mulher com possibilidades reais de chegar ao Planalto..Nunca, como em 2018, houve tantas mulheres (são sete, se somarmos às citadas a líder indígena Sônia Guajajara, do PSOL, a pedagoga Suelene Nascimento, do Patriotas, e a operária Vera Lúcia, do PCTU) candidatas a presidente ou a vice: em 1989 e 1994, havia apenas uma; em 1998 e 2006, duas; em 2002 e 2010, três; e em 2014 seis..Mas já nas duas últimas eleições a força delas se notara: juntas, a vencedora Dilma e a terceira classificada Marina somaram 66,24% dos votos em 2010 e as duas, nas mesmas posições mas acompanhadas desta vez pela quarta classificada Luciana Genro, superaram os 56 milhões de votos, na primeira volta de 2014..Porque Brasil pode até ser substantivo masculino. Mas o lugar aonde toda esta gente quer chegar chama-se Brasília.