Eagles of the Death Metal fazem manifesto pela vida

Depois de dois cancelamentos, os Eagles of Death Metal tocam finalmente em Lisboa. É hoje, no Coliseu. Ir lá é um ato político
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Até 2015, os Eagles of Death Metal tinham uma história. Era uma banda de rock underground, venerada em todo o mundo, mas de dimensão de clube. As personalidades de Jesse Hughes (o nómada do grupo) e de Josh Homme (que não costuma acompanhar a banda ao vivo) davam ao grupo um perfil único. A intermitência era a contrariedade maior, porque havia um tubarão no meio, os Queens of the Stone Age, a quem Josh Homme tinha que dar prioridade. Mas parecia ser um percurso normal, mesmo que de uma banda atípica.

Depois, a 13 de novembro de 2015, quando corria de feição em Paris mais uma celebração do rock & roll à imagem da banda, no pequeno Bataclan um trio de terroristas tem outras ideias e entra em contra-ritmo com a música, através de um baleamento, uma autêntica chacina à frente deles. E atrás deles.

89 mortos depois, com toda a banda a salvo, incluindo Jesse Hughes, a história passa a ser outra. Deixaram de ser a banda do álbum Death by Sexy e de Jesse Hughes e de Josh Homme. Passaram a ser a banda do Bataclan, a banda de rock mais famosa dos noticiários de todo o mundo. Naquela outra história, os Eagles of Death Metal estavam para atuar em dezembro de 2015 no pequenino Armazém F, em Lisboa, na tal digressão manchada de sangue pelo ataque de Bataclan.

O que transformou uma banda de Armazém F numa banda de Coliseu (um crescimento de mais 1000%) em poucas semanas - quando marcaram nova data para 5 de março - foi o efeito mediático do terror - a mesma razão que motivou algumas perguntas do DN à banda, por correio eletrónico, sobre o incontornável acontecimento mas que o grupo pediu posteriormente para não fazermos, tornando a entrevista impossível.

Por ironia, o concerto dos Eagles of Death Metal acontece a 11 de setembro, hoje, 15 anos após o ataque terrorista às Torres Gémeas, em Nova Iorque. É mais um dado fantasmagórico daquele que é o primeiro espetáculo do grupo em Portugal, depois do terror e daquele vendaval mediático.

Ir lá será um ato de coragem mas também uma declaração cívica. Claro que estarão no Coliseu quase todas as dezenas de velhos fãs que teriam marcado presença no Armazém F. Nos dias a seguir ao ataque de Paris, os concertos no Armazém F tiveram uma vigilância policial inédita para que os espectadores reconquistassem a confiança e pudessem apenas preocupar-se em divertirem-se. É muito provável que a minuciosa revista policial à entrada do Coliseu ocorra esta noite e que vários polícias se espalhem pela sala.

Para que o foco volte à música, os Eagles of Death Metal vão ter que ser iguais a si próprios: uns indie-rockers divertidos e caricaturais, alteados pelo figurão do guitarrista Jesse Hughes, fiel ao seu bigodão redneck e aos seus suspensórios. Agora da simbólica capacidade de diversão dos Eagles of Death Metal depende a humanidade. Que o rock continue, para bem de todos.

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